"Já que ela não era uma pessoa triste, procurou continuar como se nada tivesse perdido. Ela não sentiu desespero. Também o que é que ela podia fazer? Pois ela era crônica. Tristeza era luxo." - Clarice Lispector
29 de agosto de 2017
A maioria das pessoas ganha de aniversário um festa, um carro, brincos ou qualquer outra porcaria ou até mesmo nada, já eu... bem, eu ganhei um casamento. No momento estou aqui desesperada para sair de dentro desse quarto e me jogar no primeiro avião de volta para a Grécia.
- Senhorita, respire fundo e prenda a respiração - essas foram as palavras da minha dama de companhia enquanto apertava cada vez mais o espartilho do meu vestido de casamento, senti minhas costelas comprimirem e por um instante pensei que fosse desmaiar, uma lágrima escorreu pelo meu rosto enquanto ela escovava os meus longos fios negros, meus cabelos arrumados em uma cascata de cachos e um véu e grinalda desnecessariamente longo foi preso a ele e minha maquiagem sendo refeita - Senhorita pare de chorar ou sua maquiagem não vai ficar no lugar, por favor de uma olhada no espelho e veja se tem algo de que não gosta para eu refazer - me levantei da banqueta e encarei meu rosto no espelho, eu estava linda, o vestido era perfeito e ainda assim não estava feliz.
- Diga ao ...
- Smith, Andrew Smith - minha dama de companhia me informou o nome do meu futuro esposo.
- Isso, diga ao senhor Andrew Smith que estou pronta - sorri para ela que me olhava com doçura - Obrigada por tudo Anna - segurei em suas mãos e ela me abraçou, um abraço reconfortante e tudo o que eu precisava naquele momento, depois disso saiu do meu aposento me deixando sozinha.
"Se acalme Amanda... é tudo pelo seu irmão, esqueça as ameaças de seu pai" - sussurrei me olhando novamente no espelho, coloquei os saltos e e fui até a janela do castelo sentindo a doce brisa do mar de Istambul, a paisagem era linda e tranquilizante e talvez se fosse em qualquer outra situação eu estaria feliz porem, um casamento forçado em pleno século XXI me deixa angustiada ainda mais pelo fato de que eu nunca vi esse homem na minha vida, apenas meu pai conhece essa família.
- Senhorita Amanda, todos já estão a seu aguardo, seu pai a espera no fim das escadas - caminhei até ela que já me esperava com um buquê de tulipas brancas nas mãos, passei por ela com calma segurando o buquê e desci os degraus da escada com bastante calma, o sorriso do meu pai se alargara de tal forma que cheguei a revirar os olhos com aquilo.
- Você esta linda minha filha! - seus elogios eram sem sentidos perante minha situação.
- Vamos logo papai e lembre-se do nosso combinado.
- Sou um homem de palavra minha filha, vamos logo seu noivo não gosta de esperar.
- Eu espero que o senhor saiba o que esta fazendo... - o véu frontal foi baixado e a marcha nupcial tocou respirei fundo quando as portas da igreja foram abertas e dei o meu primeiro passo trêmulo, corri meus olhos pela igreja enquanto caminhava com o meu pai tranquilamente meus olhos buscavam pela imagem do meu irmão e quando eu estava preste a desistir o vi no canto esquerdo do altar assim como minha mãe, tive que segurar minhas lágrimas novamente pois agora eu tinha um motivo para seguir em frente e não falharia, não quando minha família depende de mim. Em nenhum momento olhei para o homem que me desposaria e só agora me dei conta de seus longo fios dourados presos e seu smoking bordô, meu pai me entregou a ele que delicadamente levantou o véu e pela primeira vez eu vi a face jovial, seus olhos azuis tão distantes,diferentes e profundos ao ponto de me deixar insegura com a forma ao qual contemplava a minha beleza, alisou uma das mechas do meu cabelo e eu me mantive imóvel.
- Vamos querida - sua voz era rouca e forte e suas mãos cobriam as minhas, mesmo num salto 15 eu ainda batia em seu ombro, o padre começou com a cerimônia ao qual não prestei o mínimo de atenção devido ao tanto de problemas que se passavam na minha mente tudo o que eu queria era ter uma escolha, viver a minha vida e tirar os meus planos do papel ao invés disso estou aqui nessa situação ridícula. Porque eu? Justamente eu...? O ressentimento latejava em minha cabeça.
- Minha jovem qual é a sua resposta, aceita ou não aceita esse homem como seu legítimo esposo? - as palavras do padre trouxeram a minha mais nova realidade a tona, eu Amanda Monteiro estou prestes a me casar com um homem que nunca vi na minha vida e assim mudar o destino daqueles que tanto amo, não haveria arrependimentos e muito mesmos perdão para o acordo que aceitei...
- Sim eu aceito - respirei fundo sentindo o peso do mundo comprimir o meu pequeno corpo e perto dessa sensação o espartilho não era nada.
- Pelos poderes a mim concedidos, eu vos declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva - meu coração acelerou com aquelas palavras e sem pensar duas vezes o homem a qual desconheço tomou meus lábios num selar e depois se afastou contemplando a minha face desdenhosa e envergonhada.
- Acostume-se mulher, a partir de hoje você me pertence - suas palavras ecoaram em minha mente enquanto eu continha minhas lágrimas, me perguntando se eu seria mesmo capaz de tudo pela vida daqueles que amo.