Isso não é uma carta de amor. Afinal, quantas te escrevi, sem você jamais ter lido? De quantas maneiras expressei esse sentimento, sem você ao menos ter percebido? Mas, ainda assim, eu me apaixonei por você. Profunda e verdadeiramente.
Às vezes me pego pensando como “eu e você” viraríamos um “nós”. Iríamos ao cinema? Você me observaria dormir? Eu roubaria suas blusas de frio como fazia na escola? Dividiríamos os fones de ouvido? Você me amaria? São mistérios que jamais terão solução, porque não se pode dar uma resposta a uma pergunta que nunca foi feita. “Nós” nunca fomos reais, mesmo que essa ilusão tenha enfeitado meu coração por muito tempo. Existiu mais de “eu e você” nas minhas histórias do que na própria realidade e isso foi frustrante.
Frustrante, porque você foi idiota.
Porque você me deu esperanças e me fez sorrir.
Porque você me fez sonhar, mas ter o pior dos pesadelos.
Porque você me convidou para entrar e depois me mandou sair às pressas.
Porque você me deixou te amar, sem ter me explicado que não queria isso.
Nunca entendi seus motivos ou a falta deles. E, sinceramente, isso não importa mais. Você me fez ter a melhor-pior experiência de amor que alguém poderia ter e eu nunca vou saber o que a minha imagem significou para você. No entanto, tenho algumas ideias: “ela era incrível no começo, mas depois se tornou uma maníaca ciumenta”, “ela era grudenta”, “ela era imatura”, “ela era extremamente irritante”, “ela me sufocava” e etc e etc. Você nunca me disse o que eu fui e, por mais que tantas alternativas me sejam reais, a mais plausível é a “ela não significou nada”.
Nada. E se isso foi o motivo, então o que eram aqueles olhares apaixonados que você me lançava? O que significaram aquelas palavras encantadoras? O que foram aqueles momentos que me fizeram te amar? Pensar nessas coisas só me fazem ter certeza de que você é um idiota, mas um ótimo ator.
Acho que o que mais atormentou, foi cogitar a ideia de não ter tocado, mesmo que por míseros segundos, o seu coração. Não consigo me e te perdoar por isso. Você não me deu tempo e eu não te dei espaço, sim; você foi tudo para mim e eu não fui nada para você, sim; porém, quando nossos olhos se encontravam e algo resplandecia por esse simples gesto, o seu coração se aquecia, assim como o meu?
Você foi a pior coisa que me aconteceu e meu maior erro. Contudo, por um longo tempo, a vontade de me entregar a você vagou pela minha alma. Você era bom em esquecer e fingir que nada tinha acontecido, mas eu era ótima em lembrar e isso foi a minha desgraça. Por muito tempo te culpei por ter me levado para conhecer a vista mais bonita e logo em seguida ter me derrubado do desfiladeiro que estava na nossa frente, sendo que os machucados da queda foram causados por mim. Eu não queria esquecer. Eu que insistia em lembrar. Eu me despedacei sozinha por pensar que poderia te alcançar. Quando meu corpo finalmente encontrou o chão, soube que era hora de desistir. A realidade foi cruel, porém, necessária.
Agora, quando tenho que olhar para trás e relembrar tudo o que aconteceu, vejo que carrego muitos arrependimentos. Eu queria ter dito menos e feito mais. Eu queria ter te beijado na saída da escola, quando fomos durante a greve. Eu queria aceitar o chocolate que você me ofereceu certa vez. Eu queria ter te feito sorrir mais vezes, em vez de te irritar. Eu queria ter te perguntado porque você fez tudo aquilo e depois foi embora.
Eu queria que você tivesse me amado.
Você sempre vai ser o maior arrependimento que tive, no bom e no pior sentido, mas nada disso importa mais. No fundo, as lembranças felizes são as que permeiam meu coração. Sempre que eu olhar para trás, vou sorrir e lembrar que você entrou na minha vida sem ao menos bater na porta. Que você foi a luz dos meus olhos, mesmo que eles estivessem fechados. Que você foi o meu maior erro, meu mais intenso arrependimento e minha mais frustrante decepção, mas ainda assim, foi o meu melhor amor.
Isso não é uma carta de amor. Isso é o meu adeus ao “nós” que nunca existiu.
Obrigada por ter sido inexistente comigo.