Estou ofegante e meus dedos doem absurdamente por tentar bloquear as cortadas absurdas de Bokuto. O treinamento no verão sempre ocorria em um acampamento com várias escolas da província e era uma oportunidade única de aperfeiçoar minhas habilidades, mas haviam limites que eu não conseguia ultrapassar. Pelo menos não no primeiro dia de treino.
Suspiro frustrado e sento-me no chão, inclinando a cabeça para trás, revelando o cansaço de quem teve que pagar cinco punições por ter perdido os cinco jogos de treino que realizamos mais cedo. Bokuto fica indignado com a minha reação, mas faz o mesmo. Kuroo, que estava no bloqueio comigo, coloca as mãos na cintura e diz:
— Ora, ora, parece que até os gênios tem limites.
Levanto a cabeça e respondo-o ironicamente:
— Eu nunca falei que não os tinha. Quem vive repetindo que não tem limites é o idiota com cara de vovô ali.
— Mas realmente não tenho. Quem tem limite é município. — Bokuto orgulhosamente rebate rindo, mas se lembra do meu “apelido carinhoso” e grita: — EI, EI, EI! VOCÊ QUER MORRER, QUATRO OLHOS AZEDO? Pra quem não bloqueou nenhum ataque meu, você tá falando demais.
A raiva começa a se apoderar de mim. Sempre consigo me controlar e poupo-me de irritações desnecessárias, mas Kuroo e Bokuto juntos podem ser considerados a duplinha dos meus pecados. Lanço ao meu rival um olhar nervoso e ele faz o mesmo. A atmosfera está pesada e sinto que vamos nos matar aqui mesmo, mas Kuroo de repente, com a postura muito ereta, diz num tom apaziguador:
— Senhores, acalmem seus corações… — Ele faz uma pausa e subitamente muda a expressão em seu rosto de ‘dono do Nobel da Paz’ para ‘rei do Inferno’ e prossegue: — ANTES QUE EU MATE VOCÊS, SEUS PERDEDORES.
Bokuto e eu, que estávamos rodeados por uma névoa de vingança e ódio, desatamos a rir. Kuroo dá de ombros, se rendendo, notando que a sua bipolaridade súbita não funcionou conosco.
— Sabe — Digo entre risadas. — Você pode ser bom em defender ataques, mas se o mundo dependesse de você para impedir uma guerra, estaríamos perdidos.
Antes que Kuroo possa se defender, ouço meu celular vibrando. Finalmente, penso comigo mesmo sabendo quem era, já não estava aguentando mais esses idiotas. Levanto-me rapidamente e corro para o canto em que se encontram minhas coisas e o aparelho. Quando desbloqueio o celular, vejo a simples mensagem:
Y. ♥: Meu treino terminou.
Clico em responder e escrevo:
Eu: Certo. O meu também. Me encontre no lugar de sempre em cinco minutos.
Bloqueio o celular e suspiro profundamente, sentindo algumas borboletas em meu estômago. As coisas haviam mudado entre nós dois desde o último Dia dos Namorados, há um ano atrás, quando ele se declarou para mim, pensando que eu não estava ouvindo por estar com os fones. Ele se surpreendeu quando eu disse que sempre que estávamos juntos, a voz dele era a melhor música que poderia ser ouvida.
Depois disso, veio o primeiro abraço apaixonado. O primeiro encontro. O primeiro beijo. A primeira vez. A primeira viagem. A primeira reação das pessoas ao saberem sobre nós e a primeira vez que fomos fortes juntos. Yamaguchi foi e sempre seria meu primeiro amor.
Abro um sorriso de canto e pego minhas coisas. Minha mente estava finalmente em paz e meu coração radiante, até que me viro e deparo-me com Kuroo e Bokuto com expressões marotas e dizendo juntos:
— OYA, OYA, OYA!¹
Começo a caminhar em direção à saída do Ginásio 3 para evitar que ocorra futuras agressões. A dupla infernal fica gritando descontroladamente oya-oya-oya até que eu saia. Antes que eu termine de descer os degraus, Kuroo aparece na porta e diz:
— Você não conseguiu defender hoje, porque virou um atacante, né?! CAMISA 10 VOCÊ, TSUKKI!
— Quem perde tempo é relógio! Corre pra ir ver seu mozão, quatro olhos azedo. — Bokuto diz, acenando para mim.
Dou uma última olhada nos dois seres mais irritantes da Terra e dou um sorriso torto. Eles haviam me dado muito apoio quando todos ficaram sabendo e eu seria eternamente grato.
Passo a caminhar na direção do ponto de encontro: a máquina de refrescos. Meu coração começa a saltitar de ansiedade, pois, mesmo sendo a milésima vez que fazíamos isso e por mais simples que fosse, para mim, sempre seria como se fosse a primeira vez.
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A noite está escura, mas o intenso brilho da Lua ilumina meus passos. Deixo a suave brisa bater em meu rosto e tento controlar a vontade de sair correndo para chegar até ele. Yamaguchi sempre esteve comigo, mas quando não estava… eu me sentia como uma Lua muito grande sem ter um céu cheio de estrelas para me completar.
Avisto a máquina de bebidas e dois pés balançando alegremente de um lado para o outro, mas o restante do corpo estava apoiado na outra parte da máquina, fora de meu campo de visão e ainda assim, eu sabia que era você. Não porque reconheci seus tênis, mas sim porque a atmosfera mudava quando a sua pessoa estava presente.
Ultrapasso a máquina de bebidas e pulo por cima de suas pernas. Sento-me ao seu lado e me seguro para não rir, pois vejo você imóvel, com os braços esticados para frente e boca entreaberta, como se o chão tivesse se partido bem na sua frente. Alguns segundos depois, você diz:
— V-você… V-você… AGORA NÃO VOU MAIS ME CASAR!²
Dou uma risada alta, mas não consigo evitar de olhar com uma imensa doçura para a situação. Você era extremamente supersticioso e eu adorava me aproveitar disso, mesmo que as suas superstições nunca fizessem sentido e sempre estivessem erradas.
— NÃO RIA! — Você grita, indignado. — AGORA NÃO VOU CASAR E A CULPA É SUA!
Subitamente mudo de expressão e me aproximo depressa, mas com delicadeza, de você. Nossos rostos estão próximos e a única coisa que nos separa são as minhas palavras sussurradas:
— Estou rindo, porque você vai se casar e, droga, aí sim a culpa vai ser minha.
Minhas palavras tocam seu coração e seus lábios tocam os meus. Suave e profundamente. Ergo seu corpo pequeno perante ao meu e te coloco em meu colo, sem parar o beijo. Mesmo depois de um dia cheio e de meu corpo estar no limite máximo, minha alma te deseja com uma intensidade avassaladora. Seus dedos alcançam meus cabelos, enquanto minhas mãos escorregam para seus quadris, numa tentativa de te trazer ainda para mais perto; numa tentativa de tornar nós, um só da maneira mais completa.
O fôlego nos falta e nos afastamos, porém permanecemos com nossos narizes encostados, balançado de um lado para o outro lenta e suavemente, enquanto um sorriso se instala em nossos lábios. Eram gestos fofos assim que me faziam notar o quanto seu amor me mudou e moldou-me para ser alguém mais doce, amável e completamente seu.
Você quebra o silêncio com uma risadinha e diz:
— Ei, Tsukki, você me pediu em casamento, sabia?
— Eu seria um idiota se não o fizesse.
— Mas você é um idiota. — Você diz dando de ombros.
— Eu não parecia nada idiota ontem enquanto estava te comendo, né?! — Digo, fazendo uma cara de dúvida.
Você cora e grita:
— NÃO DIGA ESSAS COISAS ASSIM DO NADA!
Você passa a me dar soquinhos amigáveis e eu finjo estar terrivelmente ferido. Fecho os olhos e sussurros um “morri”, mas me surpreendo quando você se aproxima e deposita um delicado beijo em meus lábios.
— Acho que isso é o suficiente para te reviver. — Você diz, sorrindo.
— Talvez uns 30 desse sejam necessários, senhor. — Respondo com um olho aberto e o outro fechado.
— Então não se preocupe, pois eu tenho a vida inteira para te reviver com esses beijinhos.
Minhas bochechas começam a queimar, mas não consigo deixar de sorrir, pois tamanho foi o impacto dessas palavras. Nós já estávamos construindo nosso para sempre.
— Ei, Yamaguchi.
— Hum? — Você responde, enquanto se aconchega em meus braços, fechando os olhos.
— Nós vamos nos casar e eu juro te amar com toda força que tenho.
Sem sair do lugar, mas esboçando um terno sorriso, você responde:
— Eu também vou te amar… para sempre e bem além dele.
O silêncio da noite paira sobre nós, porém isso não é problema, pois palavras não são necessárias quando as batidas do coração ditam a melodia dos sentimentos.
Ficamos nessa posição até que você pega no sono. E enquanto a luz da Lua ilumina o nosso momento, observo o sutil instante em que as estrelas dormem, entre os meus braços.