“Você pode fazer tudo o que quiser, desde que isso alegre seu coração e não faça mal a ninguém”
Foi o que você me disse quando a ideia de ser bailarina tomou cada centímetro do meu coração, aos seis anos. Lembro-me que você afagou minha cabeça e sorriu, como se eu fosse um fato extraordinário; como se eu fosse alguém digno de ser admirado sempre.
Naquela época, a cada semana minha opinião mudava: às vezes queria ser todas as coisas possíveis no mundo, às vezes queria ser as mais improváveis. Mas, sempre que caminhava entre esses dois pólos, você me incentivava e continuava a me olhar da mesma maneira.
Quando, aos 16 anos, eu disse que havia decidido que queria ser professora, você olhou para mim desanimado e me desejou um simples “boa sorte”. Não entendendo sua reação e, mesmo que um pouco amargurada, fui perguntar para a pessoa que mais te entendia o que se passava.
— Mãe, o pai não quer que eu seja professora?
Ela olhou para mim confusa e expliquei a situação. Quando terminei de contar com os olhos tristes, minha mãe sorriu e falou:
— Seu pai quer que você seja aquilo que te deixa feliz. Ele aparentou estar desapontado, mas na verdade, acho que só estava com medo. Você sabe que seu pai enfrentou muita coisa na faculdade, mesmo que não a tenha terminado. Ele mais do qualquer pessoa, sabe como a área é difícil e como você vai ter sacrificar muitas coisas. A verdade, minha menina, é que seu pai queria que o mundo fosse seu desde você nasceu. Por ele saber como é difícil ser professor, queria que você fosse engenheira química — Minha mãe diz, tocando meu rosto e prossegue dizendo: — Ele sonha sobre o seu futuro, mas ama seus sonhos e tenho certeza que ele vai te apoiar. Acho que ele só não quer que você sofra.
Com os olhos marejados, respondo:
— Mas e se for um sofrimento que vai me fazer feliz, mãe?
— Então seu pai mais do que qualquer pessoa vai te apoiar. Nós dois sabemos da sua capacidade e vamos continuar te amando e torcendo por você, sempre.
— Sua mãe tem razão — Ouço a voz de meu pai, que caminha na nossa direção — Por mais que eu queira que você se torne engenheira química, sei que o seu sonho não é esse. Não tem problema ser professora. É uma profissão muito bonita e tenho certeza que você vai ensinar muitos com esse conhecimento abundante, por mais que a caminhada seja árdua — Meu pai me abraça e diz com a voz embargada: — Você me ensinou como é amar alguém de verdade, então tenho certeza que você vai ser uma ótima professora, pois o dom de ensinar está com você desde sempre.
Naquele dia, aprendi algo muito importante: nós não precisamos ser prisioneiros de nosso sangue e não há problema nenhum em sermos o que realmente nos deixa feliz. Podemos ser muitas coisas, mas o mais importante já possuímos: somos quem somos e isto sempre vai bastar.