Quis ser forte para te proteger.
Você sofreu mais do que qualquer um naquela noite. Não somente sua alma foi marcada, mas também seu corpo. Lembro-me bem de você dizendo que os hematomas não doíam e de dar um sorriso logo em seguida. Recordo-me das madrugadas que você passava acordada com medo, mas dizia que não conseguia dormir por ter tomado café e que, já que estávamos acordadas, podíamos conversar. E nós conversávamos como duas amigas até a noite virar dia; até o perigo que se escondia na escuridão acordar e sair de casa. Contudo, não me lembro de vê-la chorar perto de mim ou dos meninos, ou de ouvir suas lamentações pelo o que houvera acontecido. Tudo que cabe dentro das minhas lembranças, são os sorrisos que você deu, o cuidado que teve conosco, o carinho que derramou sob nossos corações como se nada tivesse ocorrido dentro de você.
— Mães devem cuidar de seus filhos, não importa o que aconteça. — Você me respondeu certa vez, quando a questionei a respeito do seu estado emocional.
Lembro que fiquei com raiva, pois você estava sendo forte por todos nós, mais uma vez... Você podia chorar, mãe. Você podia me abraçar e dizer que não estava bem, mãe. Você podia entender que somos metades de um único elemento, mãe. Você podia ser a protagonista e ninguém iria te menosprezar por isso, mãe. Tudo bem você não estar bem, mãe.
Quis ser forte para te proteger, mas, no fim, você fez isso mais uma vez, como tem sido nos últimos dezenove anos. Naquela época não entendia, porém agora eu entendo: a sua força derivava de nós três. Se nós estivéssemos bem, você também estaria. O nosso sorriso era a sua força.
Quis ser forte para te proteger,
pois em seus a(braços) de amor
vi seus pedaços (de dor).