Tudo Por Você
Sabrina Ternura
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 05/01/19 22:18
Editado: 24/01/24 18:12
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 4
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Palavras: 413
Não recomendado para menores de dezoito anos
Capítulo Único Tudo Por Você

A noite chega e meu coração dilata...

Dizem que é no esplendor do amanhecer que a venda da noite se desfaz e que, a cada nascer do sol, um novo recomeço surge. Especulam que a esperança da alvorada é uma semente semeada na alma de quem a vê, mas o que posso entender quando nada sinto com tamanho acontecimento?

Existem coisas fora do alcance de meu entendimento, que ultrapassam os conhecimentos vagos que permeiam o âmago e que afogam meu coração, pois é na calada da noite que vejo e sinto tudo com a clareza da luz da manhã. Quando o breu sombrio recobre minha visão, a solidão diz-me que é hora da perdição. No rio de prazer, afogo cada melancolia que vaga pelo meu caos. A cada toque malicioso, preencho o vazio de uma vida incompleta. A consumação do ato, é o ápice.

Quando um segundo se passa, me levanto como se nada tivesse acontecido. Visto minhas roupas como quem tem ciência de seu destino. Recebo o pagamento de minha performance hoje para garantir o sustento de amanhã; para ter certeza que a noite é minha sina, mas o amanhecer é daquele que tem meu sangue — daquele pequenino ser humano que não tem consciência de nada e que tive que deixar, por saber que é impossível uma mulher despedaçada ser mãe de alguém tão completo.

Ando pelas ruas em direção ao lugar que meu filho se encontra: a casa da família que o acolheu quando deixei-o em frente a porta na pequena cesta, enrolado com o cobertor que continha seu nome. Minha companhia é o envelope escrito “Para George” que contém todos os meus pagamentos. Entre becos e ruas desertas, chego ao fim de minha rota e insiro dentro da caixinha de correspondência o envelope. O silêncio que pesa na noite é quebrado por meu sussurro:

— É tudo por você.

Viro-me e refaço todo meu caminho, tendo discernimento que, enquanto me deito em camas alheias para ser a válvula de prazer de alguém, ele repousa sua cabeça no travesseiro tranquilamente, a espera do amanhã. Eu sou a noite, a escuridão. Ele é o dia, o aurorescer.

Dizem que a esperança vem ao amanhecer, mas tudo o que consigo ver é um mar de trevas, quando os raios de sol atingem a janela. Especulam que, quando você vende sua alma, tudo se torna obscuro e, com isso, devo concordar.

A noite chega e meu coração dilata, mas sei que é tudo por você.

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Comentários (2)
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Postado 02/08/20 22:12 Editado 02/08/20 22:13

Enquanto lia, pensei em um trecho da música do Renato Russo:

"Mas é claro que o sol

Vai voltar amanhã

Mais uma vez, eu sei

Escuridão já vi pior

De endoidecer gente sã

Espera que o sol já vem"

Mesmo com o fim da leitura, fiquei com isso na cabeça. Por mais obscuro que pareça, talvez um dia os raios de sol consigam atingir ela a ponto de não sobrar um lugar sombrio sequer (sim, você está me vendo dizer isso. É!)

É uma obra muito bonita, Brina! Parabéns!

Postado 03/08/20 18:53

Eu realmente torço para que este seja o destino dessa personagem. É bonitinho ver você vendo o lado bom das coisas!

Muito obrigada, Flavinha ♥♥♥

Postado 08/08/19 17:37

Uma obra bastante complexa e completa, mas que contém nas entrelinhas a realidade de muitas pessoas.

Postado 30/07/20 23:46

Sim, realmente!

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