Por que apontar o dedo?
Rocksted
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 03/01/19 02:07
Editado: 27/01/19 18:54
Gênero(s): Crítica Reflexivo
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 10min a 13min
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Palavras: 1601
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Como não perceber o quanto é devastador um simples dedo apontado na direção do próximo?

Capítulo Único Por que apontar o dedo?

Naturalmente, quando há algo errado ou difícil com a nossa vida, nunca é fácil para nós solucionarmos esse problema. As vezes apenas aceitamos o fardo pesado, e recorremos a uma instituição religiosa onde bênçãos deus derramará na nossa vida, e simplesmente aceitamos que a dureza da vida é algo que nos torna mais forte e que tudo é permissão de deus. Ótimo, mas, também, as vezes ficamos sem entender como a vida pode ser tão dura conosco, sem entender o que há de errado com o mundo, mas tudo que está relacionado com o papel que representamos dentro da sociedade, principalmente o que algumas pessoas valorizam dentro do seu íntimo muito além da conta tudo que tem um determinado valor apenas na primeira instância, pode influenciar exponencialmente a nossa ruína. Embora não seja muito fácil de ser notado, isso é possível, mas apenas num minuto mágico onde se consiga analisar a própria vida sem ficar por mais que um instante perplexo com a naturalidade do cinismo persistente de quem se acha, ou se diz ser melhor que os outros por estar sempre buscando submeter o próximo a seu próprio julgamento, além das tantas outras coisas ruins que coexistem com esse tão perigoso círculo de serpentes inocentes, que as vezes achamos que é a humanidade e em virtude disso, somos apunhalados pelas costas todos os dias.

Na realidade, todos tem a sua vez mesmo, mas não é por isso que devemos fechar os olhos diante de uma vida sofrida onde se faz presente muita determinação e muita vontade de vencer a conquista da própria liberdade. Isso mesmo, você é uma pessoa focada em seus objetivos e vive no seu dia a dia em busca da razão e do melhor caminho a seguir, pois um ano inteiro ficou para trás e se nada deu certo é porque muitos erros foram cometidos. Pois bem, mas o tempo passou novamente e de repente você para, pensa e percebe que já são dez anos que se passaram e por mais que você passasse esse tempo determinado a melhorar a sua vida, nada disso aconteceu e você está naquela mesma vida de sempre, onde as crianças que você via correndo descalças pelas ruas crescem e logo passa por você dirigindo um belo carro indo ao trabalho, e você além de nunca ter dirigido um carro na vida continua sem um trabalho e ganha seu punhado de real num bom dia de sorte e é claro, de muito trabalho.

Assim sou eu, mas te asseguro a minha gratidão, mesmo apesar de desde a adolescência só pensar em liberdade e sair da casa do meu pai para a minha, para ter uma vida independente. Eu poderia ter conseguido isso de varias outras maneiras, mas fui logo querendo uma vida fácil. Pensei: "Só preciso ser um ótimo guitarrista de jazz. Vou ganhar muito dinheiro."

Convenhamos, isso não é nada fácil! Mas em 2002 eu estava pronto. Blues e Rock nos palcos mas não consegui ganhar nem um tostão pra comprar uma guitarra e tudo foi por água abaixo com baseado e tudo.

Em 2005 eu já não era mais adolescente e me pus a ajudar as pessoas mais próximas como eu podia. Meu irmão mais velho era instrutor numa orquestra municipal, um projeto muito carente e escasso, mas como todos me consideravam uma ovelha negra, respondi positivamente quando ele, pobre coitado inocente me subestimou convidando-me para participar da orquestra tocando não uma guitarra, mas um trombone. Já havia passado 3 depressivos anos separado da guitarra, então resolvi dizer sim para ele, talvez assim as pessoas parassem de me olhar como uma pessoa ruim que só pensava em sexo drogas e rock'roll pois em virtude disso, meu irmão sempre era aclamado por tocar um trompete numa igreja evangélica e na suposta filarmônica municipal sempre recebendo o crédito de um grande músico por parte de outras pessoas, talvez apenas para me irritar ou para me desmerecer.

Mesmo assim fui estudar a mecânica do instrumento de sopro, o trombone. E o resultado não poderia ser outro, pois no passado com uma guitarra no palco ouvi a galera gritar repetindo o meu nome numa só voz. Precisei de apenas alguns meses de estudo no meu quarto pra fazer o trombone mais bonito que jamais se viu por ali, e mesmo com o meu irmão e seus poucos primeiros alunos enfurecidos de inveja a orquestra filarmônica começou a crescer, e quanto mais entrava garotos e garotas na escolinha, mais garotos queriam entrar. Naquela influência estava até mesmo o prefeito e a sec. da cultura, que logo conseguiu muitos outros instrumentos como saxhorn, clarinetes, sax alto, enfim.

Como o projeto filarmônica era um evento cultural sem fim lucrativo para os alunos, apenas o meu irmão ganhava seu salário, e como ele não precisava mais de mim, devolvi o trombone pra ele, que agora era o grande mestre popular da banda filarmônica e quanto a mim, fui dar um duro na roça afim de que as coisas melhorassem. Você pode me achar otário, mas eu devia ter feito isso por ele sim.

Em 2012, após ter produzido um álbum com 15 músicas inéditas para cantor e cantora, com uma cotação mínima em 200 mil cópias, entrei em contato com algumas bandas shows que estavam na ativa no momento, como a "Banda Ello" de Jacobina BA (nem quiseram me ouvir, acreditando que eu fosse algum maluco atrapalhado), e a banda "Forró Chega Mais" de Fortaleza, que me atendeu com bastante educação e até me mandaram um sedex com alguns cds mais antigos da banda, mas a tentativa de gravar o álbum falhou pois além de não ter nem um tostão no bolso, eu já não confiava tanto naqueles empresários, como antigamente e acabei deixando tudo de lado.

Em 2013 resolvi encarar um curso na faculdade na área de tecnologia. Eram só 6 semestres e minha familia resolveu me ajudar. Eu só precisava trabalhar pra eles e em troca eles pagavam a mensalidade da facu que ficava a 60 km de casa, mas como era EAD só precisava ir uma vez por semana.

Hoje, graduado em tecnologia da informação, continuo dando o duro na roça e ajudando a minha familia com o mesmo trabalho, pois não tenho um teto pra morar nem um emprego que me garanta, por isso continuo a velha luta: Trabalhar, estudar e rezar para conseguir o meu primeiro emprego.

A pergunta é a seguinte: Mas como alguém com tanto talento e tanta determinação no trabalho não consegue se estabilizar na vida? A resposta é que a minha vida inteira se resumia num tipo de polêmica que acabou por gerar um modo inferior de ser visto, até mesmo pelas pessoas mais próximas.

No final de 2018 eu, já com vários ítens de programação em fase de análise e desenvolvimento, estava no meu quarto em silêncio estudando quando entrou em minha casa, uma senhora que durante a minha vida inteira eu respeitei por ter me visto crescer junto com o seu filho adotivo que era uns 4 anos mais novo que eu. Naquele dia, ela teria ido ver a minha mãe pra conversar como sempre fazia e presumiu que eu estivesse no trabalho. Ouvi ela começar comentar sobre a morte de um certo alguém que foi mais uma vítima dos traficantes de drogas e que fora assassinado a tiros la na rua de cima, pois os pais hoje não cuidam dos filhos como se deve, e que certo dia ela olhou dentro da bolsa do filho dela e viu algumas coisas pequenas embrulhadas e ficou esperando que o filho dela chegasse pra ela perguntar o que era aquilo. Drogas? _ Ela continuou dizendo que quando o filho dela chegou e explicou que aquilo eram balas de gengibre ela ficou muito aliviada, pois ela sempre falava com esse filho dela explicando tudo sobre as drogas e que se minha mãe tivesse feito o mesmo comigo eu hoje seria outro.

Sinceramente, eu morri naquela hora pois a minha mãe ouvia tudo e dialogava naturalmente com ela. Foi naquele dia que eu percebi que por mais que eu tentasse limpar o mundo, a verdadeira sujeira estava mesmo era dentro das pessoas. E se me lembro bem, há alguns anos atrás ela também entrou em casa pra falar com a minha mãe o quanto estava furiosa e triste pois esse mesmo filho dela roubou as suas informações bancárias e zerou a gorda da poupança que ela guardava no banco e fugiu pra São Paulo, mas esses são outros problemas que eu não precisava entrar em detalhes.

Em pensar que essa mesma pessoa, no dia da minha colação de gráu se meteu a querer que eu reservasse pra ela uma pulseira de identificação, eu fico perplexo com tamanha falsidade. Entretanto, eu já sabia ou pelo menos desconfiava de quem era ela, e quando minha mãe veio me recomendar que eu separasse uma pulseira de identificação pra senhorinha da língua quente respondi pra ela que as pulseiras de identificação eram somente para meus pais e meus irmãos e ninguém mais e que se ela quisesse ir que ela fosse, mas que iria ficar o tempo todo de pé. É claro que ela não foi.

Vou terminando por aqui, deixando como exemplo essa estória, para quem como eu, também sofreu uma vida inteira de luta por tão pouco, é melhor saber: Nada pode estar tão sujo quanto o íntimo das pessoas e lá, você não vai conseguir limpar.

Por que apontar o dedo, se nós não somos nada? Como não perceber o quanto é maligno e devastador um simples dedo apontado na direção do próximo?

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Notas de Rodapé

Valeu e obrigado por tudo, o site é muito bom.

Apreciadores (1)
Comentários (1)
Postado 01/06/19 15:24

Extremamente filosófico e profundo. Difícil terminar a leitura e não refletir.

Obrigada por compartilhar ♥

Parabéns ♥♥♥♥