Desde criança era assim, e quando adulta, nem se importava mais. Vivia normalmente , mesmo tendo esse incômodo a lhe pertubar.Estudou sobre esses dons adivinhatórios, oráculos, bruxarias, tomou gosto pelo invisível e pelo sobrenatural.Uma necessidade quase mórbida de saber do obscuro , daquilo que era de certo o maior temor de qualquer ser vivente, a morte. Lugar que todos um dia irão visitar.Frequentou igrejas, mesquitas, terreiros, fez até o sacrifício de ficar meses recolhida em locais em respeito a divindidades,oferecendo seu corpo em jejum, aprendeu um pouco de japonês para meditar num templo budista.
Jessi era um dicionário ambulante de aprendizagem espiritual.Sem saber, inconscientemente,Jessi procurava na realidade, se encontrar , descobrir de fato o que existia, que a fazia ficar entre o mundo que ela via com aquele que só ela via. Jessi não queria se passar por louca.Ela era receptiva a tudo, em roda de amigos, cantava e tocava violão, alegrando e juntando pessoas.A vida era sempe linda, e das vezes que pela vida ela chorava, ainda agradecia, pois acreditava em outra vida.E assim foi vivendo.
Até aquele dia...o dia que Jessi saiu, olhando flores, bichos, caminhando sem direção, costume que tinhaquase sempre quando queria pensar nas coisas do além...perguntas que se fazia ao caminhar,conversando sozinha,com o vento, com um ser invisível que por certo estaria a acompanhando e ria sozinha dos seus pensamentos...Em algum momento da caminhada, teve pensamentos tristes, de total desânimo, uma saudade sem tamanho de algo que nãosabia de que ou de quem...estranhamente seu peito doeu, o ar lhe faltou, um suor frio correu pela sua espinha e nada mais viu...
Como neblina Jessi se viu apanhada por mãos carinhosas, que a levaram se contorcendo em dores por corredores, maca,médicos, sofrimento...não entendia , porque estava tendo aquele sonho, porque se via duplamente, o desespero dela própriae sem poder falar, assistindo um teatro de horrores onde ela era a protagonista...De repente percebeu, que estava vendo seu corpo morrer...aquilo tudo não era sonho.Pela vida afora, buscou conhecimento de tudo que podia a respeito do outro lado. Finalmente ela estava tendo uma experiênciaque expandia qualquer livro ou templo que houvesse ido. Sentiu-se leve, e pôde enfim observar sem medo, e foi nesse momentoque sentiu uma presença áurea ao seu lado, por entre a neblina, conseguia sentir, e ouvir. Ficou se observando, sendo tratada,em contorsões de dor, e pôde observar que enquanto era devidamente cuidada seres invisisíveis estavam ao lado de cada ser humanoque estava tentando salva-la. Enterneceu-se com tanta beleza, sentiu uma paz tão grandiosa, uma certeza tão absoluta de que a vidaespiritual era de fato a verdadeira vida que estamos destinados a ter, que quando escutou pela primeira vez seu tutor ao lado lhe sussurrar: volte. Jessi se revoltou. Não! gritou, não quero voltar para aquele corpo cheio de dores, e pesado! Voltar seria uma felicidade mórbida, agora que sentiu como o corpo , aquele corpo deitado , era cheio de dores, falhas, doenças, podre! E mais uma vez, a voz lhe sussurrou, volte, ainda não terminaste o teu trabalho naquele corpo. Vá agora, e faça melhor tudo o que aqui você aprendeu.Jessi voltou.
E desde esse dia, Jessi nunca mais foi a mesma. Solitária, feliz, e de alguma forma, todos simplesmente a aceitaram como se ela tivesse feito uma plástica na alma. Nada mudou e tudo mudou. Jessi hoje se sente iluminada, como se ao sentir a grandiosidade do nada ser,fosse capaz de faze-la perceber que somos um espirito que habita um corpo, esperando a hora de voltar pra casa.