Lembranças de Outono
Ouroboros
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 06/11/18 20:13
Gênero(s): Drama Reflexivo
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 20min a 26min
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Notas de Cabeçalho

Eu estou pronto para o Outono.

Capítulo Único Lembranças de Outono

Berlim, 01 de Setembro de 2012

A chuva pairava sobre o teto de uma simplória residência em um dos bairros da grande Berlim. As gotículas de água chocavam-se contra as telhas, ecoando um sonido no interior do casebre. O local estava silencioso, mais pacífico do que o de costume, porém, tal quietude alastrava-se por todo o quarteirão; Berlim estava em luto total.

— Setenta anos... — A voz resoluta e falha de uma mulher alta e esbelta soou em frente à casa. — Como será que ele está hoje? Espero que esteja mais calmo — A loira lançou um olhar para o companheiro ao seu lado — Ele vem dando muito trabalho às enfermeiras. A atual já é a terceira em um único mês.

— Fique tranquila, Eileen — O homem com um cachecol azul e listras brancas envolta do pescoço tentou tranquilizar a moça de madeixas douradas — É normal que alguém da idade do seu tio aja de tal maneira.

— Esse é o problema, Fritz — Eileen desviou o olhar por alguns segundos — Desde que minha mãe morreu, prometi que cuidaria do irmão dela, mas não tenho tempo para ficar tomando conta de todas as coisas.

Um silencio incômodo surgiu entre o casal.

— Vamos entrar logo — Fritz andeja na direção da porta de madeira, apertando a campainha sem mais delongas — Olá, Susie, como ele está? — O homem cumprimentou a morena de cabelos encaracolados que surgiu no interior da casa.

— Boa tarde, Susie — Eileen adentrou na residência com o esposo logo atrás — Ele deu muito trabalho esses dias?

— Não muito. Thompson tem sido bem gentil, só é um pouco imprevisível — A enfermeira respondeu enquanto Eileen esboçava um sorriso lateral — Senhora, ele está na biblioteca. Um pouco mais quieto que o normal, disse que queria falar com você quando chegasse.

Eileen assentiu com a cabeça, agradecendo a gentileza da morena e a compreensão para com seu tio idoso. A loira despede-se de Fritz com o olhar, andejando na direção do cômodo destinado à biblioteca, deixando o companheiro aguardando na sala de estar. Eileen bateu com os punhos fechados na porta antes de adentrar, de fato, no recinto.

E, assim que viu Adam Thorsten de frente à pequena lareira presente no local, a lembrança de sua falecida mãe veio à tona. Eileen suspirou por alguns segundos antes de prosseguir com a trajetória em direção ao tio.

Adam estava sentado em uma poltrona de costas para a sobrinha Eileen. A loira aproximou-se vagarosamente do idoso, sentando-se em uma pequena cadeira ao lado da poltrona em que Adam repousava.

— Boa tarde, tio Adam — Eileen fez um semblante amistoso surgir em face — Como o senhor está? Soube que queria falar comigo.

O idoso inclinou a cabeça para o lado esquerdo, fitando-a com o olhar sereno de seus olhos azuis claros. E, antes que pudesse respondê-la, Adam pigarreou por alguns segundos.

— Ajude-me com isto — O senhor de cabelos grisalhos apontou para suas muletas ao lado da cadeira onde Eileen estava. A sobrinha de Thorsten entregou-lhe o par de muletas, enquanto o idoso, com um pouco de dificuldades, caminhou na direção de uma prateleira preenchida por livros, álbuns e troféus. Eileen não pôde evitar, percebeu a ausência da perna esquerda de Adam, a qual fora amputada ainda na época da Segunda Guerra Mundial.

— Veja... veja esta mulher.

Adam retirou de um livro um papel que, ao ser entregue à Eileen, mostrou se tratar de uma antiga fotografia. Uma mulher, de olhar cativante e sorriso generoso, estava presente na fotografia com um pano, aparentemente florido, envolta de seu cabelo.

— Quem é? — Eileen perguntou, segurando o pedaço pequeno de papel com as pontas dos dedos — É linda... é a minha mãe? — A voz de Eileen falhou por alguns segundos, a perda recente de sua mãe por conta de uma parada cardíaca ainda afetava seus sentimentos.

— Não, essa não é a Bethany — Adam respondeu com um timbre de voz baixo, quase inaudível — É alguém muito especial para mim. Sua mãe a conheceu, essa é a única fotografia que consegui guardar.

— Qual o nome dela? — Eileen questionou sem tirar os olhos da imagem.

— Haya — O olhar de Thorsten mirou a fotografia nas mãos da sobrinha. Sentiu seu peito anelar aos poucos, as memórias de seu passado logo vieram à tona assim que sibilou o nome de tal mulher, despertando uma saudade que perdura após tanto tempo. — Haya Orlit.

....

O caminho aparentou ser mais longínquo do que o normal. A cada passo dado, sentia seu coração bater mais forte, mais acelerado. Sabia que seria difícil dar uma notícia tão pesada, mas era algo necessário. E, assim que notou o pequeno jardim do simplório casebre, viu suas pernas ficarem bambas e trémulas.

Adam suspirou intensamente antes de adentrar na área em que pretendia chegar. Sua mão estava suando frio, parecia nervoso com a situação que estava prestes a criar. Hesitou por alguns segundos antes de abrir a cerca do local, mas logo uma jovem saltitante surgiu com um sorriso deslumbrante para Adam.

— Meus pais não estão em casa, foram tratar de assuntos comerciais — A voz doce e suave da moça foi capaz de aumentar ainda mais o nervosismo de Adam — Se os vizinhos saírem comentando por aí, você sabe que terei fama de cortesã.

— Não seja tão exagerada, ninguém usa essa palavra nos dias atuais — Adam Thorsten respondeu, retirando a boina verde da cabeça, cumprimentando a jovem apenas com o olhar, inclinando o tronco por alguns segundos, deixando-a sem jeito. — Precisamos conversar, não pude esperar o anoitecer.

A jovem garota sorriu, limpando as próprias mãos no vestido lilás que trajava.

— Estava dando comida às galinhas, ainda hei de fazer o jantar — A menina de olhos claros desviou o olhar por alguns segundos — É realmente importante?

— Estás me expulsando, Haya? — Adam indagou em tom irônico — É muito importante.

Os dois jovens se entreolharam por um longo minuto. Haya percebeu que algo de sério estava acontecendo, mas sabia que logo a vizinhança estaria comentando a visita do jovem Thorsten por toda região.

— Diga logo, estou ficando aflita — Haya o apressou, alterando seu semblante para uma expressão de notória preocupação — É algo com seus pais? Eles estão bem? A Bethany está bem?

— Não, é sobre mim — Adam deixou a jovem garota sem reação — Me convocaram, irei participar de uma ação militante. Não sei quando voltarei.

Haya cambaleou para trás. A jovem de cabelos escuros franziu o cenho quando, enfim, tornou a verbalizar.

— Tudo bem, você já fez isso antes —Orlit disse, ajeitando os cabelos loiros do rapaz que foram bagunçados por uma forte passagem de vento —Estarei te esperando.

— Não, dessa vez é diferente, Haya —Adam retrucou, segurando os dois braços da garota, afastando-os lentamente. O loiro permaneceu em silêncio, mas sem desviar do olhar aflito da garota. — É um assunto restrito aos combatentes, mas eu tenho que te contar. O Estado pretende invadir a Polônia, existe um faixa territorial de interesse ao nosso país.

Os olhos de Haya permaneceram estagnados, exalando angustia e aflição. A jovem garota ficara imóvel, aguardando a continuação da frase do companheiro, pois sabia que havia algo a mais.

— Haverá um combate, mortes. — Adam soltou de imediato a frase que parecia atingir em cheio os sentimentos da delicada Orlit. — Os boatos que estão correndo entre os soldados é que os países da Tríplice Entente irão revidar...

— Não! — O grito de Haya interrompeu o discurso de Thorsten. A garota meneou a cabeça enquanto buscava digerir o que acabara de ouvir — Não podemos passar por isso novamente, Adam. Você sabe o que meus pais pensam sobre o seu trabalho — Haya Orlit desviou o olhar, secando seus olhos marejados — Não pode haver uma nova guerra, não quero vê-lo arriscando sua vida por decisão de terceiros.

— Haya... — A voz de Adam saiu falha e trémula — Não posso fugir do meu compromisso, das minhas obrigações. Se entrarmos em uma nova guerra, provavelmente irei à campo, não posso evitar.

— Estou ciente disso, Adam — Haya respondeu voltando a mirar os olhos azuis do rapaz — Só não irei aguentar tamanha aflição; ficar em casa orando para que tudo termine bem sem saber da sua situação, se ficarás vivo ou...

Orlit cessou as palavras. Não suportava cogitar a morte do companheiro.

— Haya, ficará tudo bem. Estou partindo à Polônia amanhã durante a madrugada, garanto que voltarei quando menos imaginar — Adam aproximou-se da jovem, acariciando sua face absorta — E, somente após meu retorno, nós enfrentaremos as consequências. Sei que vamos suportar inúmeros desafios, somos jovens e temos um longo caminho a ser traçado juntos.

— Adam — A mão direita de Haya repousa sobre o punho do amado que continuava a acariciá-la e, em um simplório gesto sentimental, ambos ficaram ali, parados e pensativos. Uma única troca de olhar fora o suficiente para perceberem que se amavam.

Ela, apreensiva e descontente, tinha medo de perdê-lo para uma guerra aparentemente sem motivos a seu ver. Ele, firme, porém desolado, tinha noção dos riscos que estava cometendo ao partir rumo à Polônia e deixar sua amada angustiada por longas semanas.

— Eu preciso ir agora, faremos uma última reunião antes de partir — Adam anuncia a despedida, deixando Haya completamente desolada — Nos veremos em breve, até logo.

E, antes que pudesse ir embora, Adam é surpreendido com um sincero abraço envolvente e carinhoso realizado por Haya. A jovem mantém a região da própria cabeça encostada no peito do rapaz e, sem esconder as lágrimas em seus olhos, despediu-se de forma verdadeira.

— Quem era que estava preocupada com os vizinhos mesmo? — Adam brincou, também envolvendo seus braços na companheira.

— Meu amado está partindo, talvez essa seja a última vez que o verei — Haya respondeu aos soluços e ainda abraça ao companheiro — Não posso nem ao menos me despedir de maneira decente? — Um sorriso inocente surgiu no casal, mas logo o silencio tornou a deixa-los pensativos.

— Não se preocupe, Haya — A voz de Adam soou mais leve e séria — Teremos todo o tempo do mundo para ficarmos juntos.

— Espero que sim, irei cobrar visitas mais constantes ao parque, certo? Entramos no outono, e a lembrança de nós dois em um banco no ano passado, observando as árvores terem suas folhas convertidas em ouro e desmoronarem, ainda está fresquinha em minha memória. — Haya sussurrou, aparentava estar mais tranquila e confortante.

E, após se separarem do extenso abraço, os dois trocaram um último olhar antes que Adam Thorsten partisse na direção de seu destino incerto, mas o futuro era algo iminente e cruel para ambos jovens.

...

— O senhor a amava? — Eileen tratou de romper com o silêncio presente no espaço.

— Sim — Adam respondeu, tornando a segurar a foto de sua companheira. Suas mãos enrugadas sentiam falta da pele clara e lisa de Haya, talvez fora a ausência do toque que as deixaram nesse estado — Nós nos amávamos.

— E você nunca tentou seguir em frente? — A loira soltou outro questionamento, que sempre era seguido de um breve silêncio antes que o ex-soldado alemão, de fato, respondesse. — Conhecer outra mulher? Ter filhos, construir uma família?

— Incontáveis vezes — Adam respondeu, seco — Mas a lembrança de Haya sempre foi mais forte. Ela ainda está viva dentro de mim, posso sentir isso. Lembro-me do seu último olhar, de como a sujeira em seu vestido roxo, ou lilás, demonstrava seu esforço e sua paixão para com os negócios da família. Ela era uma doce mulher por quem me apaixonei. Quando estava ao seu lado, Haya tornava-se tudo que eu sabia, ela era tudo para mim; Haya foi a única que me ajudou a encontrar um pouco de luz.

— Tio Adam... — Eileen ameaçou fazer uma nova indagação, mas de alguma forma hesitou, parecia pensar se faria ou não tal pergunta — Se me permite perguntar, como o senhor a perdeu? Foi durante a guerra?

— A guerra... setenta anos depois e ainda recolho os frutos dela — Adam pareceu ficar distante, apontou com o dedo para a coxa esquerda a qual tivera sua perna amputada. Todavia, o idoso não respondera a pergunta da sobrinha, permanecendo distante e silencioso.

— Tudo bem... — Eileen pensou em voz alta, pronta para se levantar e chamar o esposo Fritz.

— Preciso de sua ajuda — Adam surpreendeu à loira, tornando a verbalizar — Quero que me leve a um lugar específico, todos vocês têm carros hoje em dias, certo? — O ex-soldado fizera a sobrinha sorrir.

...

A invasão à Polônia foi marcada pela vitória dos alemães, sem, contudo, sofrerem com as consequências da revolta dos países da Tríplice Entente; Inglaterra e França foram os primeiros países que declararam, oficialmente, guerra à Alemanha. A partir desse fato em particular, uma série de embates foram travados nas mais variadas fronteiras dos países.

Adam Thorsten esteve presente em boa parte do campo caótico e sangrento que a Segunda Guerra Mundial proporcionou. O soldado, de apenas 18 anos, nem sequer chegou a retornar à Alemanha após invadir a Polônia. Enquanto isso, dentro da própria Alemanha, a presença do líder autoritário e xenofóbico tornou-se mais forte e constante pelo país, usando a guerra para maquiar seus desejos horrendos e sanguinários.

— Eles vão fazer isso mesmo, não vão? — Haya perguntou aos seus pais com um aperto no coração. A família Orlit estava reunida na mesa de sua simplória cozinha, todos apreensivos e nervosos com os rumos da guerra a situação da Alemanha. — Agora já sabem que nosso povo não irá investir na guerra, temos boa parte do lucro de mercadoria do país, mas mesmo assim somos contra qualquer ato de guerrilha.

O pai de Haya ficara cabisbaixo. A garota era inteligente e difícil se ser enganada, sabia da situação que estavam prestes a enfrentar e por isso seus pais demonstravam profundo abalo.

— Vocês vão ficar parados? Nem tentarão fugir? — Haya bradou em um tom potente de voz — Vocês vão concordar com essa existência tola da Raça Ariana? Não existe essa raça perfeita que tanto falam e não irei aceitar que nos condenem por essa ideologia absurda!

— Haya! — O pai da garota exclamou, socando a mesa de madeira da família — Você é muito nova para se meter nessas coisas. Para onde iremos fugir? Não há essa necessidade, ficaremos em casa, esperando tudo isso passar e ele mudar esse pensamento absurdo.

E a família Orlit encontrou seu fim dias após ser concretizada a caça aos judeus, homossexuais, negros e ciganos por toda Alemanha Nazista. Haya foi obrigada a se separar de seus pais e irmãos; a jovem judia foi levada ao centro de concentração que tornava, em proporções maiores, o quão desumano a ideologia alastrada pelos alemães, de fato, era.

Haya viu sua casa ser invadida por soldados opressores e nazistas, sua mãe ser arrastada pelos cabelos e seu pai receber inúmeros golpes. No entanto, foi no campo de concentração, que posteriormente passou a se chamar campo de extermínio, que a doce e jovem Orlit encontrou seu fim.

Descansando em um dos bancos de concreto do campo de concentração, os pensamentos de Haya estavam voltados a Adam e sua situação na guerra. Não estava preocupada com a própria situação, de como permaneceria viva naquele pedaço de inferno, mas sim pensava no seu amado, torcia para que permanecesse vivo após todas as atrocidades decorrentes da guerra. A jovem então deixou seu último suspiro ser guiado, como um vento guia a trajetória de uma folha de uma árvore em pleno outono, e descansou eternamente com a imagem de Adam Thorsten em sua mente.

....

Eram poucas as pessoas que estavam presentes nas ruas de Berlim naquele dia em especial, afinal, uma data marcada por momentos violentos e bárbaros não deve ser lembrada ou comemorada. Fritz dirigia o veículo atentamente, Eileen estava no banco traseiro enquanto seu tio, Adam, repousava no banco do passageiro, observando pelo vidro da janela as imensas árvores de coloração avermelhada e alaranjada.

Alguns minutos depois, chegaram a uma área distante do centro da capital da Alemanha. O local era, na verdade, um antigo parque ecológico de Berlim, que hoje era visto como patrimônio histórico e cultural da capital. E, assim que descera do carro com sua sobrinha ao lado, Adam sentiu um misto de emoções tomarem conta de si.

— Precisamos andar um pouco, há um lugar em especial que pretendo ir — O idoso avisou, caminhando com as muletas com a ajuda de Eileen.

Tio e sobrinha caminharam por longos minutos. O parque havia sido reformado, mas sofreu com o abandono e a vida moderna da capital. A vegetação do local estava predominantemente alaranjada, o chão por sua vez estava repleto de folhas que caíram dos galhos das árvores; um verdadeiro tapete de folhas que só o outono poderia proporcionar.

— Ali está ele — Adam sentiu sua voz rouca sair descontrolada — Ali está ele — Repetiu com um anseio enorme de alcançar o quanto antes um simples banco largado em uma área do parque.

Eileen guiou o idoso até o banco em questão, deixando-o se acomodar do assento enferrujado e voltado a uma imensa árvore, talvez até mesmo a maior do parque em questão. Adam soltou um suspiro de alívio, permanecendo em silencio por longos minutos. O ex-soldado ergueu a cabeça, deixando o sol do final de tarde alcançar seu rosto flácido e enrugado; degastado com o tempo.

— Sabe qual é a dádiva do tempo, querida? — Adam questionou à Eileen que permaneceu calada, observando o tio idoso — A carcaça do nosso corpo pode envelhecer e apodrecer, a humanidade pode mudar, ter seus anseios e convicções modificados a depender da situação. Mas as lembranças que cada um de nós temos nunca serão esquecidas... nunca.

— Lembro-me dos amigos que perdi, dos inúmeros corpos estirados nas trincheiras. Do cheiro pútrido e do sangue derramado por todos os lugares. Os efeitos da guerra sempre andarão comigo, nunca me esquecerei, mas também há aquelas boas lembranças que me deixam pensativo durante horas... até mesmo dias.

Adam interrompeu a própria fala ao olhar para o lado e observar o espaço vazio do banco em que estava sentado. Olhou de relance para Eileen, cuja face esboçava uma tristeza inegável, mas logo voltou-se para árvore alaranjada à sua frente, sorrindo enfim.

— Haya Orlit, assim como o seu nome sugere, transbordava vida e luz. E, após saber de sua morte, percebi que as lembranças que possuímos são algo inerentes à nossa vida, à nossa história como humanos — Adam fez uma pausa — São essas lembranças que nos fazem sentir que estamos vivos, apesar de sentirmos que algo está faltando... que alguém está ausente.

As lágrimas de Eileen já escorriam pelo seu rosto. A mulher de cabelos dourado sentou-se no mesmo banco em que o tio repousava. Ficando ambos lado a lado, fitando a beleza e a melancolia da grande árvore.

— Quis que você me trouxesse aqui para lhe mostrar que são as lembranças daqueles que passaram por nossas vidas que nos mantem vivos. Sua mãe era uma ótima irmã, felizmente, pouco vivenciou a segunda guerra — Adam olhou para a sobrinha — Desfrute das lembranças que você tinha de sua mãe, da imagem do último sorriso e do seu último olhar.

— Tio... — Eileen tentou falar, mas sua voz saiu sem potência.

— Um dia, minha querida, cairemos como essas folhas caem no outono — Adam continuou, olhando novamente a árvore que costumava observar no passado — Mas eu estou preparado para a queda, e quando esse dia chegar, tenho a certeza que minhas lembranças também estarão presentes naquele que me cercam.

Eileen deixa sua cabeça encostar no ombro direito de Adam e, sozinhos naquele parque, tio e sobrinha compartilham um lindo momento marcado pelas perdas que tiveram no passado, e pelas boas lembranças que ainda perduram em suas memórias.

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Notas de Rodapé

Espero que tenham gostado! Abraços!

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