Há algo que tenho de te dizer. Eu amo-te. E tu amas-me. E, no entanto, não podemos ficar juntos.
Porque o nosso amor não é igual. E não falo de intensidade. Falo das medidas postas na balança, que são tão diferentes quanto podiam ser.
Eu amo-te só a ti. Amo o timbre da tua voz, a tonalidade dos teus risos e dos teus olhos. Amo a maneira de como me pegas na mão. E sinto-me segura. A maneira de como caminhas. O contorno das tuas costas, o movimento dos teus ombros.
Tu amas-me. Mas não me amas só a mim. Tens tanto amor para dar. O meu amor não pode competir com o teu.
Amas-me tanto. Mas amas tantas. Se o teu coração estivesse repartido em pedaços, o maior pertencer-me-ia. Mas e os outros cacos? Cortar-me-ia neles.
Amo-te só a ti. Só a ti, meu amor de olhos profundos. Mas não te amo intensamente. Amo-te um terço. Amo-te uma tarde e um final do dia.
Amo-te quando a tua chamada está no topo das ligações recentes. Amo-te quando o cigarro está pendente entre os teus lábios travessos. Amo-te quando me olho ao espelho e ele reflete o colar que me deste.
Amo-te, amo-te, amo-te. Mas não te amo. Não da maneira como o fazes ou como o queres.
Amo-te muito, momentaneamente. Mas o tempo arrefece. O inverno chega. Amo-te pouco. Muito. Pouco. Mas amo-te só a ti.
E tu amas-me. Amas-me sem intermitências. Constantemente. Intensamente. Cada respiração tua, uma lembrança minha. Um riso meu que tens saudades de ouvir. Agora ouves-me rir.
Gostas de mim quando estás com elas. Habito em cada abraço mais apertado que elas te oferecem, que de abraço pouco tem. Quantos suspiros já me arrancaste na tua imaginação?
Amamo-nos. Mas eu amo-te pouco. E tu amas muitas.
Por isso digo-te não. Não porque não te amo. Mas porque quero amar-te mais, e porque quero que as ames menos.