Em meio ao barulho das taças tinindo, conversas paralelas e toda aquela euforia que se pode encontrar em festas. No meio da multidão, uma garota de vestido azul caminhava distraída observando os convidados.
Com uma taça em mãos e olhar voraz, se flagrava confortável por não ter alguém ao seu lado prometendo o que não é capaz de cumprir. Observava a concentração do pianista, as velas agora já derretidas na bancada e o sorriso que iluminava o belo rosto da noiva.
Já distante da música, sentou-se em um dos bancos no jardim, o vento balançava seus cabelos e desfazia aos poucos seu penteado de festa. Tirou as sandálias que lhe incomodavam os pés e em segundos, desabou num choro silencioso.
Aparentemente não existia motivo para o choro, nem para a tristeza que estava sentindo, afinal, estava em um casamento, onde se celebra o amor. Qualquer estranho que a visse naquele momento, julgaria que a moça estava perdendo o seu grande amor naquela noite. Mas não era esse o clichê, seu coração estava se afogando em tristeza e desespero. Não havia nenhum bote salva vidas por perto e talvez essa fosse a pior das sensações.
A moça escutou passos e olhou para trás, uma linda mulher de branco apareceu, segurando o véu que voava com o vento. Sentou ao seu lado e ficou ali por alguns minutos em silêncio.
- Ei menina, porque está chorando tanto?
O silêncio permaneceu, mas a noiva se levantou e caminhou em direção a uma linda cerejeira florescida. Com delicadeza, tirou um pequeno galho com flores já desabrochadas e botões que ainda estavam esperando a sua hora de nascer. A noiva encostou as flores em seus lábios e sorriu voltando em direção da menina.
- Estou lhe entregando porque precisa. Toda essa dor vai passar, aceita o meu presente.
A moça pegou as flores com cuidado e as colocou próximo ao coração.
- Esse é o presente precioso, guarda com carinho e não se entristece mais.
A noiva estava indo embora, mas antes de ir, olhou para trás e sorriu, fechou as portas atrás de si e nunca mais apareceu.
...
Acordei num sobressalto, ainda conseguia ter a sensação do vento em meu rosto e do perfume do jardim. As flores que recebi já secaram, mas eu sabia que a noiva, meu anjo, estava cuidando de mim em algum lugar.