Ao caminhar a noite
Por passarelas ou por pontes,
Mesmo com coragem que lhe afoite,
O horror está no horizonte.
Seus passos largos no escuro,
Seus pensamentos puros,
Não impedem que seu futuro
Seja alvo de um golpe duro.
Seu corpo arrepia com a brisa gelada,
Que carrega uma fragrância velada,
Oriunda da passagem violada
No interior da igreja maculada.
A fragrância se torna mais forte
Conforme você mantém o norte.
Nesse momento, a sua sorte
Já está sem qualquer suporte.
A brisa gelada queima a sua pele
E faz com que ela esfarele.
A fragrância impede que você interpele
Que a dor insuportável lhe remodele.
Diante seus olhos, um vulto,
Com silhueta de um adulto,
Em frente ao local dos antigos cultos
Que não deixa seu sorriso oculto.
Ele está na porta da igreja,
A qual aparece inclusive diante quem lacrimeja.
Ela vaga em noites que o céu lampeja,
Mesmo sem ter chuva que goteja.
Tal entidade sorridente
Carrega consigo um tridente
O qual é uma chave presidente
De um portal grande e descendente
Desse portal, vem a brisa corrosiva
Que atinge sua pele e alma de forma abrasiva.
A morte é, de maneira conclusiva,
A melhor manobra evasiva.
A fragrância é para distrair a atenção,
Para não ter compreensão,
Que a morte sem redenção,
É o caminho a uma horrenda dimensão.
O caminho até tal monstro ou entidade
É sempre a intrínseca maldade
Presente nas pessoas de personalidade
Propensa aos piores atos de perversidade.
Ele não tem rosto,
Tampouco, bom gosto,
Mas deixa seu desgosto
Com o corpo decomposto.