há tempos eu não escrevia
sobre as lágrimas quentes que derretem meu rosto
sobre como eu me enforco solitária enquanto barulhos adormecidos me oprimem na madrugada
e sobre como eu desejo rasgar minha pele em mil pedaços
somente para sentir o gosto metálico e mal cheiroso da minha derrota.
queria eu, ser capaz de devorar minha própria língua e cuspí-la em meu corpo tão substituível
adoraria me engasgar até que meu coração não gritasse mais pelo carinho que alguém jurou que me daria...
eu falho diariamente
e a culpa é sempre minha
meu maior desejo é que todos os dias não mais existam
grito como quem não tem voz o suficiente para dar-se ao luxo de enrouquecer
urro como quem está devastada de tentar ao menos sentir-se digna de ser amada!
odeio cada parte desta casca que me carrega
sinto-me presa e tensa a todo e qualquer momento
pois eu não consigo apenas "dormir e calar a boca"
pois eu ainda não me dopo por prezar meus possíveis poemas que toda a minha destruição genuína poderá criar...!
meu corpo quer diluir-se em chuva;
em tarde serena de outono;
em abraços que se sintam felizes por me abraçarem;
e, em olhares que se sintam honrados ao me verem chegar...
mas tudo isso que me mata, continua me fazendo perceber
que não sou merecedora nem de paz nem de sono
nem de amor, nem de dia risonho
meu único presente é o abandono
e eu só penso em morrer.
passarinho, aonde estão minhas asas?