Os cabelos dela eram como duas cortinas que se abriam cedo pela manhã, e se fechavam resguardadas a noite, elas escondiam aqueles olhos escuro e vazios. Seu rosto era marcado por pequenos resquícios das espinhas que lhe atacaram na adolescência. Seus olhos também exibiam olheiras. Rosto marcado por tantas batalhas que ela não se preocupava mais com cuidados mais profundos. Blusa de mangas compridas para esconder seus cortes, brigas e mais brigas, raiva e mais raiva, tristeza e mais tristeza. Ela era o caos, instável e bipolar, uma vez me atacara com um cabo de vassoura, a segurei até que desistisse e se desmanchasse em lágrimas.
Ela dizia que me odiava, odiava tudo, era o jeito dela de clamar desesperada por esperança, era o jeito dela dizer que me amava. E eu amava ela, mesmo depois de toda a decadência e sofrimento. Ela precisava de mim, e eu estava lá. Adorava vê-la, adorava ver sua dor, porque olhava para minha própria. Eu era apaixonado por uma menina emo. Gostava do rock pesado que ela ouvia, dos choros, e dos cortes. Ela era como uma rainha para mim, uma rainha da tristeza.
Sua condição chegou a tal ponto que ela, em uma explosão, levantara a faca contra mim, ela dizia que me odiava, tentava me cortar, eu tirava a faca das mãos dela, a sacudia e gritava. Mais uma vez, ela caia em lágrimas e me abraçava pedindo perdão.
Eu tentei de tudo para judá-la, mas parecia que ela só piorava, em seu auto vortex destrutivo, ela foi caindo, aos poucos, em uma lama bem funda. Ela me puxava com suas mãos pequenas para dentro daquele lodo, e eu ia, se tinha algo que desejava era afundar junto com ela. E ela afundou, e mesmo no fim, eu não pude puxá-la, ou deitar junto ao seu lado, fazendo-lhe companhia até mesmo em seus últimos momentos. Eu não pude, eu não pude cortar meus pulsos também, me desculpe, me desculpe, amor da minha vida, a única coisa que posso dizer é que te amarei para sempre, te amarei para sempre, sua emo.