Voz interior
Em um momento sombrio a vida perde o sentindo,
Tudo se esvai entre os dedos como poeira ao vento,
Respeito próprio, força para lutar, razão para continuar,
Nos rostos amigos a mesma expressão negativa, acusadora,
Não, não tenho nada com isso... culpado!
Lembranças dos rostos conhecidos, queridos, amados,
Voz ferida nas lágrimas de sangue vomitara por segundos...
Tudo que mais deveria ser dito e que não queria ser ouvido...
No som doce da voz gosto amargo do fel exigindo atenção,
Pavor nas duras e frias palavras nua e crua verdade...
Cego, odiando o mundo, condenando a todos...
Na cozinha, escolhida a melhor ferramenta cortante...
Entontecido em direção ao banheiro, peito nu aberto...
Ponto crucial marcado, mãos firmes no alto...
No espelho o rosto refletido pela última vez...
Por instantes mãos no alto na certeza do que irá fazer,
Lagrimas do adeus interrompidas pela voz interior a questionar...
Tem certeza, é mesmo o fim, sem nem uma razão para continuar?
É o melhor caminho, o único e o último caminho a seguir?
As pessoas amadas não são dignas de uma segunda chance?
Mãos abaixadas, ferramenta sobre a pia, rosto marejado...
Um segundo de reflexão, contar até cem...
Talvez seja de minha natureza ser fraco, selar o ponto final...
No espelho reflexo turvo, confuso a replicar,
Espelhada encruzilhada com dois caminhos alternativos...
Ponto final ou seguir em frente com as chagas dilaceradas...
Aliviar do peito de o sangue estancar cicatrizando as chagas,
Refletido no espelho o dedo apontado em minha direção,
Acusador, inquirindo uma única gota de lucidez,
A me reencontrar admitindo a mim mesmo que eu fosse culpado...
Culpado por ter feito e doado o meu melhor a todos...
Culpado por ter amado com todas as minhas forças...
Culpado por sonhar que os sonhos seriam eternos...
Só que não...
Culpado por não olhar para dentro de mim buscando o verdadeiro “eu”,
Culpado por culpar a todos buscando remissão dos meus erros,
Culpado por não perceber as lágrimas nos olhos das pessoas amadas,
Culpado por não entender as mãos a implorar para que as segurasses,
Culpado por não buscar dentro de mim o meu melhor,
Últimas gotas de esperança, de lucidez, das minhas forças,
Culpado por não perceber que posso e vou fazer o melhor,
Renascer das cinzas nos passos doloridos do recomeço.