Esta é uma história que com certeza você conhece. Todavia... Desconhece. Confuso? Nem tanto.
Em um lugar e época imemoriais, uma vez mais o coral estava perfeito: as milhares de vozes idílicas que fariam o som de quaisquer instrumentos musicais parecer mera brisa ou estalos em galhos secos ecoavam em belíssimo uníssono no Firmamento no mesmo exato momento de costume. Todos os seres de luz estavam ajoelhados, louvando e adorando seu Criador com entusiasmo renovado e amor incondicional. E assim seria para todo o Sempre.
Todo.
O.
Sempre.
Ninguém nunca soube ou jamais saberá como ou porquê, mas por um ínfimo instante, tão rápido que sequer seria possível medí-lo em uma escala de Tempo, uma das entidades radiantes se deu conta da até então inexorável rotina de servidão à qual submetia a si própria desde os primórdios da Existência e cometeu o mais hediondo dos pecados, algo inédito e inconcebível: questionou a validade de tudo aquilo, já que seu Pai era o que era.
E foi dessa forma que o anjo, justamente aquele que regia todos os demais nos louvores e na exortação, o mais devoto e entusiasta... Sim, foi ele quem subitamente se calou e se pôs de pé, interrompendo a Divina Canção pela primeira e última vez.
Foi esse anjo que descobriu do pior jeito o que era chorar devido à dor que somente a Verdade consegue infligir no peito de quem se dá conta de que senpre "viveu" atrelado a um ciclo vicioso e improdutivo, antes que o Altíssimo fizesse cair Sua Ira sobre o único filho que ousou macular o Céu com a imundície de suas dúvidas e instilar em um terço de seus Irmãos o mesmo pensamento e sentimento que nunca mais o abandonaria ao gritar que preferia morrer de pé do que viver de joelhos.
Como posso afirmar com tanta certeza e detalhes? Ora, eu era esse anjo.
E você sabe meu nome.