Acordo. Meus pulmões voltam a funcionar plenamente. Posso suspirar, retornar para o meu próprio corpo por alguns segundos. Mas sei que é questão de tempo até vestir a carcaça do outro eu e começar tudo novamente. Já não me recordo da última vez em que dormi despreocupado. As manchas escuras já circundam a região dos meus olhos, elas crescem desgovernadamente; sem rumo algum. Você simplesmente sente seu corpo ser paralisado, domado por uma angústia massacrante.
Já tentei correr, fugir de tudo e de todos. Se eu pudesse, até fugiria do mundo algum dia. Mas sempre retorno à estaca zero, limitado e inibido. Quero gritar, bradar contra minha raiva, minha infelicidade. A busca pelo prazer momentâneo deixou de ser apenas algo utópico, todos tentam maquiar suas decepções, seus demônios...Nem sempre da melhor maneira, é verdade.
Por isso, meu corpo é apenas uma marionete controlada por cordas tão finais aos olhos desgastados. Elas me guiam, mas também me derrubam, afogam-me em sentimentos incompreensíveis. Sinto um instinto nervoso pulsar em minhas veias. Tenham cuidado; há algo muito mais profundo em meus olhos, algo que luto todos os dias para abafá-lo.
Em certos momentos, posso senti-lo vir à tona, deixando marcas por onde passa. E em um estralar de dedos, vejo-me novamente caminhando em uma estrada interminável, perdido em meus pensamentos novamente. Arrastem-me para casa, é só o que peço. Eu não estou vivo... nós não estamos vivos. Apenas sobrevivemos a cada dia.
Acordo. Aqui vou eu mais uma vez.