Seus olhos tem gosto de jabuticaba.
Quando vislumbrei tal propriedade rara, o sabor, ao lamber a ponta de seu coração, fiz uma pausa e depois de um agradecimento, comi.
Afundo em tua lombar e meu obscuro paladar diz-me que te embelezar com saladas não é tão indecente, pois quando presumo o que virá depois... Ah! Todo insulmo fica mais condizente! Como se descreve uma monofagia tão latente?
Com preparo, cada fibra fica mais leve. É como se sua suculência fosse um mito e o seu cozer gerasse um banquete celestial. A incessante mastigação devoradora incendeia em mim algo maldito, a infernal fome duradoura. Com isso, nada mais me impede para que minha barriga seja empanturrada - seja o fim da tua jornada.
Fiz do seu corpo meu sustento. Destrocei-te com as mãos e a boca, degustei com critérios que eu mesmo estabeleci e ainda crua, totalmente crua, porque é assim que sempre experimentei. Deixei a falha fatídia do seu coração criar a sinfonia que só alguns monstros no mundo conseguem reger.
Seu sabor não veio para complementar, mas sim para superar a do feto que eu guardava e o do menino que nunca engordava. Somente com seu baço desvendei o ponto certo e, lambendo em volta de seu coração, soube que você não era uma mera refeição e sim um dos melhores alimentos da toda a remessa. Você é a prova de que, para ser perfeito, basta preparar.
Seus olhos tem gosto de jabuticaba.
Seus olhos têm sabor que não acaba.