Sinto o frio do medo percorrendo
Cada célula de meu corpo.
Grito para o vazio profundo
Como se fosse possível escapar.
Não se foge do inevitável.
Não se brinca com o Diabo.
O demônio que me assombra,
No auge de sua maldade,
Demonstra a pulsante ânsia
De me destruir.
Ele afronta minha bondade,
Como se a benevolência
Fosse um insulto a sua existência.
Escarnece de minha pulsação,
Como se a mínima forma de vida
Fosse insignificante perante a ele.
O cheiro de minha carne queimada
Chega até você como um doce incenso.
O gosto de meu assombro
É o preferido de seu paladar.
Corra, pois vou te pegar.
Ele é O Pesadelo
E eu, um mero cordeiro
Correndo em direção
À própria perdição.
Ninguém vai te ouvir gritando,
Ninguém vai te ver borbulhando.
Clamo por Deus,
Declamo preces que sei tão bem
Com uma fé que jamais pensei ter,
Pois a elevação é a salvação.
Seu deus não vem até o Submundo.
Ele não suporta seres imundo como você.
Ele não deseja viver eternamente ao seu lado.
Ele mentiu, pois todos os pecadores vem para o Inferno.
As lágrimas escorrem por meu rosto,
Mas aos lábios chega somente
O solene sabor metálico de meu sangue.
Meu corpo é torturado
Pela desgraça de ainda estar viva
Após realizar a descida
Aos âmbitos infernais.
O desespero faz o impossível acontecer.
Deixe eu me banhar no seu sangue,
Deixe eu degustar de sua carne pura.
As sombras tornam-se mais escuras,
Minhas pernas falham ao correr
E meu âmago é consumido
Pelas palavras do obsessor.
Decido me entregar,
Pois ninguém vai me salvar.
A sombra diabólica agarra com violência
Meu corpo tão maltratado.
Realiza pecaminosos atos,
Dirige-me palavras de escárnio
E depois se auto satisfazer
Ele se aproxima para dizer:
— Ninguém te ouviu correndo
E, agora, ninguém vai te ver morrendo.