Chegaram os paraísos, você pode lidar com isso?
1
— Stacy é uma pessoa que se por acaso se matasse, não faria falta nenhuma. — Disse Amélia com relutância.
Ambas as três tem um passado negro, que foi de um namorado roubado, à uma sabotagem em um concurso da escola. Nada que não pudesse ser esquecido com o tempo, ou algo que pudesse ser perdoado. De fato, não foi algo tão grave assim. Era dia de festa na escola, a votação entre Cindy e Stacy para representante da escola em um evento patrocinado por Barack Obama estava extremamente acirrada. Stacy teria ganhado se Amélia não tivesse sabotado as votações e queimado o filme da garota com o resto da escola.
— Quem é aquele paraíso entrando pelo corredor de mochila marrom? - Disse Cindy apontando para um garoto alto, de cabelos castanhos, assim como os seus olhos.
Amélia revirou os olhos em desgosto.
— Você da em cima de todos os garotos que vê. — Salientava a garota. - Faça-me um favor.
Cindy ficou quieta.
— Que diabos Stacy está fazendo dessa vez? — Dizia ela enquanto apontava para uma máscara muito similar à um rosto de boneca que a garota segurava. - Além de louca, virou palhaça.
Michelangelo Castellina, além de indiscreto, chamava a atenção em qualquer lugar que entrava. Não tinha uma beleza tão rara, mas ainda sim, era incrível. A atenção que recebeu naquela manhã, foi especialmente de Amélia. Mas será mesmo que algo poderia acontecer entre os dois? Eu não creio nessa hipótese, e logo logo, você irá concordar comigo.
2
Bonita por fora, perversa por dentro. Digo... literalmente. Você já vai entender.
A garota se encontrava rodeada por espelhos, de diversos tamanhos, fazendo-a ficar de vários formatos e alturas diferentes. Algo incrível que ficava completamente ofuscado pela beleza da garota. Mas nada se comparava ao seu reflexo. Ele não condizia com a realidade. Mas, como isso era possível? Mais uma das ciências d'A informante que ninguém conseguia explicar, a não ser ela mesma.
Seus cabelos azuis eram delicadamente presos em um coque por uma presilha, onde continha uma pequena cartola que a tornava ainda mais elegante. Sua máscara estava jogada no chão de mármore ao lado do espelho. Era cansativo e quente usar aquela máscara à todos os momentos do dia, apenas quando o necessário. Ou seja, quando acontece alguma ''atividade'' envolvendo coisas como aparecer para alguém, por exemplo.
— Como ela está? — Indagou o reflexo.
Porque ela está interessada com o bem estar dela?
— Ela ainda não sabe da existência do nosso mundo. — Respondeu a garota ao reflexo.
Mas isso não era nenhuma novidade e continuaria assim por um tempo. A reencarnação precisa saber sobre os paraísos de uma forma arrasadora, para já começar a entender sua importância com o pé esquerdo. Mas isso é algo imprevisível, ela pode saber de qualquer jeito possível, até mesmo com um post online.
— Senhora, pra quê tanto mistério em matar essa garota? — Respondeu a informante indignada ao seu reflexo. — Pra o nosso sucesso, a reencarnação deve morrer. Então, porque simplesmente não matá-la logo?
— Se matarmos Elena, outra surgirá. — Respondeu o reflexo. — Deus desistiu da primeira reencarnação depois do trauma e fracasso que ela sofreu n'O circo escarlate.
A garota engoliu em seco.
— Elena tem um estado frágil hoje em dia. — Retrucou A informante. — Podemos trazê-la para o nosso lado.
— Apesar de seu estado mental, Deus fez um trabalho e tanto com essa vadiazinha. Ela acabou até mesmo com o alfa.
Não se sabe ao certo o que ela pretende fazer com a reencarnação, ou pra quê ela serve de fato. Ninguém sabe isso, a não ser Deus e os príncipes do inferno. Mas era exatamente isso que a informante deveria descobrir, os planos de Cally.
— Estamos em guerra, você é minha aliada. E sabe o lado certo em que deve estar, não sabe?
— E como sei.
3
A sala estava cheia, com exceção de alguns lugares vazios. Amélia foi uma das últimas a chegar, sentou-se ao lado de Stacy. Por pura coincidência criada pelo destino, Michelangelo se sentou ao lado delas.
A sala era composta por cinco fileiras diferentes, banhadas pelo reflexo verde do enorme quadro negro que se encontrava sobre a parede. A mesa do professor era grande, de uma madeira incrivelmente bonita e polida, que aliás é algo estranho, julgando pelo fato do baixo orçamento que a escolha passava, e a crise que o país sofria nesse exato momento.
Um homem alto, de paletó e com uma aparência severa adentrou o local. Só foi nesse momento que Cindy percebeu que Michelangelo e Amélia estavam lado a lado. A garota abafou um sorriso. O pó de giz escorria pela lousa enquanto o homem escrevia sobre a lousa limpa.
Os três paraísos.
Prof. Edward Cavalieri
— Alguém pode me dizer o que é um paraíso? — Perguntou o professor enquanto se voltava para a sala. Stacy levantou o braço quase que imediatamente.
— É o lugar que as pessoas que são dignas de viver ao lado de Deus vão quando morrem.
O professor encarou ela com aprovação, e depois reparou na presença de Michelangelo.
— Estou vendo um rosto novo. — Isso fez o garoto soltar um sorriso abafado. — Você deve ser o Michelangelo.
O garoto se levantou, olhando disfarçadamente para Amélia enquanto Stacy observava a cena com desaprovação. Cindy riu.
— Posso saber o motivo da graça, Cinthya? — Disse Prof. Edward em tom extremamente severo. - Eu sou um palhaço?
— Não, é que...
Edward então, tirou um nariz vermelho de plástico e o ajeitou sobre o seu rosto.
— E agora?
A sala inteira riu, inclusive Cindy, mesmo lutando contra isso.
— Mike, Classe. — Disse o garoto. — Classe, Mike. Agora o senhor pode por favor prosseguir com a aula? Esse é um assunto que me chama em muito a atenção.
Alguns murmúrios paralelos começaram a surgir entre os estudantes.
— Claro... - Prosseguiu o professor meio sem jeito.
— Esse vai ser um ano muito interessante. - Murmurou Stacy à si mesma.
4
— O foco principal de tudo é, de fato, seu criador. — Arquejou o professor Edward. — Quem criou os paraísos, Classe?
Stacy levantou a mão. Como sempre.
— Cally, a princesa do inferno. — Respondeu a garota. — Filha de Lúcifer, Asmodeus, Belzebu, Mammon, Belphegor, Azazel e Leviathan.
— Ou seja? — Perguntou o professor enquanto acentia a sobrancelha direita.
— Os sete príncipes do inferno. — Concluiu Stacy.
Owen e George continuavam no canto da sala como sempre, Owen crescendo cada vez mais com seu blog sobre assuntos focados no paranormal. George apenas o seguia na maioria das vezes, ambos usavam óculos quadrados e grandes. O cabelo de Owen era grande e delicadamente repartido para o lado esquerdo de sua cabeça. Um garoto completamente desleixado e meio ''nem aí'' com a vida em relação ao estudos, sempre mal humorado, dando respostas curtas e grossas para quem passasse por ele. Não era um garoto que se intimidava fácil. Isso é engraçado, porque George é o oposto, sempre sendo humilhado por todos aos seu redor, e por incrível que pareça, ele nunca se incomodara com isso.
— Cally criou os paraísos para poder recrutar membros para o seu exército de olhos-púrpura. — Prosseguiu Edward. — Assim, poderia ser feita uma seleção aleatória para pessoas poderem se juntar à ela e os príncipes.
— Mas na prática não foi bem assim. — Continuou Stacy de sua cadeira. — Cally cansou de ser tratada como uma marionete de Lúcifer e fugiu do inferno.
O professor fez que sim com a cabeça.
— De acordo com teorias, Lúcifer subiu para terra e possuiu corpos enquanto conduzia suas almas para o inferno. E isso nem é o pior. — Stacy falava com uma inteligencia que causava inveja em Cinthya.
O professor fez um sinal de pausa para ela.
— Cally carrega um ódio tão grande em si, que jurou queimar o céu e o inferno. — Prosseguiu Owen. — Fazendo a terra se transformar em um reino de fogo e dor.
O professor sorriu.
— É por esse e outros motivos que eu amo essa sala.
A classe de Stacy sempre fora a melhor de toda a escola, — isso se não fosse a do país — o professor Edward fora muito elogiado por deputados e tem um nome importantíssimo no mundo da pedagogia.
— Todo jogo precisa de um líder. — Concluiu Stacy.
— É claro que sim. — Concordou Amélia.
— E como precisam. — Terminou Cindy.
5
— Eu falei pra não entramos aqui. — Respondeu a garota em fúria.
Alan, o garoto de cabelos castanhos tentava abrir a porta. Sem Êxito algum.
Suzzana estava segurando os braços, o medo estava começando a tomar conta de seu corpo. O portão que estavam tentando abrir era de um velho circo da cidade, onde anos atrás, havia acontecido uma chacina que matou mais de 25 artistas. O caso foi fechado após testemunhas dizerem que o autor do crime foi Martin Alighieri, um homem de 37 anos.
— Eu quero sair daqui. Essas árvores estão me dando nos nervos.
Bom, esse é o falecido Circo Escarlate. Suzzana e Alan estavam do lado de fora dele, tentando sair pelo portão ao ar livre. — que por acaso era alto e velho demais para ser escalado, a queda poderia ser fatal — Tudo começou quando Alan decidiu que queria ser conhecido como o ''garoto que quebrou o gelo e entrou no circo'', ou seja, queria pagar de aventureiro para os seus amigos. Ao menos era isso que Suzzana pensava.
— O que eu estou fazendo aqui? — Perguntou a garota, retoricamente.
Alan parou de puxar o portão.
— Estamos presos.
Suzzana deixou uma lágrima única cair por seu olho direito.
— O que vamos fazer? — Gritou ela. — Vamos morrer aqui.
Alan queria acalmá-la, mas estava assustado demais pra isso.
— Você conhece as lendas. — Continuou ela. — Quem entra, não sai. Você conhece Elena.
— Não dessa vez. — Decidiu Alan. — Nós vamos sair daqui.
O tipo de garoto que nunca desiste, vai até o fim por seus objetivos e desejos. Mas na maioria das vezes isso acaba incomodando demais as outras pessoas e Alan tinha uma mentalidade muito forte, um garoto sínico e duas caras. Amélia diz que ele é uma Stacy versão masculina. Alan tem um número extenso de inimizades, pessoas com que nunca se poderia confiar. Mas pense pelo lado bom, pessoas assim são as que tem poucos amigos, porém, os mais verdadeiros.
Alan e Suzzana são amigos, se conheceram quando ela deu um tapa na cara de Stacy durante uma aula extra de culinária. Sendo assim, a diretoria da escola decidiu que o melhor era, sem dúvidas, colocar as duas em classes diferentes. Você deve ter se perguntado porque nunca separam Stacy de Amélia e Cindy, bom... o conflito entre as três nunca havia realmente sido levado aos ouvidos da direção da escola, portanto, elas eram colegas como qualquer outras alunas para eles.
— Quem é aquela? — Respondeu Suzzana apontando para as árvores.
Alan não viu absolutamente nada, apenas as árvores que ficavam dentro dos limites do Circo, que era completamente cercado por muros.
— Eu juro que vi uma garota usando a fantasia que Elena usava.
— A cartola e smoking preto? — Perguntou Alan estranhando o comentário de Suzzana.
Mesmo achando ainda mais estranho que ele, respondeu:
— Sim, exatamente.
6
— Como foi a aula, Cinthya?
A garota estremece.
— Mãe, eu já lhe pedi pra me chamar de Cindy.
— Como foi a aula, Cindy? — Respondeu a mãe em tom grosseiro.
As duas sempre tiveram uma estranha relação, algo... inexplicável. As vezes se amavam e as vezes brigavam.
— Como estão as coisas? — Pergunta Rose, sua mãe. — Está bem?
A garota fez que sim com a cabeça enquanto subia as escadas. O corredor do segundo andar era extenso, com três portas, uma levava ao quarto de Cindy, outra ao de Mandy e a última era o armário secreto de sua mãe. Ninguém a não ser ela, sabiam o que continha dentro daquele armário.
Cindy considera Amélia como sua irmã, nunca seria capaz de fazer qualquer mal a ela. Nunca. Mas eu te pergunto: A situação era a mesma ao contrário?
7
Michelangelo cantava desafinadamente pela noite enevoada e sombria da rua Cliverton House, conhecida principalmente por ter sido o local que Elena fora encontrada após fugir da chacina que ocorreu n'O Circo Escarlate e virar parte da história, tanto da cidade de Contenverge como para todo o país de Lorry.
Os olhos de cor Azul Marinho se destacavam incessavelmente na escuridão, seu fone estava em uma altura tão alta que alguém que estivesse do outro lado da rua poderia ouvir, mas eu creio que nem fosse por causa da altura, e sim por aquela rua ser habitada por pessoas extremamente calmas e, como consequência, extremamente quieta.
Algo chamou a atenção do garoto. Grunhidos de dor entre a escuridão noturna. Mas como isso era possível? Michelangelo estava com o volume do fone extremamente alto, era impossível que ele ouvisse algo que acontecesse do lado de fora, mesmo que fossem gritos. O garoto desligou o fone, cuidadosamente colocados nos bolsos largos do seu capuz negro. Suas calças jeans eram grudadas em suas pernas. Seu par de tenis era tão preto que chegava a ser indescritível, mas era em um modelo All Star Converse.
Ele estava totalmente atento no que estava fazendo. Sombras foram avistadas na escuridão, isso foi o suficiente para fazer com que Michelangelo se jogasse bruscamente para debaixo de um dos carros estacionados entre a calçada e a rua. As grande quatro frestas que o rodeavam permitiam-lhe a visão do restante da rua, mas isso também permitiria que o quer que estivesse do lado de fora também o avistasse.
O garoto tampou a boca para não respirar forte demais e a pessoa conseguisse sentir a respiração em suas pernas.
Um par de saltos negro extremamente fino surgiu na escuridão, mas era como se a pessoa que o vestisse estivesse andando de costas. Michelangelo pensou em sair, mas antes de tomar essa decisão, algo o fez pensar que era realmente melhor permanecer em baixo do carro. A garota do salto não estava andando de costas por estar bêbada ou algo do tipo. Estava arrastando um corpo pelo asfalto. Uma lágrima de medo escorreu pelo canto esquerdo do rosto de Michelangelo e se desfez em milhões de pequenas gotinhas sumindo na escuridão fria do chão.
Era o corpo de uma mulher, de cabelos negros e olhos abertos, sangue escorria pelo seu nariz e boca. Michelangelo entendeu porque ela havia morrido, um grande ferimento cobria aonde supostamente ficaria seu coração. O corpo parou de se mover, Michelangelo já não conseguia mais ver os saltos finos. Apenas o corpo parado em frente a fresta em que ele espiava. Os olhos frios da mulher o encaravam em busca de socorro. Mas não há nada que ele poderia fazer.
8
— Fico presa dentro um circo onde mais de 20 pessoas foram brutalmente assassinadas e o que eu faço? Entro nele com o ser mais burro de todo o mundo.
A garota estava completamente aflita, já havia escurecido e Alan realmente estava sem ânimo algum para poder continuar a busca em direção a saída do Circo. Não poderiam escalar os muros por causa da cerca elétrica que seguia em cima do muro de tijolos de dois metros de altura.
— Alan...
Isso chamou a atenção do garoto.
— O que está acontecendo?
Os olhos da garota se encontravam em um tom extremamente forte de púrpura. Ele nunca havia visto nada sequer igual aquilo. Mas estava completamente apavorado.
A garota levantou enquanto gritava. Era como se ela conseguisse controlar apenas o seu rosto e o resto do seu corpo não.
— Pare, aonde você está indo?
Alguns destroços de lanças que eram usadas antigamente por um dos artistas estavam perigosamente saindo do chão. O real problema é que Suzzana, enquanto gritava, estava cada vez mais perto das lanças.
O garoto tentava segurá-la, mas o corpo sempre se soltava, como se fosse um mal elemento que seu organismo precisasse repelir. Os gritos de Alan tomaram conta das ruínas do circo. E foi então que Suzzana correu em direção as lanças.
Alan só percebeu que era tarde demais quando seu corpo estava completamente banhado por sangue.
9
Michelangelo ainda sentia o medo extremo enquanto estrava preso em baixo do carro.
Ela foi embora.
Isso foi o que ele pensou. Isso foi o que todos pensariam naquele momento.
Michelangelo saiu lentamente pelo lado do carro que estava voltado para o bosque de Lindsay Ville, um dia você vai saber o motivo desse nome. O suor em contato com a brisa noturna fez com que ele sentisse uma pontada de alívio por não estar mais em baixo do carro. Mas fora o que ela queria o tempo todo.
Lá estava ela, a informante, parada em frente a Mike. Sua máscara de Carnaval o observava ameaçadoramente. Não era com ela que o garoto deveria se sentir ameaçado. Uma criatura de dois metros de altura surgiu na escuridão, era como um vulto de uma mulher com dois enormes chifres se agarrou em Michelangelo.
Após isso, tudo se tornou escuridão, apenas a infinita e vasta escuridão.
***
É incrível como uma vida feliz pode se desfazer em tristeza em menos de cinco segundos. Pense que se você construir uma torre com blocos Lego, por mais alta que ela esteja, se apenas um bloco da base for retirado, ela irá desmoronar e se desfazer em milhões de pecinhas que irão se espalhar pelo chão frio de sua casa. Essa é a sua vida, por mais idade que você tenha ou experiência adquirida, se você ficar exposto a algo relativamente frágil, mas que possa causar um risco ao seu corpo, isso pode lhe fazer desabar e cair pelo chão frio de um circo em ruínas. Eram essas as palavras que passavam pela mente de Alan Lefebvre, que viu o corpo de sua melhor amiga ser atirado em lanças. E lá estava ela, Suzzana Rivers, com láminas de diversos tamanhos e formas atravessando o seu corpo. Seu rosto era uma mistura estranha de sangue com lágrimas.
— Me desculpe, por favor. — Desesperou-se o garoto. — Me desculpe.
O garoto estava debruçado perigosamente diante do corpo de Suzzana e das lanças que saiam cuidadosamente do chão.
10
— Por favor. — Implorou Amélia. — Vamos lá, você não vai morrer.
Cinthya olhava com tanto desgosto através de seus óculos Ray-Ban que a garota nem ao menos acreditava que ela estava tendo uma reação desastrosa daquelas.
— Eu não estou te pedindo nada demais. — Prosseguiu ela.
Amélia usava um vestido branco, que com junção de seus cabelos negros, faziam com que seus olhos extremamente azuis se realçassem em torno dela e de sua pele pálida.
— Eu não gosto de mexer com essas coisas de espiritismo. — Determinou ela. — Você sabe disso, Amy.
A garota fez um rosto tão lindo que seria o mesmo que um ataque terrorista recusar a proposta. Então, depois de horas, Cindy aceitou.
As duas estavam sentadas em um banco que se encontrava exatamente no centro da praça do anjo caído. — que por acaso tinha esse nome por uma grande estatua de um anjo lamentador que segurava uma foice bem na ponta de um enorme gazebo, e desse gazebo, uma grande e linda praça. Bem... se eu fosse você, guardaria esse lugar, ele é importante — Essa praça era um dos lugares favoritos de Amélia, costumava brincar lá com Cinthya quando ambas eram apenas crianças.
— Porque você pensa que ir a uma médium pode te ajudar? Ela é apenas uma louca golpista. — Rosnou Cindy. — Não vale a pena.
Amélia apenas ficou encarando a garota sem expressar qualquer reação.
— Vai demorar muito pra me mostrar o caminho da macumbeira?
11
George arrumava seus cabelos louros em um espelho no corredor do Shopping Lindsay Ville, seu topete suavemente ajeitado para o lado esquerdo de seu corpo. Por mais incrível que pareça, o penteado de Owen era exatamente o mesmo.
— Criar esse site nem é algo tão importante assim, Gyo. — Argumentou Owen.
George sorriu.
— Você sabe que realmente tem algo de errado com essa cidade, não sabe?
Esse era um assunto que assustava muito Owen. Esse tipo de boato sobre Contenverge ser assombrada se tornou tão popular que criaram uma lenda que, de acordo com ela, quem falasse sobre isso, supostamente, atrairia energias negativas.
— Suzzana e Alan estão sumidos há dois dias e ninguém realmente pensa que eles têm algo? — Disse Owen mudando completamente de assunto. — Imagina o que eles devem estar fazendo nesse exato momento, trancados em um quarto escuro, fazendo...
— Me poupe dos detalhes, por favor. — Disse o garoto, interrompendo-o.
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Os olhos dele reviravam-se cada vez mais. As cordas eram presas bruscamente por todo o seu corpo, amarrando por completo seus braços fortes em uma cadeira fria e metálica. Michelangelo não se lembrava da criatura que o atacara na rua, ou de ter visto a informante parada em frente a ele.
— O que é isso?
De uma única lâmpada, surgiu um pequeno holofote de luz vermelha. Embaixo dela sentava uma garota, vestida formalmente com um vestido dourado e um penteado tão incrível que Michelangelo pensava em como uma presilha tão pequena que segurava uma cartola roxa conseguia prender aquilo.
— Olá, Alpha. — A voz da garota saiu com um som abafado por uma máscara linda que escondia sua identidade. — Dormiu bem?
O garoto não expressou qualquer tipo de reação.
— Nós não poderemos ter um bom diálogo então?
A sala era tão pequena que mal cabia as duas cadeiras. Só agora o garoto percebeu que lá não havia qualquer tipo de janelas. Aquele ambiente estava o deixando louco.
— Socorro. — Gritou o garoto, desesperadamente. — Me ajudem.
O Pânico de Michelangelo foi como um filme de comédia para a informante, a garota ria incontrolavelmente.
— Você acha mesmo que alguém lhe ouvirá? — Rosnou ela. — Eu sou uma garota precavida. Você está no porão da igreja em que a reencar... Elena costumava vir. Estamos seguros aqui.
A garota se levantou e Michelangelo percebeu que ela realmente não era muito alta. Seu vestido dourado era tão brilhante que os olhos do garoto quase ardiam.
— Sabe o que realmente me espanta, Mike? — Indagou a garota. — Ver você perder toda a sua postura de garoto sedutor que conduz lá fora. Aqui dentro você não é nada, Michelangelo. Nada.
O garoto gritava ainda mais enquanto a informante tentava um diálogo viável.
— Agora, eu sou seu Deus.
13
Madame StoneRock era, além de única, a mais conhecida vidente de toda a cidade de Contenverge. Vivia em uma casa grande, aconchegante e extremamente arejada. Amélia e Cinthya estavam na porta de sua casa, um pequeno quadro de madeira escrito: 'Bata apenas três vezes'' se encontrava ao lado da maçaneta da porta.
Sua casa era como um pequeno castelo, o telhado se dividia em dois formando torres enormes e extremamente diferentes das casas da região. Mas eram torres tão pequenas que você poderia olhar e dizer que realmente faziam parte de uma casa.
— Porque apenas três vezes? — Questionou Amélia. — E se eu bater quatro?
Cinthya não demonstrou qualquer tipo de reação.
— Bom, a porta é de madeira, e de acordo com aquela superstição, o mal se afasta quando se bate três vezes nela. Entendeu?
Amélia ergueu as sobrancelhas.
— Sim, mas e seu bater quatro?
Cinthya bufou.
— Esquece, Amélia.
— Eu esperava que viessem mais tarde. — Disse uma voz grave que fez Cinthya pular. — Mas sabia que viriam.
Ela usava uma calça jeans com uma blusa larga e florida. Cinthya pensou que deveria ser uma roupa muito confortável — e era mesmo.
— Consulta semanal, Amy? — Perguntou StoneRock.
O interior da casa de Madame era extremamente grande e incrivelmente acolhedor, uma sala ensolarada acompanhada de uma enorme televisão que se encontrava na parede perto da porta. Dois sofás rodeavam um tapete de veludo, o lado que faltava era completado por uma linda poltrona do mesmo tom de cinza que o sofá era formado. Duas grandes janelas, uma em cada canto da parede faziam com que a sala ficasse extremamente pela luz do sol que entardecia Contenverge.
— Sente-se aqui. — Disse ela apontando para uma grande, sendo elas compostas por duas cadeiras que ficavam lado a ladro, e uma do lado oposto da mesa. — Vamos, vamos.
Sem hesitar, Amélia e Cinthya obedeceram.
— Ah Deus. — Disse StoneRock enquanto fechava os olhos e suspirava apontado para o teto da sala.
A moça ergueu as mãos por cima da mesa com as palmas voltadas para cima. Amélia segurou a mão esquerda de StoneRock, Cinthya a direita.
— É como se... — Ela fez uma expressão confusa. — O próprio inferno estivesse presente nesse cômodo. Oh, um desejo mortal.
Cinthya estremeceu.
— Não confiem na garota de cabelos dourados. Ah, como ela é linda.
As duas se olharam.
— Mas...
A vidente fez um expressão de ódio que fez Amélia se calar.
— Agora eu posso afirmar com todas as letras que nós não estamos sozinhas. Eu consigo sentir o ódio, mas ao mesmo tempo uma compaixão tão grande por uma das entidades. Isso é indescritível. É como a presença de um anjo e o pior de todos os demônios.
Cindy sentiu calafrios passarem por seu corpo ao ouvir a expressão ''o pior de todos os demônios''
Madame StoneRock estremeceu, seus olhos se fecharam e sua boca se abriu enquanto balançava sua cabeça lentamente para todas as direções. As duas gritaram ao vê-la abrir os olhos e perceberem que eles estavam completamente negros. Os ossos dela estalaram enquanto sua cabeça ia agressivamente para a esquerda.
— A reencarnação cairá pela filha do inferno.
A boca aberta de StoneRock projetou uma densa e tóxica fumaça preta que ia em direção ao teto.
— As almas infernais lhe oferecerão amor eterno.
Lágrimas brotaram como chuva nos olhos de Cindy, Amélia gritava desesperadamente. Elas não poderiam largar as mãos, interromper uma conexão espiritual causaria uma reação em cadeira que seria capaz de fazer um grande estrago, claro, ao menos era isso que StoneRock dizia.
— A garota que informa trará vida ao final.
Cinthya pareceu prestar um pouco mais de atenção ao ouvi-la falar sobre essa garota.
— Do circo de sangue, nascerá o mal.
Amélia deitou-se sobre o ombro da, que a confortava enquanto chorava ainda mais. As bochechas de StoneRock se rasgaram tanto que seu sorriso começou a cobrir quase seu rosto inteiro. Seus dentes se tornaram enormes presas. Cinthya não conseguia expressar o medo que estava sentindo naquele momento.
— A amizade infiel trará o juízo final.
14
Stephen estava desesperado.
O corpo do garoto estava completamente imóvel, de braços abertos na beirada de um prédio. Ele gritava desesperadamente. Alguém assistia toda a cena, mas não era possível aquela pessoa ser a informante, naquele momento ela estava interrogando Michelangelo. Você não pode imaginar como é o sofrimento de uma pessoa na situação de Stephen, você fica sem reação e sem qualquer tipo de amparo para suas lágrimas.
— Por favor, não faça isso. — Implorou o garoto. Seus cabelos ruivos estavam grudados em seu rosto por causa do suor. — Ah, Deus. Me ajude, por favor.
''Ninguém pode lhe ouvir'' sussurrou a voz da pessoa em seu ouvido esquerdo. ''Seu Deus não está interessado na sua alma inútil''
— Você está errado. — Rebateu ele. — Deus sempre ouve, ele tem que ouvir.
''Seu Deus não tem poder aqui'' respondeu ''Aqui, eu sou Deus''
O fato de controlar apenas seu rosto fazia com que Stephen delirasse de tanta agonia.
— Quem é você? — Gritou o garoto. — Porque está fazendo isso?
''Em breve, nós seremos apenas um''
''O medo dos humanos''
''Eu sou Lúcifer.''
15
Marjorie era uma mulher de meia idade, dedicada totalmente a cuidar dos seus filhos e de seus familiares. Parou de trabalhar por um tempo para cuidar de sua mãe doente que acabou falecendo dias depois. A perda afetou muito a família, foi como um vírus que corroia cada vez mais a tudo e todos.
Vizinha de Amélia na rua Martin Roth. As duas tinham uma péssima relação, o mal caráter de Amélia fez as duas discutirem diversas vezes. As crianças de Marjorie choravam a noite e a garota batia na porta dela para reclamar do barulho. Isso gerou diversas polêmicas na rua, tanto que uma vez Marjorie bateu com uma vassoura na cara de Amélia e isso fez a garota correr até a delegacia e prestar um boletim de ocorrência.
— Durma bem, pequeno Timmy. — Disse ela enquanto colocava o garoto em uma cama infantil, formalmente decorada com adesivos do Harry Potter. — Os anjinhos vão te proteger. Sempre.
— Eu vou te proteger. Sempre.
Marjorie caminhou até a janela e viu a mãe de Amélia desesperada enquanto gritava na enorme calçada da rua. Pelo que havia entendido, Amélia não havia voltado até agora e já eram 23:00 horas. Um outra mulher acudia ela enquanto chorava ainda mais. Era Linda, mãe de Cindy.
Apesar de todos os conflitos com Amélia, Marjorie era mãe e sabia o que era sofrer por um filho. Não poderia ver aquela cena e não fazer absolutamente nada. Foi então que a ideia surgiu.
A mulher desceu as escadas de sua casa e deu de encontro com sua porta.
Os postes davam um tom lindo de luz na rua. Marjorie usava um lindo casaco vermelho com uma calça legging preta que combinava perfeitamente com o tom de loiro dos seus cabelos.
— Stephania? — Indagou Marjorie. — O que aconteceu com Amélia?
A mulher estava desolada, caída no chão e sendo abraçada por Linda, que usava um conjunto de inverno que vendiam no Shopping Lindsay Ville. As roupas de Stephania eram escuras e presas em um elegante coque que era amarrado com suas próprias madeixas escuras.
— Eu não sei. — Concluiu ela. — Amélia e Cinthya não estão desaparecidas desde que saíram da escola. Ninguém tem ideia de onde elas possam estar.
Marjorie tentava manter uma certa distância de Stephania, que estava extremamente suja com a terra do seu jardim e molhada de choro.
— Eu sinto muito...
— É claro que sente. — Rosnou Linda. — Você nunca gostou de Amélia e agora quer fazer o papel de boa moça vindo aqui e ajudando Stephania? O que é isso? Você não me engana, nunca me enganou. Eu lembro daquele dia no circo Escarlate. Eu sei o que você fez.
Marjorie estava com uma expressão de extremo desgosto.
— Você fala como se fosse uma santa. — Rebate ela. — Nada esconde o seu passado negro. Nada. Você mesma se juntou ao Paraíso Negro e agora cospe no prato que comeu.
— Passar bem, Stephania. — Se despede Marjorie. — Espero realmente que você encontre sua filha.
Linda olhou para ela com frieza.
— Marjorie. — Respondeu a mãe de Amélia. — Você sabe que o dia de retorno está perto, não sabe?
— Sei. — Retrucou ela. — E dessa vez eu vou estar preparada.
16
— Ela se suicidou. — Respondeu o garoto. — Suzzana se jogou nas lanças, eu não sei lhe explicar o motivo.
O delegado Bellmore estava completamente abismado com aquela estória, conhecia Suzzana e sabia que ela jamais faria algo desse tipo. O engraçado de trabalhar com essas coisas, é que você sempre imagina que só irá acontecer com outras pessoas, nunca com você. Nunca imaginaria que quando chegasse na cena de um crime veria uma garota que você viu crescer.
— Alan Lefebvre. — Insistiu o policial. — Você matou Suzzana Rivers?
O garoto estava cansado de ouvir aquela pergunta.
— Não, eu não matei Suzzana Rivers. — Respondeu o garoto, abismado. — Quantas vezes vou ter que responder isso? Ela se jogou nas lanças.
Bellmore suspirou.
— Você sabe me dizer como as câmeras de segurança do circo Escarlate ainda funcionam?
Alan fez que não com a cabeça.
— Pode confiar em mim. — O policial alto ajoelhou enquanto colocou suas duas mãos segurando a cabeça de Alan. — Eu estava no circo Escarlate no dia da chacina e sei do que estou falando, pelo amor de Deus. Sei que tem algo a mais nessa estória e sei também que é raro alguém se suicidar tão brutalmente e de um meio tão doloroso.
— Então está dizendo que sabe...
O policial abaixou a cabeça.
— A última vez que vi algo assim, foi quanto Elena Machiavelli foi parar no hospício.
O garoto não resistiu e caiu no choro. O policial o abraçou.
— Eu posso te ajudar. — Sussurrou ele. — Eu posso.
Lefebvre se soltou de Bellmore.
— Então me ajude a entender. — Suplicou ele. — Me conte o que aconteceu com Elena Machiavelli.
17
Os olhos de StoneRock estavam completamente negros, de ponta a ponta. Seus cabelos louros tomaram uma tonalidade tão escura que alguém poderia falar que eles eram feitos com as próprias sombras. Ela se encontrava completamente imóvel.
— Matar enquanto ainda pode. — A voz de StoneRock era como os tons agudos e graves unidos em apenas um.
Madame soltou as mãos das garotas e ficou em posição de ataque em cima da mesa, olhando diretamente para Amélia.
— Ela não é sua amiga. — Rosnou. — Não confie nela.
— Isso é impossível. — Gritou a garota. — Eu confio minha vida em Cinthya.
StoneRock engoliu em seco.
— Matar enquanto ainda pode. — As unhas de Madame cresceram. Seus cinco dedos voaram pelo rosto de Amélia, que foi jogada de sua cadeira. — Matar.
Cinthya estava completamente abalada com tudo aquilo, Amélia estava sendo atacada e ela estava sem qualquer tipo de reação. Seu rosto completamente vermelho, molhado com lágrimas de desespero.
—O extermínio deve ser iniciado.
Cinthya não aguentava mais ver aquela cena. StoneRock em cima de Amélia, levando socos na cabeça e gritando de dor. Era impossível ver aquilo e não ter a compaixão de poder ajudá-la. Foi então que Cinthya pegou a cadeira de carvalho em que estava sentada, e jogou contra as costas de Madame. A mulher rugiu de dor.
As garras de StoneRock foram cravadas na parede. A mulher andou pelas paredes até sumir da vista de Amélia e Cinthya.
18
Os cachos loiros de Stacy voavam levemente enquanto a garota andava pelos corredores do Shopping Lindsay Ville. Chloe Scotte, uma garota que ficou famosa por postar vídeos engraçados na internet passou por Stacy e esbarrou grotescamente na garota, estraçalhando a tela do celular dela no chão frio.
— Que droga, garota. — Gritou Stacy. — Você é cega? Que inferno.
Os cabelos castanhos de Chloe estavam jogados pelo lado direito de seu rosto.
— Você está preocupada com um celular quebrado? — Disse a garota em meio a pulinhos. — Compre outro! Afinal, você não é rica?
Chloe deu um sorriso forçado enquanto acenava e sumia em meio à multidão.
Em meio a Stacy no chão pegando seu celular quebrado, surgiram duas entidades. Owen e George. A garota revirou os olhos ao ver os dois.
— Quer ajuda? — Perguntou Owen enquanto arrumava os óculos.
A garota pensou por alguns instantes.
— Seria muito egoísmo dizer que não. — E pela primeira vez em toda a sua vida, Stacy chorou em público. Owen e ela estavam lá, se abraçando enquanto a garota chorava desesperadamente.
Stacy tinha 1,65 enquanto Owen tinha 1,80. Os dois usavam roupas de frio, ela uma saia vermelha com uma blusa branca. Ele? Um conjunto de inverno que muitos garotos compraram nessa estação do ano.
— É namoro ou amizade?
— É cuidar da sua vida. — Rebateu Stacy. — Babaca.
O garoto fez uma cara de nojo.
— O tempo passa, as horas voam. — Disse George. — E Stacy continua delicada como sempre.
19
— Facilite as coisas para mim, Michelangelo.
A garota da cartola estava a um palmo do rosto dele. Ela deixou seu canivete que usava para ameaçar Mike cair no chão. Era agora.
A cabeça de Michelangelo se chocou contra a máscara da garota, que criou uma rachadura em cima de sua sobrancelha.
A voz dela era irreconhecível, pelo simples fato de um microfone passar atrás de sua máscara que mudava sua voz. Isso fazia com que Michelangelo penssasse que a garota da cartola era uma pessoa que não conhecia, mas não era o caso.
O garoto chutou ela, que caiu contra a porta. Mike jogou a cadeira bruscamente contra o chão. Seus dedos alcançaram o canivete, a corda estava sendo cortada. O garoto solta um fraco grito ao perceber que havia se cortado sem querer. Mas isso não importava muito, a corda estava completamente cortada. A informante inconsciente, jogada no chão.
Mas mesmo depois de tudo isso, Michelangelo estava decidido.
A máscara da garota d'A cartola deveria ser retirada.
20
Os olhos de Stephen estavam negros de uma ponta a outra, olheiras gigantescas cobriam seu rosto. Uma garota o abraçava incansavelmente, seus olhos eram roxos de tanto que a garota chorava. O garoto não mostrava qualquer tipo de reação, seus braços continuavam colados em seu próprio corpo enquanto a garota o tomava em seus braços quentes e acolhedores.
— Onde esteve por todos esses dias? — A garota estava quase sussurrando. — Ah, Stephen.
A garota deu um suspiro profundo.
— Eu sinto tanto a sua falta.
Isso chamou a atenção do garoto que revirou os olhos para ela, deu um sorriso forçado e completou:
— Nós também sentimos. — A voz do garoto era como a de Madame StoneRock, tons agudos e graves misturados em uma voz perturbador e desumana. — Estivemos procurando por você.
Ela sabia, havia algo extremamente errado com Stephen.
21
Amélia já estava tocando na maçaneta quando ouviu os gritos de desespero de Michelangelo.
Droga.
— Você ouviu isso? — Gritou Cinthya com os cabelos louros grudados em seu rosto pelo suor. — É Michelangelo.
Amélia correu para o fundo da sala, deu de encontro com um grande corredor e uma escada que dava no porão da casa.
— Indo para algum lugar, bonitinha? — Gritou StoneRock enquanto se desprendia do teto e agarrava Amélia. — O extermínio deve ser iniciado.
Ambas estavam jogadas no chão, se debatendo uma com a outra. Uma das garras de StoneRock foi de encontro com a bochecha de Amélia, criando um horrível corte que sangrava aos poucos.
— Alguém me ajude. — Implorou a garota. — Por favor.
O Máximo que Cinthya poderia fazer era abrir a porta e tirar Michelangelo de dentro daquele quarto. A informante não havia dito que ele estava em uma igreja?
A garota se jogou em cima da porta enquanto a fechadura se dividia em duas.
A sala era pequena, sem qualquer tipo de janelas, mal tinha espaço para as duas cadeiras que lá estavam. O garoto estava com sua mão sangrando e alguns pedaços de cordas jogados em volta dele. O que Michelangelo estava fazendo ali?
As duas mãos de StoneRock estavam erguidas enquanto Amélia gritava desesperada.
— Pare. — Gritou Cinthya o mais alto que sua voz conseguia chegar. — Eu ordeno.
Por incrível que pareça, Stone Rock parou. Passou cinco segundos olhando diretamente para o fim do corredor.
— Isso funcionou? — Perguntou Michelangelo espantado. — Espera aí, o que é essa coisa?
Madame se colocou em posição de ataque, apontando diretamente para o fim do corredor. Parecia estar completamente confusa, olhava para Amélia, estirada no chão, e ao fim do corredor. Foi então que todos perceberam o que ela estava olhando. Era uma pessoa usando um véu extremamente denso que cobria todo o seu rosto, uma roupa de couro que ficava larga e extremamente ameaçadora em seu corpo.
— O extermínio deve ser iniciado.
As duas entidades correram, ao mesmo tempo, uma em direção a outra. StoneRock agarrou a pessoa do véu por baixo, derrubando-a no chão agressivamente. A pessoa tirou um canivete de sua grande bota negra e o enfiou bruscamente no pescoço da mulher, que se contorcia e gritava desesperadamente. Suas mãos apontaram para Cinthya, pedindo loucamente por socorro.
A garota loura puxou Cinthya do chão, seu rosto estava manchado de sangue, assim como parte do seu ombro. Michelangelo segurou os dedos da garota enquanto a puxava para fora da casa. Era tarde para ajuda, era tarde para qualquer coisa.
Já era noite, os gritos de StoneRock ainda poderiam ser ouvidos por eles.
— Isso significa que... — Disse Amélia.
Michelangelo bufou.
— A história que o professor Edward contou na aula de etnologia é real. — Bravejou o garoto. — Lúcifer subiu para a terra e está em busca de soldados infernais para seu exército de olhos púrpura.
— Nós temos que falar com Elena. — Continuou Cinthya. — Ela tem conexão direta com Cally.
Amélia deu um sorrisinho e disse:
— Mas antes de tentarmos qualquer coisa, precisamos decidir a identidade dessa vagabunda.
— Eu conseguia ouvir a conversa de vocês, dentro do cativeiro. — Prosseguiu o garoto. — Aquilo que a vidente disse é uma profecia.
— E creio que nós todos façamos parte dela.
Cinthya colocou a mão disfarçadamente dentro de seu bolso.
Foi então que o celular dos três fez a noite ganhar uma sinfonia melancólica e vibrante. Toques diferentes voando pela rua e ecoando incansavelmente pelo quarteirão.
Ao ler a mensagem, Amélia ficou paralisada.
— Não é possível. — Completou Michelangelo.
‘’Lindas são as paisagens espalhadas pelo mundo, aposto que vocês querem ver todas as elas um dia, mas eu não boto fé. Afinal, a vida de vocês não vai durar tanto assim.’’
Com amor,
A informante