Eu era repórter do Programa Linha Verdade da Falecida TV Cultura de Criciúma, era um dia a tarde, nós estávamos sem matéria nenhuma para apresentar no programa.
No caso já era umas duas da tarde e nós não tínhamos absolutamente nenhuma matéria, então resolvemos dar aqueles “migué” que os jornalistas dão quando estão sem matérias. Tipo ir no Hemosc falar do banco de sangue, ir no SINE falar das vagas de emprego.
Nós inovamos no “migué” e fomos na sede da Policia Militar fazer uma matéria sobre as câmeras de segurança da cidade.
Nem tínhamos começado a entrevista ainda e o telefone da central de emergência tocou, nos estávamos distraídos falando sobre as câmeras quando ouvimos o atendente falar em alto e bom som:
-Um corpo sem a cabeça? Onde?
Na hora vimos que era uma matéria bem mais interessante que a das câmeras, ficamos ligados no endereço e assim que conseguimos entender, saímos correndo que nem dois loucos para filmar o cara sem cabeça.
Bom, saímos a toda velocidade que aquela joça daquele corsa 1.0 MPFI podia ir, na realidade a nossa maquina de cortar grama era mais rápida que ele.
Chegamos no lugar, uma colina que ficava localizada atrás do cemitério do Bairro Brasília em Criciúma. O lugar era de difícil acesso, tinha que subir um morros e descer outros, eu com esse corpinho já estava quase ligando pro IML trazer saco pra dois.
Com certeza eu ia infartar se tivesse mais uma subidinha daquela.
O que mais me desanimou é que na minha frente ia um policial duas vezes mais gordo que eu, e mesmo com todo meu esforço eu perdi feio pra ele.
Quando cheguei no local a cena foi chocante, um homem deitado sem camisa e sem a cabeça. Um absurdo! Num dia frio daquele onde ele ia sem camisa?
Bom, ao lado do corpo havia uma moça ajoelhada, segurando a mão dele e chorando desesperadamente.
O problema quando a gente chega numa ocorrência assim é que não se faz a mínima ideia do que aconteceu e o cérebro fica meio que voando e pensando coisas idiotas. (Tá tá, eu sei que o meu só pensa coisas idiotas, mas nesses casos, aumenta)
Eu decidi conversar com a moça e nesse momento eu fiz a pergunta mais imbecil que eu fiz até hoje em toda minha vida.
Olhei a moça sem saber como me comunicar com ela, me abaixei quase me ajoelhando também e perguntei:
-Quem era ele moça?
Ela chorando me olhou e disse:
-Meu marido
-E cadê a cabeça dele?
Muito mais desesperada do que na primeira pergunta ela abriu um choro ainda mais alto e respondeu:
-Euuu nããão seiiiii
Aí meus amigos, veio a pergunta derradeira que fez até a moça parar de chorar e começar a rir.
Eu olhei fundo nos olhos dela, já quase chorando junto e perguntei:
-Então se a cabeça dele não ta aqui, comé que tu sabe que ele é ele.
Todo mundo riu, os policiais riram, a torcida riu, o cinegrafista Georgy Ricardo riu, até a viúva riu e se o falecido tivesse cabeça, ria também!