As mãos tremiam de forma incontrolável, eu o observava em meio aos tropeços, tentar formular uma frase para finalmente me dizer o que queria. Você retirou os óculos e catou de dentro do bolso um lenço, de forma desengonçada limpava as lentes. Pouco tempo depois, fui descobrir que essa era uma das suas muitas manias, manias estas que me faziam rir. As palavras saíram como um simples murmúrio "eu gosto de você". Foi semelhante a aquela brisa morna de uma manhã de primavera, quando o cheiro das flores invade as narinas e forçam um sorriso no rosto alheio. E este murmúrio quase inaudível, foi o que fez meu coração bater tão alto quanto tiros de canhão, reverberando por todo meu corpo.
Os meses que se sucederam após aquele dia, foram os melhores e mais prazerosos que eu poderia experimentar. Os beijos roubados, os afagos no meio da tarde, o calor do seu corpo no meu enquanto observávamos a neve cair lentamente, fazia o dia branco e silencioso, se transformar em uma explosão de cores, embaladas pela sinfonia das batidas do seu coração. Seu cheiro... Você cheirava a roupa limpa e fresca. O aroma natural que eu mais gostava e, que na minha opinião, era superior a qualquer outra fragrância. Sua risada sempre provocava a minha. Meu corpo sempre desejava o seu. Meu coração ardia por seu amor. Minha mente desenhava seu sorriso a todo momento. Minhas mãos eram atraídas por seus fios negros e macios. Minha boca sempre buscava a sua. Era um ciclo vicioso.
Você era aquela base secreta onde todos os super heróis se reuniam, e eu me sentia a pessoa mais segura do mundo. Sabe aquela sensação boa de respirar fundo e dizer “finalmente estou em casa”? Pois é, era exatamente assim que eu me sentia sempre que encostava minha cabeça em seu peito metido a travesseiro.
Eu gostaria que nossa história tivesse tido um final feliz, e muito embora essas sejam apenas Memórias Póstumas de um Amor, elas ainda me trazem felicidade, mesmo que o beija-flor que eu tanto amei, tenha voado para longe e encontrado outra flor.