Todas as manhãs Meredith pegava seu velho guarda-chuva preto e perambulava pelas ruas, fazendo sempre a mesma pergunta para quem encontrava:
Ei você, quer morrer?
Na maioria das vezes a mulher de meia idade era ignorada por completo. Alguns olhavam assustados e outros confusos, mas existiam alguns poucos que entravam na brincadeira e respondiam positivamente, fazendo com que a conversa se prolongasse.
- Qual seu nome? – Perguntou a um menino franzino, que respondeu a primeira pergunta por conta da pressão dos “valentões” que o empurraram para mais perto da senhora e saíram de perto.
- Me chamo Alef, senhora. – Respondeu, limpando o sangue que escorria de seu nariz com as costas da mão.
- E como você gostaria de morrer, Alef? – Perguntou séria, enquanto anotava o nome do menino em um caderno velho de capa preta.
- Nunca parei para pensar. Acho que queria morrer dormindo. Eu já sofri tanto por causa daqueles caras. – Fez uma pausa, olhando com desgosto para seus agressores. – Acho que eu morreria feliz se soubesse que eles morreram de forma muito trágica. – Sorriu triste.
- E como queria que fosse a morte deles?
- O Matt poderia ser espancado, talvez assim ele entendesse o meu sofrimento. Já o Liam poderia morrer queimado. – Riu, passando a mão pelas marcas de queimadura em seu braço.
- E quanto aquele outro, o de cabelo vermelho.
- Eu só queria que o coração do Alex fosse feito em pedaços. – Disse, já aos prantos.
Em nenhum momento Meredith parou de escrever, ela tomou nota de tudo que Alef disse, antes de abrir sua sombrinha e fazer seu percurso de volta para casa.
Durante o caminho ela não parou mais ninguém, apenas concentrou-se em cantarolar sua música favorita.
Fake! Anti-fascist lie, (Psychosocial)
I tried to tell you, but (Psychosocial)
Your purple heatrs are giving out (Psychosocial)
Can’t stop the killing idea (Psychosocial)
If it’s hunting season (Psychosocial)
Is this you want? (Psychosocial)
I’m not the only one!
xx.xx
Na manhã seguinte, Alef estranhou não encontrar seus agressores o esperando na porta da escola, mas logo o mistério seria solucionado, pois o porteiro lhe interceptou e questionou:
- O que faz aqui, menino?
- Eu vim para aula, como todos os dias.
- Você não ficou sabendo?
- O que eu deveria saber?
- Sabe aqueles seus amigos?
- Que amigos?
- O loirinho, aquele magricelo e o outro lá de cabelo vermelho.
- Eles não são meus amigos.
- Corrigindo, eles não eram.
- Como assim?
- Mortos. Todos estão mortos. Um apanhou tanto que morreu antes mesmo de chegar ao hospital, o outro morreu queimado e o pior, teve um que foi achado sem o coração.
Alef ficou aterrorizado a o ouvir aquilo. Tudo que ele confidenciou para a mulher misteriosa havia se tornado realidade. Correu para casa, sem nem mesmo prestar atenção no resto da história que o porteiro contava.
Ao chegar, trancou-se no quarto e chorou desesperado. Milhões de coisas vinham à sua mente, mas uma em particular lhe deixava ainda mais apavorado. Ele disse a ela que morreria feliz depois de saber que os outros haviam morrido.
- Está tudo bem. Eu só preciso ficar acordado. Se eu não dormir, ela não vai aparecer. – Repetia para si mesmo, tentando acreditar naquela mentira.
A noite caiu e Meredith apareceu magicamente em seu quarto.
- V-Você!
- Você soube, certo? Está feliz?
- Eu... Eu não sei. – Disse, sentando na cama e abaixando a cabeça.
- Se quiser, eu posso lhe contar como foi.
- Tudo bem, me conte. – Pensou que assim poderia encontrar uma maneira de escapar.
- Fui primeiro visitar o Matt, ele era um menino durão. Meus socos não resolveram, então eu quebrei a minha sombrinha nele. Foi realmente uma pena eu não ter conseguido o matar antes da ambulância aparecer, mas ele morreu e é isso o que importa. Aquele outro, o Liam, era um menino bem descuidado. Ele não deveria ter deixado a porta da cozinha aberta, então eu fui lá e fiz essa caridade para ele, mas não antes de acender todas as bocas do fogão. O menino descuidado foi acender o fósforo antes de conferir se as bocas estavam ligadas e bem... Deu no que deu. – Fez uma breve pausa para pegar algo dentro de sua bolsa. – E aqui está o que sobrou do coração de seu amado Alex. Posso deixar ele com você, se quiser.
- Como você fez isso? – Por mais que pensasse, não conseguia achar uma saída.
- Ele estava dormindo. Eu o amarrei na cama e usei o bisturi. Até que ele ficou vivo por um bom tempo, mas acho que morreu antes de eu conseguir tocar em seu coração. Foi realmente uma pena. – Alternava seu olhar entre o menino e o coração. - Bem, agora é a sua vez. Como exatamente quer morrer, Alef.
- Eu quero morrer de forma rápida e indolor, por favor.
- Eu sei exatamente o que você quer. – Pegou uma seringa, com um líquido transparente nela. – Você quer isso.
- Antes disso, eu posso perguntar uma coisa?
- Claro que pode, meu querido.
- Quem é você?
- Eu? – Riu de leve, enquanto aplicava vagarosamente a injeção no braço do menino. – Eu sou a Morte.