Meredith
Yvi
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 25/01/18 21:56
Editado: 13/05/21 22:54
Avaliação: 9.5
Tempo de Leitura: 5min a 6min
Apreciadores: 5
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Palavras: 838
Não recomendado para menores de dezoito anos
Capítulo Único Meredith

Todas as manhãs Meredith pegava seu velho guarda-chuva preto e perambulava pelas ruas, fazendo sempre a mesma pergunta para quem encontrava:

Ei você, quer morrer?

Na maioria das vezes a mulher de meia idade era ignorada por completo. Alguns olhavam assustados e outros confusos, mas existiam alguns poucos que entravam na brincadeira e respondiam positivamente, fazendo com que a conversa se prolongasse.

- Qual seu nome? – Perguntou a um menino franzino, que respondeu a primeira pergunta por conta da pressão dos “valentões” que o empurraram para mais perto da senhora e saíram de perto.

- Me chamo Alef, senhora. – Respondeu, limpando o sangue que escorria de seu nariz com as costas da mão.

- E como você gostaria de morrer, Alef? – Perguntou séria, enquanto anotava o nome do menino em um caderno velho de capa preta.

- Nunca parei para pensar. Acho que queria morrer dormindo. Eu já sofri tanto por causa daqueles caras. – Fez uma pausa, olhando com desgosto para seus agressores. – Acho que eu morreria feliz se soubesse que eles morreram de forma muito trágica. – Sorriu triste.

- E como queria que fosse a morte deles?

- O Matt poderia ser espancado, talvez assim ele entendesse o meu sofrimento. Já o Liam poderia morrer queimado. – Riu, passando a mão pelas marcas de queimadura em seu braço.

- E quanto aquele outro, o de cabelo vermelho.

- Eu só queria que o coração do Alex fosse feito em pedaços. – Disse, já aos prantos.

Em nenhum momento Meredith parou de escrever, ela tomou nota de tudo que Alef disse, antes de abrir sua sombrinha e fazer seu percurso de volta para casa.

Durante o caminho ela não parou mais ninguém, apenas concentrou-se em cantarolar sua música favorita.

Fake! Anti-fascist lie, (Psychosocial)

I tried to tell you, but (Psychosocial)

Your purple heatrs are giving out (Psychosocial)

Can’t stop the killing idea (Psychosocial)

If it’s hunting season (Psychosocial)

Is this you want? (Psychosocial)

I’m not the only one!

xx.xx

Na manhã seguinte, Alef estranhou não encontrar seus agressores o esperando na porta da escola, mas logo o mistério seria solucionado, pois o porteiro lhe interceptou e questionou:

- O que faz aqui, menino?

- Eu vim para aula, como todos os dias.

- Você não ficou sabendo?

- O que eu deveria saber?

- Sabe aqueles seus amigos?

- Que amigos?

- O loirinho, aquele magricelo e o outro lá de cabelo vermelho.

- Eles não são meus amigos.

- Corrigindo, eles não eram.

- Como assim?

- Mortos. Todos estão mortos. Um apanhou tanto que morreu antes mesmo de chegar ao hospital, o outro morreu queimado e o pior, teve um que foi achado sem o coração.

Alef ficou aterrorizado a o ouvir aquilo. Tudo que ele confidenciou para a mulher misteriosa havia se tornado realidade. Correu para casa, sem nem mesmo prestar atenção no resto da história que o porteiro contava.

Ao chegar, trancou-se no quarto e chorou desesperado. Milhões de coisas vinham à sua mente, mas uma em particular lhe deixava ainda mais apavorado. Ele disse a ela que morreria feliz depois de saber que os outros haviam morrido.

- Está tudo bem. Eu só preciso ficar acordado. Se eu não dormir, ela não vai aparecer. – Repetia para si mesmo, tentando acreditar naquela mentira.

A noite caiu e Meredith apareceu magicamente em seu quarto.

- V-Você!

- Você soube, certo? Está feliz?

- Eu... Eu não sei. – Disse, sentando na cama e abaixando a cabeça.

- Se quiser, eu posso lhe contar como foi.

- Tudo bem, me conte. – Pensou que assim poderia encontrar uma maneira de escapar.

- Fui primeiro visitar o Matt, ele era um menino durão. Meus socos não resolveram, então eu quebrei a minha sombrinha nele. Foi realmente uma pena eu não ter conseguido o matar antes da ambulância aparecer, mas ele morreu e é isso o que importa. Aquele outro, o Liam, era um menino bem descuidado. Ele não deveria ter deixado a porta da cozinha aberta, então eu fui lá e fiz essa caridade para ele, mas não antes de acender todas as bocas do fogão. O menino descuidado foi acender o fósforo antes de conferir se as bocas estavam ligadas e bem... Deu no que deu. – Fez uma breve pausa para pegar algo dentro de sua bolsa. – E aqui está o que sobrou do coração de seu amado Alex. Posso deixar ele com você, se quiser.

- Como você fez isso? – Por mais que pensasse, não conseguia achar uma saída.

- Ele estava dormindo. Eu o amarrei na cama e usei o bisturi. Até que ele ficou vivo por um bom tempo, mas acho que morreu antes de eu conseguir tocar em seu coração. Foi realmente uma pena. – Alternava seu olhar entre o menino e o coração. - Bem, agora é a sua vez. Como exatamente quer morrer, Alef.

- Eu quero morrer de forma rápida e indolor, por favor.

- Eu sei exatamente o que você quer. – Pegou uma seringa, com um líquido transparente nela. – Você quer isso.

- Antes disso, eu posso perguntar uma coisa?

- Claro que pode, meu querido.

- Quem é você?

- Eu? – Riu de leve, enquanto aplicava vagarosamente a injeção no braço do menino. – Eu sou a Morte.

❖❖❖
Apreciadores (5)
Comentários (5)
Postado 25/01/18 22:10 Editado 25/01/18 22:41

De tão mal q tu falou, parecia q seria algo horrível....

Mas, até que ficou legal, talvez não tão bem estruturado como teus textos mais atuais, mas nada mau, minha anjinha.

Congratz!

Postado 25/01/18 22:19

Acredite, esse não foi o pior que eu achei! kkkkkkkkkkkkk

Cada k é uma lágrima. Sinistro.

Obrigada!

Postado 26/01/18 00:22 Editado 26/01/18 00:23

Gostei bastante e achei bem desnecessário aquele aviso lá nas notas, pois a obra está muito boa. Acredito que uma revisão mais atenciosa solucione alguns desfalques na narrativa, mas não é nada gritante e muito menos incômodo.

Meio que já desconfiei do final, mas até que eu chegasse nele, a intensidade dos acontecimentos foi avassaladora e fui tomada por uma curiosidade gigante.

Parabéns, ficou muito bom ❤

Postado 26/01/18 21:50

kkkkkkkkkkkkkkkkk O problema é conseguir fazer a revisão sem sentir vergonha. Socorro.

Obrigada!

Postado 27/01/18 18:18

Sinceramente, gostei bastante da sua obra.

Uma construção e desenvolvimento sem muitos detalhes, contudo, mesmo assim, adoráveis. Todavia, não posso essquecer de falar da narrativa que manteve a história tranquila mesmo nos momentos mais dramaticos.

Eu não sei o porquê, mas imaginei, Alef, ruivo. HAHAHAHAH.

Obrigado por compartilhar sua obra e meus sinceros parabéns.

<3

Postado 27/01/18 22:58

Digamos que eu não levava muito jeito para escrever coisas longas na época que criei a Meredith. Não que hoje eu leve, mas acho que posso dizer que melhorei um pouco, pelo menos.

Muito obrigada!

Postado 01/02/18 22:05

Eu só queria deixar registrado aqui que essa é uma das melhores obras que já li. De verdade. Apesar de ser um texto antigo, como você alega, ele me encantou completamente. Cada detalhe, cada sentimento, cada momento. Foi uma leitura impressionante, é como se não conseguíssemos parar de ler; fiquei até assustada com a quantidade de palavras, porque juro, achei que fosse bem menos.

Quando Meredith se apresentou, logo a imagem de uma bruxa se fez em minha cabeça, por causa da vestimenta e do detalhe de sua idade, até de uma serial killer me veio à mente. Por isso me sinto um pouco burra de não ter desconfiado que era a Morte antes.

Eu acho que se colocasse mais descrições e desenvolvesse mais as consequências do desejo do Alef seria bem interessante, mas nada que tire a magia que ronda essa obra.

Aliás, aqui a gente tem uma bela lição: cuidado com aquilo que deseja. É claro, você não esperar desabafar justamente para a Morte, mas em algum momento você deseja o mal de alguém, mesmo que inconscientemente, mesmo que mínimo; você deseja, sempre desejamos.

Tal fulano podia tirar uma nota baixa só para aprender. Ciclano podia ser ignorado para aprender a ser menos convencido. Beltrano podia morrer por ser tão ignorante e manipulador.

Às vezes, o destino se encarrega de tornar alguma sentença verdadeira, e acredite, isso não é gratuito ou uma amostra grátis. Tudo tem um preço. E no caso do Alef, seu preço foi a própria morte (ao menos ele pode escolher uma calma, né non?)

Parabéns!

Postado 02/02/18 15:51

A falta de descrição se dá ao fato de que na época que eu escrevi esse treco, eu não tinha noção de nada ainda. Lembro que escrevi logo no início do nosso DW, mas acebei desistindo de postar. x.x

Muito obrigada! <3

Postado 31/05/18 03:13

Deslumbrante! Arrisco-me a dizer que este conto tem toda uma elegância... Maravilhoso! Eu leria oitocentas histórias sobre a Meredith! Que pena que acabou tão rápido!

MEUS MAIS SINCEROS PARABÉNS, adorei!

Postado 31/05/18 14:50

Eu ainda não sei como postei esse texto... Me deu vontade de modificar ele e até torná-lo uma long, mas a falta de tempo não me permitiu, então acabei postando do jeito que ele sempre foi... e_e

Muito obrigada! <3

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