Entrevero no Fandango
Hiryuu
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 21/01/18 23:46
Editado: 22/01/18 00:12
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 6min
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Notas de Cabeçalho

Mais um texto antigo? Nah, esse é novo, hehe...

A gauchada vai tirar de letra, mas acho que vai ter gente catando dicionário :p

Capítulo Único Entrevero no Fandango

O sol ainda seguia a meia viagem, quando a peonada largou da lida. Afinal de contas, era sábado, e a indiada aproveita pra ver as carreiras ou camotear com a prenda.

O xirú de nosso causo, por sua vez, chegou no rancho depois de passar no rio e tirar a poeira do couro. Desencilhou o baio e o largou no piquete, entrou no rancho e passou a mão em meio quilo de charque e um pedaço de pão, de forma a matar as lombrigas, e se atirou nos pelego, a fim de dar uma sesteada.

Lá pelas tantas, acordou meio sobressaltado e, dando uma espiada pela janela, viu que o sol já se aprochegava das coxilhas. Levantou e botou a melhor bombacha, calçando um par de botas novas. Então, passou uma água-de-cheiro nas melenas, deu um trato na garrucha e no três listra, e pegou o petiço, catando o melhor apero. Depois de encilhado o animal, pendeu, numa marcha troteada, na direção da vila.

Parou no bolicho do seu Tibúrcio, entrando com pompa e cumprimentando o povaréu que se espalhava pelas mesas com um tapa no chapéu.

- Buenas tardes, seu Tibúrcio. Me bota uma canha pra esquentar o bucho.

- Mas bah, vivente, onde vais todo faceiro assim?

- Pois hoje tem fandango no Tio Bento, e não saio de lá sem uma prenda pra levar pro rancho.

- Oigalê, pois tome mais um trago, guri, que tá mais que na hora de aprumar essa vida.

Sem demora nosso xirú virou o copo e montou no pingo, já pedindo ao Patrão Velho que lhe desse jeito, e apurou na direção da bailanta.

Chegando no bochincho, já atou o baio na porteira e adentrou o salão, que já se encontrava estivado. O gaiteiro puxava um xote lasqueado, e a gauchada fandangueava sem parar.

Cumprimentou alguns cupincha, e passou a campear pelas mesas. Pelas tantas, vislumbrou seu Tobias e a família, e aprochegou-se.

- Buenas noches, seu Tobias. Baita fandango animado, não?

- Capaz que não, guri. Esse gaiteiro é dos melhor desses pago, eu e a china véia já conhecemos de outros festo.

- A prenda me concede essa dança? - disse, voltando-se à filha de seu Tobias.

- Com muito gosto.- e já seguiram no vaneirão que o gaiteiro puxava.

Depois de duas voltas no salão, o xirú finalmente tomou coragem e puxou conversa:

- A chinoca está uma flor hoje, parece até um ipê florido.

- Me deixas sem jeito assim, mas tu também estás macanudo por demais esta noite.

O vivente se encheu de faceirice, tanto que largou uma sapateada no meio do salão. Mas, as esporas terminaram por enganchar no vestido de outra prenda, abrindo um talho derriba até embaixo. Nisso, ela prendeu o grito:

- Mas parece que tem cavalo nesse baile.

- Pois dona - respondeu o índio, sem pestanejar -, se tem cavalo não sei, mas arrecém mesmo enrosquei minhas espora na cola de uma potranca.

Mas pra que foi... O gaúcho que dançava com a guria era um qüera trompeta, que empurrou a prenda de lado e puxou do trinta. Antes que pudesse usar da garrucha, entretanto, o três listra já meteu um pontaço no vivente, e nosso xirú, num tirão, manoteou nas melena e degolou o guasca.

O gaiteiro parou a gaita, e logo foram acudir o ferido. Mas, vendo que o índio não era lá de muita importância, tascaram um lenço no talho, limparam o sangue do chão e seguiram o baile.

Mas, bateu na delegacia um piá, e já chegou desembuchando:

- Delegado, deu entrevero no fandango do Tio Bento.

- Bah guri, mas é coisa séria?

- Deu sangue e tudo, delegado.

- Capaz?!? A la pucha, mas era só o que me faltava! - disse o delegado, já saindo com dois brigadianos pra ver o ocorrido.

O fandango seguia animado, como se nada tivesse ocorrido, quando a Brigada chegou. O delegado puxou logo o dono do salão pra um canto, enquanto os brigadianos davam uma olhada no defunto. Um ou outro gaudério à meia-guampa foram tomar partido do morto, procurando charlar com o delegado. Despachando os gambás, encordoaram a gauchada e começaram o interrogatório. Lá pelas tantas, um índio loco de topetudo se fez de chancho rengo, e logo o relho do brigadiano lhe lascou o lombo. Aproveitando esse salseiro, dois viventes largaram os panos, e os brigadianos culatrearam atrás deles.

Nessa feita, aproveitando o flagrante, nosso xirú manoteou a mão da prenda e foi-se à la cria, montando no pingo e largando campo afora, antes que o banzé se voltasse pra ele.

Diz-se que esse xirú e a prenda hoje vivem faceiros em um rancho perto do capão da grota, e o caso do fandango acabou esquecido pelo delegado, pois o morto era um baita maula daqueles pagos, e muitos naquela querência deram graças que encontrou seu fim.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Revisei? Bem, por alto... Tem erros de português? Depende... português do Brasil ou português gaúcho?

Anyway, espero que tenham curtido.

Apreciadores (2)
Comentários (3)
Postado 02/02/18 23:26

Então, um dicionário cairia muito bem agora. Algumas coisas eu até entendi, outras eu lembrei e umas mais eu meio que deduzi pelo contexto, mas ainda assim não sei de nada. Que sinistro! kkkkkkk

Parabéns...

Postado 03/02/18 01:21

Será q eu deveria traduzir, minha anjinha? :p

Postado 03/02/18 21:57

...

Postado 25/03/18 18:56

Um bom texto! Eu tive que pesquisar o significado da maioria das expressões, mas no fim, consegui entende-lo. Está de parabéns!

Postado 25/03/18 18:57

Obrigado!

Postado 31/10/18 16:15

São estes textos que me fazem ter brilho nos olhos e ódio no coração, só de lembrar as obras que líamos para tentar interpretar a linguagem e traduzir para o modo como falamos... Mais difícil que aprender alemão!

Obra incrível, engraçada e muito fofinha! Parabéns, espero que seja publicada e cause pesadelos em muitas crianças paulistas nas aulas de Português!

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