Tentar abrir os olhos foi uma tortura. O barulho ensurdecedor do despertador também não ajudava em nada. Tateou, de olhos fechados, até que o encontrou, desligando-o. Finalmente teve coragem de abrir os olhos.
A dor o atingiu como um trem desgovernado. Uma ressaca daquela. Arrastou-se para fora da cama. Forçou-se a se colocar de pé.
O caminho até o banheiro parecia um rally cheio de obstáculos. O peso da bebida do dia anterior o obrigava a ir de cabeça baixa, até que chegou à pia e olhou para o espelho.
A ressaca passou na hora. Sua boca, queixo, pescoço... Totalmente cobertos de sangue já ressecado. Olhou para as mãos: também cobertas de sangue quase até os cotovelos. Os olhos inchados e vermelhos terminavam de fazer com que parecesse um louco fugido de um hospício.
- Novamente, então? – resignou-se, com um suspiro.
Outras vezes acordara coberto de sangue, sem se lembrar de nada da noite anterior. Estranhamente, sentia-se curioso pela situação: de onde vinha o sangue? De quem era? Por que estava assim?
Sabendo que não teria respostas, pois nunca se lembrava de nada, pôs-se a lavar-se. Já sabia o que faria depois do longo dia de trabalho que o aguardava: entrar no primeiro bar que encontrasse.
Pois ele não sabia o que ocorria, mas alguém sabia: aquele que tomava seu lugar quando o uísque descia queimando sua garganta. Ele sabia, e iria trazê-lo à tona até que sua curiosidade fosse saciada e ele mesmo também soubesse.