O cheiro era insuportável. Cheiro de sangue, de morte. Cheiro de guerra e horror.
Por que raios tinha que estar ali? Poderia estar em casa, com sua esposa. Por mais que soubesse que o inimigo acabaria, cedo ou tarde, caindo sobre eles, e que atacar seria o mais certo a fazer, não queria estar ali.
Mas não era sua decisão. Fora convocado e deveria honrar seu juramento. O juramento que todos faziam: de defender seu país.
“Será simples”, os generais disseram. “Os pegaremos de surpresa”, os generais disseram. “Quando se derem conta do ataque, já estarão acabados”, os generais disseram.
Foi um massacre. A primeira leva atacou o castelo. Tomou os muros sem muita dificuldade. Abriram os portões para que a segunda leva, a que ele estava, avançasse. Então aconteceu.
Assim que se aproximaram do protão, começaram os gritos. Gritos de horror e de dor. O exército estancou, sem saber como agir.
O que saiu do portão gelou a todos. Criaturas enormes, peludas e com garras e presas brilhando, recobertas de sangue.
Lobisomens.
Ninguém havia lhe dito que teria que enfrentar lobisomens. Se é que alguém realmente sabia o que o inimigo realmente era.
Viu horrorizado as criaturas avançarem através das tropas, sem oposição alguma. Homens eram estraçalhados por garras, tinham seus membros arrancados e eram comidos vivos, suas armaduras de aço reforçado parecendo serem feitas de papel. Espadas e lanças sendo quebradas, incapazes de perfurar a dura pele do inimigo.
Um urro ensurdecedor foi ouvido, paralisando o combate. Voltando-se para o portão, viu algo ainda mais assustador surgir. Parecia humano, mas terrivelmente enorme e deformado. Monstruoso. Deu mais um urro e os lobisomens recuaram. Então avançou.
Rápido. Sobrenaturalmente rápido. Em um piscar de olhos havia se movido até onde os soldados ainda vivos estavam. Com um golpe, lançou um dos soldados a uma dezena de metros. Pegou um segundo e esmagou-o como se fosse nada, fazendo o sangue voar. Levou a mão à boca, lambendo o sangue, e disse uma única palavra:
- Bom...
Então percebeu o que estava enfrentando. Lendas de sua infância, contadas por seus avós para assustar as crianças. Lendas sobre um híbrido criado quando um vampiro se alimenta de todo o sangue de um lobisomem, absorvendo assim sua maldição. Uma criatura destinada a comandar ninhos e matilhas, e trazer terror ao mundo.
Lendas. Histórias de terror. Nunca foram mais do que isso. Até hoje.
O híbrido pegou outro soldado, cravando suas presas nele e sugando seu sangue até a morte. Ninguém conseguia se mover, paralisados pelo medo e horror.
O resto... Foi tão rápido que nem se lembra do que ocorreu. Quando percebeu, estava no chão, sem sentir suas pernas. Olhando, viu que seu corpo fora rasgado ao meio, e a parte inferior estava a três ou quatro metros de distância.
Fechou os olhos, pensando no que a aguardava quando essas criaturas atacassem sua vila. Não sentia dor. Tudo o que sentia era o cheiro.
Um cheiro insuportável. Cheiro de sangue, de morte. Cheiro de guerra e horror.