Hoje fiquei por alguns longos minutos estagnado diante de um espelho, perdendo-me no vazio de meus pensamentos.
Por um momento, pude perceber que eu não me recordava daquele olhar contido outrora em meus olhos.
A sensação de que o eu não sou mais eu. Afinal, essa não seria a dádiva do tempo? Fluir conforme os dias e as horas passam?
Ora, como isso poderia ser ruim?
Vi reflexos que não faziam parte de mim, do que constitui o meu ser e minha essência.
Mas não seria esse o propósito do mundo? Arrancar de ti sua própria alma?
Jogá-la em direção aos corvos e aos abutres? Destroçar o âmago mais puro de tua vivência?
Não estaria nesse devir a capacidade de nos tornarmos distintos do que fomos ontem e do que seremos amanhã?
De nos transformamos em um alcance fadado a ser limitado?
Vejo, agora, reflexos de outra pessoa. Uma silhueta inquieta, despedaçada.
Talvez quebremos esse espelho algum dia.