Ela o amava e ele a amava ainda mais.
Todos os dias, as ações tornavam-se poesia. Os abraços demorados eram convertidos em desesperados beijos. As mãos possuíam o encaixe perfeito. Completavam-se, separavam-se, demonstravam afeto e doavam segurança. Elas eram o reflexo da mais pura reciprocidade. As vozes altas expulsavam o silêncio devastador que rondava a casa. Gargalhadas apareciam como estrelas no céu, inúmeras vezes, num mesmo dia, sem cessar. Em seus momentos mais doces, ela dizia que nosso lar é onde está nosso coração. E ele a respondia dizendo que nela faria morada eternamente.
Ela o amou e ele ainda a amava.
Seu lar agora eram lembranças que estavam em fotografias embaçadas que ela tirou. As vozes altas e as gargalhadas espontâneas ainda existiam, mas apenas em sua mente nostálgica.
Não havia como esquecer ou deixar partir. Cada passo que ele dava era uma porta escancarada para um passado encantador. Ela o fez feliz e, mesmo após sua partida, ainda o fazia sorrir. Ele não sentia mágoa ou tristeza, pois vivia cada dia com a certeza de que se encontrariam em uma nova existência.
Em suas mãos haviam carinhos recíprocos guardados. Em seus lábios envelhecidos havia o gosto do primeiro beijo. Em seu coração havia duas certezas. Em sua poesia, havia uma única história que nem mesmo em mil dias poderia ser contada.
Ela o amou e ele para sempre, a amaria.