Ele era um menino calado
Na dele, de boa, reservado,
Tinha boas notas, aluno aplicado
Curtia rock, de preto sempre trajado
Para quem o desconhecia
Tudo em tese inferia
Que seu futuro prometia
Apesar do seu jeito. Todavia...
Era repudiado pela família
Na escola, bullying sofria
Agressões verbais recebia
Punições físicas escondia
Desprezo era a ordem do dia
Desespero velado sofria
À noite, dificilmente dormia
Sua vida? Inferno definia
Seu olhar, se bem avaliado,
Era meio triste, meio irado
Confuso, intenso, cansado,
Perdido, fodido, pirado;
Fora o sono acumulado,
O convívio rejeitado,
O flerte negado,
O ódio condensado,
Os impulsos refreados,
O sonhar acordado,
O viver infundado,
Tudo junto e misturado.
Um dia, na aula de Matemática
Sentiu sua pulsação estática
A respiração parecia errática
Fechou os olhos: mudança de tática.
Pediu licença, foi ao banheiro
Fitou o garoto no espelho
E com um sorriso derradeiro
Reforçou que era aquilo mesmo.
Adentrou na sala com lentidão
E um machado na mão.
O primeiro golpe foi no valentão
Bem na cara, repartida pelo chão.
O segundo dilacerou a patricinha
Os outros? Nas suas amiguinhas
Que sempre ajudaram na zombaria:
Amputações feitas com toda a alegria.
E assim ele foi os golpeando,
Trucidando, extirpando, se vingando
Em todo o sangue se banhando
Em vários cadáveres pisando
Vendo membros e vísceras voando
A cada grito silenciando
A cada machadada vicejando
Até ficar o professor sobrando
Aquele filho da puta o perseguia
Sempre duramente o repreendia
Só porque sua matéria mal entendia
E por vezes na aula dormia
Mal exemplo dele fazia
Como os demais, astutamente escarnecia
E nunca da zoeira o defendia
De todos, era quem mais merecia!
Foi esquartejado lentamente
Vivendo tempo o suficiente
Para implorar a um inclemente
Por sua vida, removida lindamente.
Matou todo mundo de modo perfeito
Obtendo a paz que era sua por direito.
Escreveu nas paredes poemas vermelhos
Gargalhando como nunca havia feito.
Logo, ouviu as sirenes ao longe ressoando:
A Polícia estava chegando.
Não se entregaria: que entrassem atirando!
O seu crime estaria pagando
Com uma vida que o estivera matando.
Na verdade, era o que estava esperando:
Tudo fazia parte do plano.
Continuou nas paredes rabiscando
Enquanto a tinta seguia esfriando...
Então ouviu alguém lhe chamando
No começo baixinho, depois gritando:
Era o professor, novamente lhe acordando
Cobrando a resposta do que estava perguntando...
Uma vez mais, a galera "rachando"
Uma vez mais, o garoto aguentando.
Uma vez mais, o sonho se relegando.
Uma vez mais... Até quando?