Me apertaram a nuca
Eu fiquei morta.
E eles riram e aplaudiram,
E como as palmas da idade média,
As de hoje me condenaram
Me invadiram
Me amedrontaram
Me ameaçaram,
Mas tudo bem...
Eles disseram que eu me mereci
Afinal, eles são trinta
Milhões,
E assim, me calaram.
Eu fui vestida
Eu fui despida
Não foi brochada, não senhor,
Eu fui chutada
Eu fui cuspida.
Eu servi de comida.
E sou a porca
E sou a burra
E a assassina
Mas eles,
Continuam aplaudindo
E rindo e rodando
E, rolando vai,
A cabeça de outra vítima.
Mas eles? Aplaudindo.
Aplaudindo a menina
A novinha violada na van
Aplaudindo a mocinha
Que achou que a rua era dela também
E ousou andar sozinha
Aplaudiram quando ela caiu,
E ela chorou, mas ninguém viu.
Aplaudiram a senhorita,
Tão recatada e do lar,
E onde menos esperava,
Foi sim, é... Foi atacada.
Aplaudiram a feminista,
E também, puxaram seu tapete
Sim!
Pois ela é a hipócrita da história...
Ela é totó de macho,
Só sabe gritar atrás de portão,
Ir trabalhar que é bom, nada!
Só quer saber de gritar nua!
Vagabunda, boa, é no olho da rua!
E as de esquina?
Trabalhando na espreita
Emprego não se ajeita,
Mas se ajeita morte e tristeza
Se acha ferida e nenhuma gentileza,
Afinal, se fosse mulher boa,
Estava na empresa, óbvio
Com toda a certeza!
Mas lá... Lá no trabalho,
Ela também foi aplaudida,
Foi aplaudida na cara,
Foi exonerada do cargo
Quando deu um grito de clemência,
Mas ninguém ouviu,
Sabe o que fizeram?
Sabe o que você fez?
Você aplaudiu.