Envie uma mensagem obscura,
brutalizada,
aos teus súditos condenados,
teus escravos de pele e ossos,
teus fantasmas sem causa,
sem razões.
Envie a ordem fatal,
ou aquilo mais que quiser,
pois nós nos curvamos a você,
Rainha,
sem pedir nada em troca,
sem duvidar do que você pode ou não,
sem questionar teu poder de morte,
e de coisas ainda tão piores.
Amarre o mundo em vinhas tuas,
correntes de perdição e nojo.
Teu julgamento é o único que merecemos,
o próprio castigo que desejamos:
seja com joelhos esfolados de tanto implorar,
costas abertas pelos teus flagelos de fogo e trovão,
mãos estraçalhadas pelos presentes que apenas você pode nos dar,
tua rosa carmesim,
sangrando e crescendo,
as raízes destroçando nossas veias,
corações odiosos,
almas que entregamos somente a você.
Não pare.
Tua sorte é aquela de nos dominar,
tua alma é branca e gélida como a chuva do fim dos dias.
Permita-nos apenas aquilo que te agradar,
proíba-nos até mesmo de respirar,
de provar,
de saber o gosto bom das coisas.
Esmague nossas obras,
feitas somente para você,
Deusa,
nossas moradas e nossas esperanças,
ignore nossos monumentos,
nossos templos de insetos:
devore nossas larvas quando teu espírito bem quiser,
vomite sobre nós,
defeque:
abriremos nossas bocas para receber o néctar do infinito.
...
Nós sabemos,
Rainha,
que os dias amanhecem negros aqui.
Nós sabemos,
Rainha,
que as sombras nos devoram.
Nós sabemos,
Rainha,
que o mundo inteiro tomba aos teus pés.
Nós sabemos,
Rainha,
que teu começo é o fim de tudo.
...
Na hora mais escura,
apenas você segura a chama sagrada:
faz-te feliz nos ver amontoados no frio,
rasgando-nos com nossos próprios espinhos,
matando-nos apenas pelo teu mais singelo sorriso?
Na hora mais escura,
apenas você pode incendiar este mundo:
nosso amor já se foi há muito,
não somos mais que os espelhos de teus desejos,
carne e vermineiras desintegradas.
Rainha.
O tempo parou diante de nós,
Rainha,
as estrelas despencaram apenas para você,
Rainha,
os céus se romperam por medo de teu olhar,
Rainha,
a terra é tua para plantar as sementes de tua vida:
da decadência de todos.
Por piedade,
abençoe-nos.