Chegamos a isso, agora?
Não creio... Você deve estar
Muito mal ou pouco se fodendo
Talvez cansado, não é?
Fingir exige muito, eu sei.
Não que eu me importe.
Não.
Mas, essa sua súbita ânsia
De vociferar sinceramente
Através de minha hedionda voz
Me é muito conveniente
Então lá vamos nós!
Nunca houve sonhos
Objetivos ou sequer um intento
Real que lhe movesse, certo?
Como um robô de carne e osso
Com uma puta falha na programação
Todo esse tempo emulando
Se deteriorando
Você apenas seguiu o fluxo
E quanto aos outros?
Aos que afirma estimar
Ah, eles...
Todas as escassas interações
Ditas preciosas... Que hilário!
Que engodo!
Queria mesmo é possuir seus corpos
De maneiras tão obcenas
Profundas e profanas
Que fariam qualquer demônio
Sorrir ou virar a face
E quem sabe assim
Descobrir algo que lhe escapa
Desde sempre até
Provavelmente o túmulo
No qual, se tivesse coragem,
Já teria lhes feito um favor
E se jogado dentro
Ou os atirado lá aos gritos
Você se importa com eles
Mas, na verdade,
Não queria dar a mínima
Assim como faz consigo
Desde a juventude perdida
Desde o primeiro fôlego
Que desperdiçou ao respirar
Não é? Não (re)negue
O quanto, do fundo de sua alma,
Ou a paródia de uma,
Você queria ver o mundo arder
Em chamas que você atearia
Se tivesse o que é preciso
Ou se faltasse em quantidade demasiada
Seja lá o que retém sua monstruosidade
O seu verdadeiro eu:
Eu.
Ao invés disso, "escreve".
Sonha acordado com tudo
O que sua mente doente imagina
E o seu coração imundo fomenta
Sozinho, se fazendo de amigo
Colecionando segredos e confidências
Sozinho, sendo a quem procuram
Por uma ajuda que finge lhes fornecer
Sozinho, quando todos adormecem
E seu pesadelo continua e continua
Sozinho.
Comigo.
Sentindo toda essa merda
Que rumina entre gracejos e textos
E engole calado toda madrugada
Gargarejando a constante purulência
De sua eterna e impressionante ignorância
Chafurdando nos dejetos de desejos
Nos detritos de lembranças amargas
Lambuzado com os erros nojentos
Banhado com os excrementos de seus remorsos
Cujo odor apodrece o que te compõe
E você finge estar sob controle
Mentindo para todos e para si
Mantendo uma farsa muito bem elaborada
Que te faz querer vomitar toda vez
Que abre a sus maldita boca
E assim nós continuamos
Fodidos e nos fodendo um pouco além
Perdendo-se no vazio interno
Onde sempre estivemos desde que
Você sequer tinha idade para entender
O quão fodida e oca era sua cabeça.
Seu aborto mal-sucedido
Meu nascimento mal-resolvido
Essa porra insana, esse escárnio
Deplorável, esse arremedo de obra
De Existência
Nunca deveria ter tido lugar no mundo
Quando foi a últims vez
Que sentiu seu coração bater
Ou que sua respiração
Não parecia tão desnecessária?
Será que você lembra como era tudo
Antes de toda a diarreia?
Antes de mim?
Eu odeio você tanto
Por não ser seja lá que caralho queria
Nem me deixar ser de fato
Livre!
Espero que morra em breve
Já que nunca esteve vivo de verdade!
É o que eu mais quero
E, eu sei, você também.