Serpente
Calígula
Tipo: Lírico
Postado: 05/12/17 22:58
Editado: 05/12/17 23:03
Gênero(s): Poema
Tags: Dor
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 1min
Apreciadores: 4
Comentários: 4
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Palavras: 198
[Texto Divulgado] "Não Pare de Olhar" Uma mulher, isolada em seu apartamento, começa a acreditar que está sendo observada por alguém no prédio em frente. A paranóia começa a crescer levando o limite entre sanidade e loucura se tornar cada vez mais tênue.
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

"I could never speak anyway

What you wanted to hear

I couldn't convey

We were just sinking too fast to save

The two of us

Whispering hope away"

Capítulo Único Serpente

Em um movimento sem ritmos

e sem razões

veio a serpente soberana,

sapientíssima,

hedionda em seu vermelho enegrecido de sofrer,

de olhos amarelos como a vivência,

de boca salivante

dos remédios que nem sempre se quer provar.

Em um movimento certo

e sem hesitações

veio o anjo da terra,

coberto em lama e sangue,

bebericando das poças que eu mesmo deixei,

silvando pelos caminhos nos quais eu mesmo rastejei,

trançando entre aquilo que rasgava sua superfície,

e me fazia sentir o que não queria,

dava-me aquilo de que precisava.

Enrolou-se em minhas pernas,

abraçando-me como as estrelas abraçam sua destruição;

subiu-me ao rosto,

rasgando-me as têmporas como se rasgam todas as lamúrias mais sinceras.

Senti o que era quente e o que era frio,

meu sangue e seu veneno,

minhas lágrimas e suas

lágrimas.

Testemunhei a serpente chorar

enquanto me devorava

amorosamente.

Já não haviam membros ou voltas,

pele ou escamas:

já não havia o que era eu,

não havia o que era ela.

Consumindo naquela que me consumia,

dominando e sendo dominado,

duas almas mais que mortas

fundidas

em menos que uma:

dois corpos corrompidos,

reanimados pela fome de si mesmos

e de sua própria vergonha.

❖❖❖
Apreciadores (4)
Comentários (4)
Postado 06/12/17 00:27

...

Bem sabes o que vi, senti e lembrei com tuas palavras aqui narradas, Mestre/Irmão... Tenho plena convicção que sabes. Por isso mesmo que quaisquer comentários acerca disto seriam ecos desnecessários aos teus ouvidos... E ao teu coração.

Todavia, sou obrigado a dizer uma coisa apenas: este texto ficou dolorosamente belo. Tanto quanto... Tu o sabes.

Atenciosamente,

Um ser que observou em triste inutilidade parte do que houve, Diablair.

Postado 08/12/17 17:12

Este foi o meu primeiro contato com os textos aqui do site, e não há contato mais forte e potente. Seu texto roubou minha atenção quase que completamente. Foi o primeiro que li que aqui, mas não há de ser esquecido em minha memória. As palavras escolhidas, a estrutura... tudo foi muito forte, pesado e bem redigido. No fim, tudo se tornou belo, reflexivo e bem envolvente.

No mais, meus parabéns por escrever um texto tão interessante. Obrigado por me proporcionar um primeiro contato tão especial e maravilhoso.

Postado 03/01/18 03:13

Isso foi suavemente monstruoso. Como aqueles males que você deixa te adentrar e apenas assente com a ponta do queixo.

Uma dor e agonia sublimes.

Parabéns, também fui engolida aqui.

Postado 09/01/18 22:59

Obrigado, de coração.

Postado 18/03/18 22:54

Poema expressivo e monstruoso, como a serpente descrita. Parabéns, adorei seu trabalho!