Nos conhecemos no bar onde eu trabalhava. Era sexta-feira e você estava com uns amigos da faculdade. Quando nossa primeira troca de olhares ocorreu, eu estava no auge da música Hey Jude e neste momento vi algo em seus olhos que nunca havia visto no de outro homem. Seu olhar quase calou minha impetuosa voz.
A música acabou e desci do palco. Surpreendente você já estava lá me esperando. Seus amigos gritavam ao fundo e faziam festa.
— Não ligue para eles. – Você disse, mexendo as mãos na frente do rosto e, se apresentando logo em seguida: — Meu nome é David e eu preciso dizer que estou completamente apaixonado pela sua voz.
Foi assim que tudo começou.
Se recorda de quando fiquei doente e não pude cantar? Você cuidou de mim e me levou ao bar do Ted naquela noite. Nunca me esquecerei de você cantando Photograph e, em seguida, me pedindo em casamento.
— Aceita casar comigo, Janet? – Você me perguntou e eu respondi que sim, pelo menos um milhão de vezes.
Essas palavras ecoam em minha mente até hoje e a aliança em meu dedo só torna essa lembrança ainda mais vívida.
Se recorda de quando ficamos presos na casa de campo por causa da tempestade? Nunca vou esquecer da sua calmaria em meio ao tormento que aumentava cada vez mais do lado de fora. Jamais deixarei de lembrar da noite de amor mais intensa que tivemos.
— Janet, seja minha mais uma vez... – Você sussurrava no meu ouvido, enquanto suas mãos me despiam.
Se recorda de quando tomávamos café na nossa cozinha e todas as manhãs você dizia que tínhamos Paris dentro de casa?
— É o que estou dizendo, meu bem! Esse seu bolo de chocolate é igual aos que vendem nas confeitarias em Paris. E olha que eu nunca estive lá.
Se recorda daquela noite de sexta que você não apareceu na minha apresentação no bar? Isso nunca havia acontecido. Você ia todas as noites e sempre estava lá, na mesma mesa, na mesma cadeira e com o mesmo olhar de orgulho que fazia quando me via no palco.
Lembro-me de receber uma ligação do hospital. Falaram que você havia sofrido um acidente na rua da nossa casa. Não sei como consegui chegar até o carro e não sei como consegui chegar em menos de 15 minutos ao hospital (também não sei como não recebi uma multa).
Lembro-me de entrar correndo no hospital, histérica, a sua procura. Lembro-me de encontrar você deitado em uma cama com os olhos fechados e em silêncio. Lembro-me de ficar aos prantos quando o médico me disse que você poderia não sobreviver. Lembro-me de sentar ao seu lado e cantar Hey Jude bem baixinho só para você ouvir e, após isso, quase sem voz, disse o quanto te amava.
— Você não pode me deixar agora, David... - Eu sussurrava desesperadamente.
Lembro-me que seu coração parou de bater algumas horas depois.
Fazem quatro anos desde que você partiu e ainda me lembro dos intensos dias que passamos juntos. Sempre que canto, imagino que, esteja onde estiver, você está ouvindo a minha voz.
Você é a fotografia que guardarei para sempre em minha memória. É a canção que não me canso de cantar. É o conjunto de estrofes que nunca termina. É o céu azul que vou olhar em meus dias escuros.
Você é a porta aberta para o inesquecível.