Arrefeço. Dia nublado.
No quarto contíguo a anciã
entretem-se confeccionado
enfeites de Natal...
Há horas é que estou sentado,
lendo. Aficionado por ideias,
palavras; por ideias, palavras,
asfixiado.
Na casa modesta, o contraste:
dum lado Chopin, do outro o rádio,
que toca música eletrônica sem parar.
A senhora não gosta de silêncio, não.
O piano acalma minha hipocondria.
Ainda assim, ando, ziguezagueando,
inquieto, perturbado, doido-doido.
Na mão direita, um cisto sinuvial,
mais abaixo, uma infeccção urinária...
No coração a esperança — que pia —
junto ao medo — que late...
Bit por bit,
no espaço sideral da rede e do real,
minha existência voa e se esvai e se perde:
feito dente-de-leão...