Algo novo, algo emprestado, algo azul. O meu vestido de noiva, o gancho da minha sogra e a fita azul do vestido de casamento da minha mãe. Ao espelho vou moldando a noiva em mim, primeiro os brincos perolados que ele me ofereceu no nosso primeiro aniversário. Depois a pequena corrente prateada ladeia-me o pescoço tornando-o ainda mais pálido e esguio. Com ajuda da cabeleireira coloco o gancho de prata em forma de orquídea no alto da cabeça segurando o meu coque perfeitamente. O véu descansa na cadeira castanha do meu quarto. E fixo-me no vestido que repousa nas mãos da minha mãe. Ela sorri com as lágrimas nos olhos, sinto que não me vou conter e chorar com ela também. Respiro fundo e volto a olhar para o espelho. A langerie branca, as meias de liga brancas e os sapatos em tons de marfim e pérola. Está na hora. A minha mãe ajuda-me a entrar no enorme vestido branco, ajusta o corpete ao meu corpo e com um beijo no meu ombro despede-se chamando consigo as minhas damas, cabeleireira e madrinha. O quarto torna-se desconfortavelmente silencioso e os nervos voltam a ganhar a dimensão de gigantes, borboletas escapam do estômago e aventuram-se por cada pedaço meu. Nada mais de menina, agora serei senhora do ultimo nome dele, os meus filhos terão o seu ultimo nome e toda eu serei eu com um pedaço a mais. Suportarei eu o peso do nome dele nas minhas costas? Serei capaz de ser a esposa que ele imaginou, que ele pensa que eu sou? Olho para a janela, depois para a porta, qual a melhor saída para aquele inferno?
A porta abre-se e o meu noivo entra, está de calças de ganga e uma t-shirt, arqueio as sobrancelhas e ele encolhe os ombros. Avança na minha direção e beija-me a testa, como faz todas as manhãs antes de sair de casa. O meu coração falha uma batida e sinto o estômago a revolver-se.
- Nós não fomos feitos para casar. -- comenta ele com a cabeça contra a minha. Sinto o tremor na sua voz e a minha perde-se enquanto lágrimas se formam. -- Nem eu, e tu muito menos. -- acaricia-me a face com a suas mãos quentes e ásperas.
- Não somos. -- digo num fio de voz.
- Não quer dizer que não nos amemos, apenas não como eu queria.
- Ás vezes amamos uma pessoa numa linguagem que ela não percebe. - comentei sentido as lágrimas rolar pelos olhos.
- E é melhor encontrar alguém que a entenda.