Minha pele é vidro que cintila
com fragmentos de metal e fibra óptica.
Meu suor é um óleo incolor
se desfazendo em sua própria palidez.
Engrenagens rachadas movem meus dedos
enquanto sinto meus ossos enferrujarem.
Sei que minha cabeça explodirá
entre nuvens negras e lodo artificial.
Meu coração é um motor afogado em seu próprio sangue…
Minha alma foi feita sob medida
nas camadas mais frias de mim mesmo.
Sou tão planejado quanto se pode ser
quando se planeja aquilo que só pode permanecer quebrado.
Meus olhos são faróis de uma cor apagada
como o tom do acrílico sobre o plástico.
Plastifiquei cada linha de minhas veias por não saber como parar…
Meus músculos emperram em si mesmos
quando há nada que os empurre.
A sucata que excreto se une a mim
para pesar um pouco mais sobre minha espinha de lata.
Os tubos que me alimentam estão sempre obstruídos
pelo que endureceu neles antes de me nutrir.
É assim que trabalho em minhas fornalhas
derretendo o que não posso ter ou ser…
Meus sonhos são sonhos de pistões a bater contra meu peito…
…
Memórias aqui não passam de filamentos
que implantaram para compensar sua mera falta.
Ideias não são mundos
que não sejam negros como o silício mais puro.
O que me toca é tão frio
quanto o núcleo apagado de uma máquina abandonada…
E eu apenas gostaria de chorar…
mas minhas juntas desmoronarão se o fizer.