Eu sempre dizia
Que um dia
Eu te comia
Minha guria...
Então esperei
Me segurei
Te observando
Te devorando
Com os olhos
Quase sem modos
Planejei tudo
Um risco absurdo
Todavia, foi feito:
Sequestro perfeito!
Seu pranto, tão célere,
Temperou a pele.
Cada calafrio
Cada gota de suor frio
Da vida por um fio
Deixaram mais macio
Esse seu corpinho
Tão gostosinho
Que minha boca saliva
Enquanto você grita
E a faca fatia
Devagar, com malícia
Feito uma carícia...
Ah, que delícia!
Já havia preparado
Todo um cardápio
Para te comer
Ao meu bel-prazer
E saciar meu anseio
De devorá-la por inteiro...
Braços e pernas
Distribuídos em travessas
Da sua cabeça tão bela
Fiz uma bela tigela
Sua mente
Cheia de nutrientes
Me encheu de euforia
Que preciosa iguaria!
Seu coração
Ficou muito bom
Recheado com exatidão
E uma pitada de manjericão
Olhos à milanesa
Genitálias: melhor sobremesa
Com frutas e mel?
Uma amostra do Céu!
Adorei você
No meio do purê
Sua língua
Entre a minha
Tão delicada
E bem temperada
Foi perfeito
Como um beijo
Só que mais gostoso
Por causa do molho
Suas entranhas
Foram uma façanha
De tão bem preparadas
Que ficaram as danadas!
Seus seios então...
Fizeram uma linda porção!
Nossa, apetite com tesão:
Melhor combinação!
Você e Ajinomoto:
Feitos um para o outro
Ou ficaria melhor
Com Caldo Knorr?
Decorei cada prato
Com pedaços de lábios
Em tom vermelho
Igual ao tempero
Idêntico ao sangue
Doce feito champaigne
Necrofilia
Gastronomia
Levei um dia
Foi uma folia
Uma orgia consumada,
Minha ceia sagrada.
Tudo teve aproveito;
Comi de todos os jeitos:
Frita, assada,
Cozida, grelhada,
Refogada, crua:
Sem pressa nem culpa.
Conforme prometido,
Comi até seu vestido...
Nada sobrou de você
Exceto lembranças do buffet
Que farei questão de repetir
Em outro lugar longe daqui.
Pode demorar um pouco
Mas, vou comer assim de novo:
Afinal, tantas meninas
Vem e vão nas esquinas...