As fases da lua, uso-as para contar os dias em que estiveste e os dias em que já não estás. Começou em lua nova, tu e eu sentados num daqueles bancos escuros de museu. Onde segurei a tua mão timidamente e tu não a largaste, aliás apertaste-a com toda a força que esses dedos grandes e delgados têm e nunca pensei sentir o meu coração a bater novamente, tão rápido enquanto eu permaneço estático.
De beleza inigualável, o teu sorriso perfeito, esculpido pelas mãos divinas de Miguel Ângelo ou quiçá de Donatello. Há coisas que nunca falham na memória, e os teus olhos, essa obra de arte, é uma delas.
Sabes, era lua crescente quando nos beijamos pela primeira vez. Perto do museu, num jardim, sentados novamente num banco, desta vez claro e com a luz do candeeiro bem na nossa frente, como um holofote, usado naquelas cenas em que os amantes se enxergam como só um e em que o mundo é vazio e ao mesmo tempo cheio. Aquele momento em que o mundo parou de girar, ao mesmo tempo que gira lento e apressado numa cacofonia de sons, e o coração palpita insanamente.
Foi em lua cheia que as coisas mudaram. Vacilamos que nem as ondas do mar, para a frente e para trás. As chaves do meu apartamento, fiquei com as duas. O teu lugar na cama está frio. E não há mais jogos de consola a encher a casa de cores. Queria dizer que foste como o vento, que desististe de nós de rompante, que o teu coração mudou radicalmente em meia hora e que tudo o que nutrias por mim caiu tão depressa como tinha chegado. Mas seria mentira; assim como veio lentamente, definhou lentamente. Os teus olhos deixaram de brilhar gradualmente, os teus sorrisos deixaram de ser sinceros até desaparecerem por completo. Bom Dia e Boa Noite são as minhas ultimas recordações da tua voz.
Foste as melhores fases da lua, e, se só fores isso, não há problema. Nem todas as peças de arte estão destinadas a ficar penduradas nas mesmas paredes para sempre