Eu não sei exatamente como tudo começou. Lembro de estar no aeroporto, esperando para embarcar e depois de estar em uma espécie de ônibus, vendo animais saltitando livremente por planícies secas. Acho que a ansiedade da viagem me fez esquecer os detalhes menos importantes.
Eu lembro de ter visto o Bambi passeando perto do ônibus. As pessoas que estavam comigo, incluindo minha mãe, tiravam fotos e faziam vídeos. Era como se nunca tivessem visto um bicho na vida deles.
Depois de um tempo passeando, o cara do ônibus nos levou para o hotel e foi lá que a coisa começou a ficar sinistra de fato.
Esse tal hotel era no meio do nada, cercado por nada e poeira, nada e plantas secas, nada e capim amarelo. Antes que a gente pudesse descer, um leão jovem apareceu. Os turistas pareceram entrar em pânico, mas eu continuei tranquilamente sentada.
O motorista pegou um rifle e mandou todos se acalmarem. O cara ignorante meteu duas balas no leão e falou que estava tudo bem, como se fosse normal atirar em um leão inocente. Eu nunca vou entender o comportamento humano.
Levaram a gente para uma espécie de salão e, por uma das janelas, eu conseguia ver o falecido e todo sangue que se esvaiu dele. Fiquei lá observando enquanto os outros riam e festejavam como se nada tivesse acontecido. Hipócritas!
Depois de um tempo percebi algo diferente. Os olhos do leão começaram a se mexer e ele começou a se contorcer. Claro que fiquei assustada, mas bem lá no fundo eu me sentia feliz pelo Pudim não ter morrido.
Como eu sabia o nome do leão? Simples, ele tinha uma coleira enorme parecida com a da Arlequina. Vai ver o dono dele era fã do Esquadrão ou algo do tipo.
Saí correndo para avisar às pessoas e para fechar todas as portas. Ninguém parecia se importar muito. Uma mulher até foi checar e fazer um snap. A velha falou algo do tipo “Só aqui um leão toma dois tiros na cabeça e sobrevive para contar a história! É isso aí, Pudinzinho! ” .
Alguns minutos se passaram e eu pude ver o Pudim desfilando seu sangue pelos corredores do hotel. Nem a minha mãe parecia se importar com o fato de ter um zumbi passeando por ali.
Decidi então parar de querer entender e fui ao banheiro, lavar o rosto. Lá conheci um cara, de bigodinho ridículo, bem exótico. Ele estava parado perto do banheiro, fazendo poses constrangedoras para o espelho, e me perguntou qual delas seria melhor para tirar uma selfie quando o Pudim decidisse dar atenção para ele. Eu falei que ele ficaria ótimo de qualquer forma e o cara pareceu gostar da resposta, voltando a se concentrar em sua imagem refletida.
Segui meu caminho para o banheiro. Quando abri a torneira... Nada! Um absoluto nada saiu de lá, acompanhando do som do despertador do meu celular.