No corrimão verde lima não cresce a trepadeira. A planta de feitio duvidoso cresce para os lados e nunca para cima, comeu meia parede branca e agora faz avanços para a porta dos fundos do prédio. No pote da entrada não há mais bolachas, a porta azul turquesa do prédio tem falta de amor por parte dos proprietários, sempre tratada como o objecto que é. No quarto e ultimo andar, existe uma colmeia amarela, as abelhas não voltaram lá depois que o senhor senhorio coloriu as paredes de azul e rosa, pelos vistos nem os insectos vão com os gostos do homem. No segundo andar a vizinha velha morreu, vive rodeada de formigas que dançam desamparadas pela cozinha, na radio toca "Happy", e no fogão o leite evapora a cada minuto.
No apartamento da frente o casal jovem decora o quarto do bebé por nascer; Será menina ou será menino? Há quem diga que será os dois. Para afugentar tal praga a vizinha louca do andar de baixo coseu a boca do sapo, martelou sozinha, durante duas horas, pregos na frente da porta. Enquanto isso o vizinho do último andar, que partilha a casa com uma tartaruga empalhada, sente falta de bons momentos com a vizinha morta. Vai e desce as escadas, bate à porta e desconfia. Lá se chamam os bombeiros, lá se encontra a senhora jazida no chão da cozinha, e agora quem faz por lá a festa são as baratas.