Eu me fiz maior que meu próprio corpo, me tornei mais fria que o inverno e muito mais cruel que meus terríveis demônios. Eu sou a personificação do seu medo. Pode ter certeza, você deveria estar assustado e implorando para que eu pare, mas eu não posso evitar essa energia terrível. Não estou mais no controle.
Eu sou como uma torturante doença mortal! Vou te quebrando aos poucos, tirando sua força, embaralhando sua vista e destruindo sua mente e não existe medicamento que possa me curar, pois eu sou a sombra que te persegue até mesmo no escuro de uma casa acordada onde os corredores ecoam o medo. Sou o mal que todos temem. Eu sou o bicho-papão que vai comer todas as criancinhas.
E elas gritam, esperneiam e fazem carinhas fofas na esperança de que eu tenha pena e reconsidere, mas eu não posso e não quero! Eu simplesmente não ligo. Que se fodam; se explodam; se despedacem; se liquefaçam! Eu não estou nem aí. Até mesmo os meus demônios não ousam me contrariar. Eu os assusto, os domino e os mastigo.
E o gosto de ferro permanece em minha boca. O coração inocente ainda ousa pulsar em minhas mãos. Os olhos arregalados e sem brilho continuam a me vigiar. Eles estão em toda parte, tentando não perder nenhum detalhe e gravando cada mínimo movimento. Eu os coloquei lá para que pudessem admirar minha arte, os coloquei por que gosto deles. Os olhos são os espelhos da alma e eu não poderia virar todos os reflexos ao contrário. Não! Eles devem ver, devem sofrer mesmo depois do fim.
Até as criaturas mais sombrias que habitam o meu subconsciente conturbado me observam em silêncio, vez ou outra implorando para que eu as transfira para um papel, assim libertando-as de mim e da minha Doença. Elas clamam pela imortalidade que eu não posso dar e até prometem que vão se comportar, mas nós sabemos que não é assim.
Se eu assusto, elas aterrorizam. Não posso deixar que fujam de mim e voem pelo mundo. Não posso deixar que façam o medo transbordar dos olhos de quem as encontrar. Eu não quero perder o prazer de massacrar almas puras, não quero deixar que as criaturas tomem o meu lugar. Se elas forem, eu sumirei. Perderei o controle!
Alguém, por favor, me diga quem está no comando. Eu posso controlar as criancinhas! Posso obrigá-las a me obedecer, a matar umas às outras e a comer seus dedos e roer os ossos, mas não estou no controle. Eu não sei mais o que está acontecendo. Me tornei maior que meu corpo, mais fria que o gelo e muito mais cruel que seus mais tenebrosos pesadelos. Não há ninguém para me ordenar... Ninguém pode me parar!
Ei, você, poderia me dizer quem está no controle antes que eu te desmembre e te faça de alimento para as minhas famintas e angelicais crianças?