Devaneios
A mulher(?) e a vontade(!!!)
Senta e escuta. Ali passava alguns carros atrás dela. Na sua frente, mar. Ao seu redor, mar. Uns pássaros lá e cá, não importa que tipo, mas pássaros. A areia que encobria todo aquele canto esquisito, não era fofa, era inverno. Olhava para cima, sempre pensativa, sempre deprimida, já havia perdido a vontade. No espelho do mar, o seu rosto. No espelho do mar, seu desgosto. Sorria, senta. Venha até mim, devagar. Suspirava. Veja, perder algo assim é difícil, poucos conseguem ou mesmo, querem… Nadava num dos lençóis que o mar fazia. Nadava sem estar na água, chorava. Seu nado.
Palavras vazias eram proferidas, cuspidas, desapegas, retiradas da mais profunda apatia. Gritava, sem sentir. Chorava, sem sentir. Esperneava, sem sentir. Sem sentir. Nadava. Água. Mar…
Era a morte, que já não via mais sentido em existir, por isso, já era hora, matou-se. Morre a morte, ou assim ela queria. Presa na eternidade. A eterna apatia, a eterna angústia, a eterna culpa, a eterna caminhada. Mas ela clama por morrer. A morte quer morrer. Mas não há deus ou ciência que o faça, por isso, a morte encontra nas pessoas as tentativas mais frustrantes de morrer. No un ou nos milhões, já não aguenta mais. Mate-me.
O tolo
Na Igreja da esquina, encontrava seus amigos, familiares, professores e todos que o rodeavam. Seu dízimo, em dia. Suas contas, em dia. Mulher, dois filhos, emprego assalariado estável, classe média comum no país dos Andarilhos. Aos sábados, ficava em casa pensando no quê fazer para maior produtividade no emprego. Aos domingos, passeava com os filhos no shooping mais próximo, mais pensamento para fazer mais metas no serviço. O dia a dia comum não excluía algumas fugidas da rotina, é claro que o bar era parada obrigatória em todo vigésimo dia do mês, quando recebia sua porcentagem pela meta batida.
Votava no candidato mais bonito, afinal, era o mais bonito. Era feliz ou acreditava ser. Não via em si algum problema. Pretendia se aposentar aos 60, comprar um moto home e sair pelo país afora. Pudera todos serem como ele. O cidadão de bem, aquele que cumpre com seu objetivo no Mundo. Prezemos o cidadão fantástico do país Andarilho. O país ia mal, as coisas não davam certo e quem comandava, cansado de tantos problemas, acabou por se matar. A família ia bem em mais um domingo, aquele domingo em especial, um grande evento na Igreja de São Pé Grande, um santo qualquer que abençoava aqueles com pés abençoados.
O que não parecia ter fim: a ida até a tal Igreja, logo chegaria ao final… Enquanto na Igreja, dava-se no país Andarilho, nos telejornais a grande notícia do século: dinheiro não existe. As pessoas entraram em choque, uma onda de assassinatos e suicídios deu-se no país inteiro. Era oficial, dinheiro não existia. Aqueles que comandavam entraram em colapso, os que se submetiam as regras daquele lugar também entraram em colapso(veja, assassinatos e suicídio). A família feliz na Igreja, rezava para o Santo Pé Grande, ia pagar mais uma prestação do dízimo até que a coisa mais extraordinária acontece a eles: “NÃO QUEREMOS MAIS DÍZIMO”, dizia o Ancião da Igreja do Santo Pé Grande, ainda assim, a família depositou o dinheiro. Chegando em casa, sem entender muito, ligam a TV e se deparam com a notícia de que dinheiro não existe, assustaram-se.
O chefe de família, entendendo que não havia mais como controlar sua família dá o ultimato: ou vocês ficam aqui ou eu paro de sustentá-los. A família, livre das obrigações para com a família vai embora. Já não existia motivo para ser de um grupo tão antiquado como esse, afinal, já não existe dinheiro. Então, a decisão é tomada e um tiro na sua garganta não o mata: mas o deixa incapaz de falar. Triste notícia, há pouco tempo foi tomado a decisão de que a fala seria a moeda da vez…