Sempre disse que havia três poesias que me encantavam demais,
Pois bem, eis que tu me pergunta: quais?
Começo a responder quase que sorrindo.
O terceiro é de Mário Quintana
E se chama Bilhete,
Nos diz para amar, assim, baixinho,
Com cautela, com carinho,
Estendendo pelo tempo que tiver que durar,
Lembrando do quão breve é nosso entrelaço,
Dizendo sempre, que o cotidiano é manso
E livre como os passarinhos
Que pousa de forma sutil e com leveza
Que fica quanto tiver de ficar
E não é por gritos e surpresas que se deixa levar.
O Segundo é de um tal de Drummond,
Atende pelo nome de Memória
E fala sobre a efemeridade de cada momento,
Fala de todos nossos sentimentos
E de como eles não são tangíveis,
Pois o que a palma pode tocar
É sempre diluído,
Aquilo que dura mais do que um perfeito instante
Não é tão lembrado quanto qualquer sentido inerente
Que durará, dentro das lembranças que nos constroem,
De forma permanente.
A primeira, por fim,
Ou seria início?
Sempre me confundo quanto a isso,
Teria que ser a ti.
Ja que só procuramos significado verdadeiro
Naquilo que observamos por inteiro,
Aquilo que não se espera ser escrito,
Mas vivido,
Aquilo que dá significância
Aos versos e prosas de tantas diferentes formas,
Se podemos preferir dentro de uma categoria,
Algo ou alguém,
Te digo que na verdade nunca é uma escolha,
É sempre o sentir que nos conduz,
E podemos até dizer que não,
Podemos mentir em vão,
Mas a única realidade
É que a preferência é, a nos, imposta
E dizer que és a primeira poesia em que penso
Não é opção.
É um estado invariante,
Uma efemeridade que se quer pensa em cessar,
É um momento singular,
Que dura e durará
Enquanto o peito que tenho cá,
Insistir em amar.