— Você não pode ficar aí para sempre, Taís!
A menina suspirou. Chacoalhou os cabelos roxos e respirou fundo. Seu macacão cinza possuía uma mancha na região do abdômen. Maldito seja o barbudo que derrubou cerveja nela. A jaqueta de couro tão desgastada quanto seus coturnos castanhos escuros estava pendida pelos ombros.
— Taís, eu juro que vou chamar o dono do bar e pedir para que ele te expulse daí. Você tem sete segundos para sair — disse, novamente, a voz de sua melhor amiga, Elisa, uma loira baixinha de personalidade forte.
Taís olhou para cima, recostada contra a porta suja do banheiro feminino. Enxugou as lágrimas e finalmente, abriu a porta do banheiro.
— O que acontece contigo? Saiu da mesa sem falar nada, correndo — a voz de Elisa ficou macia, de repente, enquanto ela refazia uma trança no cabelo.
— Ah, Eli — a garota coçou a cabeça sem jeito — desespero. Não sei.
— Desespero do que, menina?
— Você não entenderia.
— Me faça entender.
— Medo.
— Você não está ficando muito especifica.
— Ah. Medo, Elisa. Que os restos de nossas vidas sejam assim. Sentadas num bar vazio, com gente vazia, em uma cidade que consegue ser tão superficial quanto às pessoas que moram nela. Falando de homens vazios que se importam com mais nada além de jogos vazios e cerveja. Nessa vidinha de quem não liga pra nada, a não ser nossos cabelos hidratados, onde nossa maior preocupação é saber se nosso perfil no instagram tem uma palheta de cores maneira. Estou exausta, Elisa, não sei quanta superficialidade posso aguentar.
Silêncio.
— Taís, duas coisas. Seu cabelo está ressecado e você só está assim porque viu dois filmes franceses ontem, o que é muito, para o meu gosto. Três. Nunca mais te deixo misturar tequila com cerveja.
Silêncio.
— É. Tem razão. Mais um shot?