Tempo. Ah, o tempo. Uns tem de sobra; outros, no entanto, dizem não ter tempo para nada. Calúnia. Ou será que não? Afinal, no mundo caótico de hoje, já não se tem mais um tempinho para mais nada, não é? Não se pode mais sentar-se na varanda de casa, com um bom livro em mãos para ler. Motivo? Ora, caro leitor, quantas vezes você não ouviu um: estou sem tempo para isso, preciso terminar um trabalho.
Tic-tac.
O tempo, amigo, não volta. Você pode dizer: terei tempo no futuro, quando estiver cheio de dinheiro, para aproveitar minha velhice em paz. Mas, e a sua juventude? Jogou-a fora para, então, apenas ficar em casa, vendo televisão? Não que a velhice não seja boa, ah não... Sorrir, satisfeito, com seus netos e seus filhos a sua volta, felizes, é mais do que um bom motivo para gozar dessa fase da vida.
Tic-tac.
Contudo, aquelas lembranças inapagáveis, intangíveis, e eternas... Onde ficam? Aqueles bons momentos ao lados dos amigos, rindo, caçoando. Ou até mesmo, os maus momentos, onde sua ajuda foi o diferencial em tudo. Ah... Os jantares e almoços em família, sejam em dias normais, corriqueiros, ou em datas extremamente especiais. Aqueles dias perfeitos, ao lado da pessoa que você mais ama na vida. Dias em parques, praias, um rápido passeio dentro de um shopping para, então, ir ver algum filme no cinema.
Tic-tac.
O tempo, como eu disse, não volta. Não para. Não dá segundas chances para se viver aquele momento. Ele apenas continua. Implacável. Pomposo. Majestoso. Ah, tempo... Tão maravilhoso você é. Uma pena que não são todos que conseguem aproveitar-lhe.
Tic...
E ele continua. Seguindo em frente. Impiedoso, não? Claro que não. O Tempo nada mais é do que... A oitava maravilha do mundo. É ele quem nos proporciona o que somos. É ele quem nos faz viver. Ele consegue nos dar momentos inesquecíveis. Sem exceção e preconceitos... Virtuosos são aqueles que se agarram a ele e aproveitam cada segundo.
Tac...
– Tempo...? – Sussurrou uma voz um tanto quanto calorosa.
– Diga, minha queria amiga. – Ele disse, sem parar de andar.
Ela, então, segui-o às pressas.
– Por qual motivo você é tão implacável...?
– Ora, Morte, minha amiga. Você deveria saber a resposta para tal pergunta. Afinal, quando as almas são colhidas por ti, as emoções e lembranças daquela pessoa passam por todo o seu ser. Estou correto?
Então, a Morte sorriu. Sorriu e abaixou a cabeça, deixando o Tempo seguir seu caminho.
– Você é tão bondoso quanto eu, Tempo. – Ela sussurrou, voltando a colher as almas desesperadas, dando-lhes um abraço caloroso. – Sem você, ninguém viveria e, tampouco, colheria bons frutos. Mesmo aqueles que são atarefados, cheios de problemas... Encontram alguns momentos especiais para se viver e, portanto, levaram tal memória o resto da vida.