Às vezes eu
preciso me olhar no espelho
só para me certificar de que
ainda estou aqui.
Nenhum átomo em meu corpo
continua o mesmo,
nenhum pensamento em minha mente
se manteve imutável,
nenhum sorriso em minha boca
aprendeu a ser perfeito,
nenhuma expressão em minha face
passou a ser discreta,
nem mesmo a minha voz
tem a mesma tonalidade do ano passado,
ou até mesmo de ontem.
Eu mudei de opinião
e mudei de novo
e voltei para a primeira concepção;
e passei a assentir:
aceitável,
socialmente decente;
guardando os pensamentos reais
e quem sabe, obscuros
no fundo do baú da mente.
No mais, creio que ambas coisas discrepantes
possam mesmo se interligar,
pois estão a um fio de algodão de distância,
mas não vêm descritas em meu crachá.
E eu olho dentro dos olhos
da menina que me olha de dentro do espelho.
E ela sabe o que eu penso,
e o que eu faço,
e o que eu realmente desejo,
e ela sabe mais que eu mesma que aqui escrevo;
ela é meu avesso, jamais minha aversão.
É que,
às vezes, eu preciso mesmo
apenas me olhar no espelho:
só por via das dúvidas
para dar aquela checada
para conseguir voltar a respirar,
pregar o olhos a noite...
Para averiguar - diabos - por fim,
que eu me distanciei
definitivamente do meu almejar
e, me aproximo constantemente
e a cada minuto
do meu mais malimaligno
fim.