Reverendo Mathias
Azurisky
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 21/05/17 23:17
Editado: 21/05/17 23:29
Avaliação: 9.15
Tempo de Leitura: 6min a 8min
Apreciadores: 6
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Palavras: 988
Não recomendado para menores de dezoito anos
Capítulo Único Reverendo Mathias

A brisa fresca da findada madrugada pairava solene sobre o ambiente silencioso do manicômio BTD. Mais um dia começava e, como sempre, a loucura era incrementada em mais um dia. Os pássaros que antes cantavam saltitantes pelos galhos das árvores ao redor logo se calaram de medo e o local já não era mais tão pacífico assim.

Gritos seguidos de estrondos violentos foram ouvidos por toda a vizinhança. O louco mais perigoso do recinto havia despertado e, dessa vez, não poderia ser sedado. Os funcionários corajosos tentavam segurar seus braços e pernas na vã tentativa de o manter dentro da sala, mas ele desvencilhava-se com tamanha facilidade quanto a de um elefante para uma formiga. O louco gritava palavras desconexas enquanto rodopiava insamente pelo local sem se importar em caminhar pelos restos metálicos do que era sua cama até pouco tempo atrás. O mesmo a havia picotado apenas com a força de seus braços. Seu sangue jorrava dos seus pés desnudos, mas ele continuava a andar tomado pela loucura repetindo incansavelmente as mesmas frases. Os seguranças abatidos no chão nada fariam com dezenas de ossos quebrados e os que estavam do lado de fora temiam pelas suas respectivas vidas ignorando a ordem de seu superior de controlar o louco. O que era um emprego em comparação com os ossos no lugar, não é mesmo?

O superior esbravejava com o advogado da família, argumentando conforme seu nervosismo permitia, as razões lógicas que asseguravam que o insano não deveria ficar com suas veias limpas. O advogado batia o pé cuspindo ameaças de processo contra o manicômio e todos os superiores respaldado pelas diversas leis que ele vomitava sem parar.

— Por que esse cara é tão louco assim? — No andar debaixo, olhando pelas câmeras, um vigilante comentava mais para si do que para o outro ali presente.

— Sei lá, o chefe olha feio só de falar o nome do louco. Ele não gosta que puxem o assunto, mas... — deu uma pausa desejando a curiosidade de seu colega e, ao a obter segundos depois, prosseguiu — eu tive acesso mês passado ao arquivo.

O vigilante saltou da cadeira interrompendo-o.

— Como? Como você teve acesso?

— Ou você descobre como eu tive acesso ou o porquê do cara ser louco. — Seu amigo o olhou torto. — Como eu esperava. — Riu — Pelo que eu li o cara era um religioso fanático, sabe? Do tipo que mata pelo o que crê. E depois dele ter afirmado que descobriu o motivo da vida ele enlouqueceu. Matou alguns dos seus seguidores, inclusive.

— E tem algum registro dessa descoberta?

— Tem. Pelo que eu li era…

— O que diabos vocês estão fazendo aqui conversando, seus inúteis? — Subitamente o chefe do andar invadiu o local abrindo a porta metálica com violência. — Vocês não viram nas câmeras? O louco fugiu!

O desespero tomou conta dos três homens. Era visível o medo em suas faces. Eles haviam trancado a sala e colocado cadeiras de forma que a fechadura não poderia ser forçada. O vigilante mais baixo possuía em sua mão uma glock. Era a única defesa que eles tinham e de alguma forma, lhes trazia uma sensaçãod e segurança.

— Você ouviu isso? — O chefe perguntou mais para si do que para os outros.

— Caralho, cara, puta que pariu! Se esse maluco invadir, dá um tiro na cabeça sem pensar duas vezes! — O segundo vigilante prestes a chorar pediu piedosamente enquanto ouvia gritos de dor além daquele local.

— Não quero morrer, cara… Minha mulher está grávida de três meses! Vou matar com certeza!

Do lado de fora o louco com seus trapos ensanguentados mordia o pescoço do último guarda corajoso que o tentou deter. Arrancou a pele como se rasgasse tecido. O sangue do pobre homem jorrava como torneira enquanto seu grito e espasmo de dor o levava ao chão.

— Vocês têm que aceitar! Vocês têm! Aceitem! Aceitem! Aceitem! — O louco repetia incansavelmente pisoteando a cabeça do guarda já desfalecido.

Um rastro de sangue era deixado pelos corredores do manicômio por onde o homem insano passava. Matou enfermeiras, guardas e outros pacientes com a força de sua própria insanidade. Os últimos que permaneciam vivos eram os três homens na sala de vigilância. Eles mantinham-se em total silêncio, mas sabiam que o louco iria atrás deles. O homem armado permanecia à frente dos outros não tão seguro quanto gostaria de estar.

— Ele está chegando! Eu estou ouvindo ele! Se prepara para atirar!

— Aceitem! Aceitem! — O insano esmurrava a porta metálica.

— O que vamos fazer? O que vamos fazer? — O chefe gritou desesperado ao ver a dobradiça se partir brutalmente.

— Atira nele, cara! Vamos!

Assim o vigilante o fez. Desperdiçou cinco balas, pois a porta era muito grossa para que fosse perfurada e como combo deixou todos na sala desorientados pelo som abastardo da arma. Nessa hora, o louco venceu as dobradiças e lançou a porta à dentro. Suas mãos em frangalhos denunciaram que aquela atitude não lhe custou pouco, mas, ainda assim ele permanecia sério ainda a repetir as mesmas frases.

— Aceitem! Aceitem!

O vigilante armado, ainda desorientado, levantou sua mão mirando tremulamente para o seu alvo insano. O louco avançou, mas tamanha era seu desequilíbrio que errou. Atingiu o ombro. Esse erro lhe custou a vida. Como se um inseto lhe tivesse picado, o louco ignorou o projétil em seu ombro e avançou em direção ao seu atacante. Desferiu-lhe um violento chute lançando seus globos oculares metros à frente.

— Aceitem!

— Nos deixe em paz! — O chefe lançou uma caneca de porcelana.

— Aceitem! Aceitem!

O objeto espatifou-se na face do louco e o mesmo repetiu a frase outra vez. Era como se ele não sentisse dor. Por fim, o antigo Reverendo Mathias eliminou todos os presentes no sanatório. Ao findar do massacre, escreveu nas paredes do local com seu sangue e o de suas vítimas:

“Aceitem o inferno que existe em cada um de vocês. O destino nos fez dessa forma. Não lutem para sobreviver. Aceitem. Aceitem.”

❖❖❖
Notas de Rodapé

Dos textos do TM esse me deu mais trabalho e gastou mais tempo. Isso pq eu queria que fechasse com chave de ouro esse desafio fodástico. <3

Apreciadores (6)
Comentários (6)
Postado 22/05/17 02:31

Esta obra me remeteu a uma antiga história de Constantine em que mostra Lúcifer se confessando pela primeira vez em sua existência para um padre dentro de uma pequena paróquia. Após ouvir o relato de Satã, o padre saiu do confessionário totalmente ensandecido e... Bem, digamos que as coisas ficaram bem interessantes a partir dali.

A crença é algo poderoso. E quando uma pessoa tem sua fé destroçada ou ela desaba ou se fortalece de um modo até então inédito. Mas, que qualidade excepcional de inferno se formou dentro deste maldito reverendo? E quantas almas mais ele teria que consumir para que enfim seu ardor se abrandasse? Jamais saberemos, creio eu.

Uma obra muito bem descrita, narrada e com um quê reflexivo excelso e mórbido como sempre podemos contar quando a autora é a Srta Joy! Bravíssimo! Bravíssimo!

Boa ventura no TM!

Atenciosamente,

Um ser reverenciando a autora, Diablair

Postado 29/08/17 07:17

Eita, até acabeie squecendo de responder seu review... Sorry... Se perdeu nos milhões de alertas que eu tinha kkk.

Enfim, obg por ter lido e comentado! <3

Postado 29/08/17 10:59

Nada que um cascudo nessa sua mente brilhante não resolva, Srta Joy.

Postado 26/05/17 09:01

O texto tá bacana. Só achei o começo meio enrolado e o fim muito de supetão.

E, pra finalizar, "mesmo" não conjuga verbo.

Postado 26/05/17 09:18 Editado 26/05/17 09:19

É o que acontece quando a gente escreve num tempo determinado. Vou editar quando puder :P

Valeu!

Postado 27/07/17 22:18

Hello Joy!

A quanto tempo...

Acabo de voltar ao site e o primeiro texto que leio é essa maravilha!!! *-*

Realmente incrível, incrível e assustador... Acho que a insanidade é uma das coisas mais hediondas do ser humano...

Eu estava com muita saudade dos seus textos! <3

Um grande abraço!!!

Postado 31/07/17 09:37

Fazia um bom tempo mesmo ><

Obg por ter lido meus textinhos >< <3

Postado 28/08/17 17:34

TEXTO FODA! Nem sei o que comentar, porque achei fantástico. Meus parabéns, Joy!

Beijos da Tortura.

Postado 29/08/17 07:15

Muito obg por ter lido <3

Postado 29/08/17 22:33

Aceitem! Vocês têm que aceitar! Esse texto da Joy é muito maravilhoso! Aceitem!

#corre

Você escolheu uma forma bem forte para terminar o TM e deu muito certo. Empatou com a 6 de janeiro e só não levou por causa do critério desempate. Foi uma "briga" e tanto e com razão.

Mesmo sendo um texto escrito para cumprir um prazo, você foi maravilhosamente bem e conseguiu transmitir a mensagem, a essência do texto muito bem!

Parabéns!

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Postado 30/11/17 22:50

Guriaaaaaaa, tu é um arraso. Quer ser meu crush? Vemk sua linda <3

Muito bem escrito, como sempre. Qualidade maravilhosa assim como sua beleza, mina! <3

#ad01 - 75/90

Postado 03/12/17 22:03

Achei que já fosse :c

Postado 07/12/17 21:10

É que eu crusho ao quadradro (no teu caso, ao cubo)