És de uma prepotência imensurável,
Achas-te tão melhor diante de tuas cifras,
Comemora dia a dia teus ganhos,
Vê na palavra ‘geração’ um título só teu,
Credes que és como pessoa o que consomes,
O que guarda e engorda teus cofres,
Teu lixo poderia ser luxo para outros,
Do teu luxo os outros não se lixam,
E enquanto vede nas marcas um sinônimo de poder,
Ser e superior estar aos demais,
Rimos demasiadamente de teu consumo a esmo,
Rimos de teu afago pelo material,
Até o momento no qual nos entristecemos
E choramos pela natureza que se esvai
Nas mãos de tuas e dos demais
Que dilacerando o ambiente,
Rides e mentis em nossas caras
Dizendo que o trabalho nos dignifica,
Que só produzis bens necessários,
Enquanto nossa saúde vai rio abaixo
Com os dejetos e restos da matéria-prima,
Gozas, em tua moradia, da comida farta
E da mais cara bebida.
Vives pelos teus bens materiais
Que no suor dos outros,
Lágrimas e dores no torso,
Alimentam-te de bem grado,
Pois iludes a esses com a mesma mordomia,
Somos escravos do sonho de, um dia,
Após muito trabalho realizado
Sermos a vossa excelência,
Sermos também o dono do material
Que maltrata e dilacera o próprio povo
E ao ambiente faz mal,
Pois, no fundo, somos todos iludidos
De que todo trabalho sofrido,
Hei de providenciar o que o nascimento não deu,
Uma vida farta e calma
Com o sofrimento do outro, não o teu.