Despertou tranquila sabendo que nada poderia ter acontecido com ela e com qualquer um que amava enquanto dormia. Jogou o cobertor para o lado à sua esquerda e longe dela, se sentou na ponta da cama e coçou a testa cheia de cravos mais escuros que a sua própria pele, pensou em preparar algo para comer. Esqueceu-se de pôr os chinelos quando saiu do quarto para então descer as escadas. Escorregou rápido a mão pelo corrimão para em seguida, no meio da escada, paralisar-se inesperadamente devido ao que viu deitado sobre o sofá vermelho, inacreditavelmente mais estático que ela.
A porta abriu devagar sem nenhum ruído junto, apenas cochichos descarados de quem vinha entrando atrás: eram dois adolescentes grudados um ao outro trocando beijos em todas as partes não cobertas pelas vestes, do rosto descia ao pescoço que deste descia à barriga que descia mais pra baixo. A garota usava uma saía curta e provocante, e o garoto, quando entrou pra dentro de casa, largou a acompanhante e deixou a luz da lua cobrir suas costas de branco quando despiu-se da camiseta, foi quando trancou a porta que as costas voltaram à cor negra e os arranhões de unhas femininas tornaram-se visíveis para quem narrava o que acontecia. O garoto agarrou a garota de novo e a empurrou com beijos à sala, onde ela tomou o controle e o impulsionou ao sofá, “Que merda é essa!?”, ele gritou, não tão alto, com um pulo de onde nem chegou a sentar direito, sobre o sofá branco estava deitada uma mulher. “Merda”, a garota susurrou, “É a minha mãe, só não sei por que ela dormiu aí”, a mãe continuou desacordada, “Ela sempre se deita assim?”, o rapaz perguntou, “Assim como?”, “Assim, com as costas curvadas para cima e a barriga empinada, como estivesse com uma pedra nas costas, parece desconforável, eu não dormiria assim”, ela observou a mãe deitada novamente, “Deve ser coisa de sonâmbulo”, respondeu, “Sua mãe é sonâmbula?”, “Esqueça disso, vamos ao meu quarto mesmo”, disse ela com um sorriso excitante que deixou escapar a língua, impedindo o garoto de fazer qualquer coisa e o puxando pela mão até longe do sofá. Eles voltaram aos beijos. Sorte que ela dormia no andar de baixo, porque se não os dois fariam muito barulho subindo a escada com toda aquela agarração entre eles. A garota pôs o namorado sentado na ponta da cama, fechou a porta e abriu uma fresta na veneziana para a luz da lua iluminar um pouco o quarto, também deixando uma brisa fria e cheirosa da noite entrar. “Vou me trocar no banheiro”, disse ela. Quando ele ouviu a tranca do banheiro, o garoto observou os brincos, anéis e bijuterias pendurados em ganchos presos a parede branca do quarto e se levantou vagarosamente e roubou um par de brincos a ateou no bolso, nisso, a porta do quarto abriu devagar e sem nenhum ruído. A silhueta da mãe, que antes estava deitada inconsciente, estava de pé em frente à porta já inteiramente aberta, em silêncio e coberta pelo escuro daquela casa, com algo irreconhecível na sua mão direita a este ponto. O garoto ficou horrorizado com o susto e engatinhou de ré até o fundo da cama, encostando-se na parede, ele não conseguiu falar de tanto medo. A mãe adiantou-se até a ponta da cama e foi iluminada pelo rastro de luz que passava pela fresta da janela, mostrando os olhos fechados. “S-e-n-h-o-r-a”, o garoto gaguejou trêmulo do fundo da cama. A mãe levantou o braço direito e o rapaz percebeu o tamanho rudemente maior que o do esquerdo, e logo percebeu que a mulher erguia um facão terrivelmente pontiagudo branco pela luz na ponta. Na vez que a mãe subiu na cama com um só pulo, o garoto libertou-se e gritou pela namorada, que desesperadamente bateu a porta do banheiro com a parede ao abri-la, ela usava um lingerie branco, a qual combinou com o resto do quarto e com a ponta do facão. “MÃE?!”, a garota gritou sem entender nada ao enxergar o facão tocando o teto do quarto, “O que está fazendo?!”, “Ele rouba nossas coisas, eu tenho que fazer alguma coisa.”, a mãe respondeu, ainda com os olhos fechados. “O que? Largue isso, você não está raciocinando direito, está sonâmbula”, “Nada disso”, respondeu calma, “Toda vez que esse sujeito aparece, algo desaparece, vou resolver isso agora.”, disse, dando mais alguns passos na direção do garoto que tornou-se pálido depois de tudo. Quando ela despencou o braço com o facão no precipício que terminava no rosto do garoto, sua filha se intrometeu na frente, e a ponta do facão foi do branco ao preto.
A sonâmbula não viu sua a sua filha agonizando de dor, só ouviu.
A mãe deitou o corpo seminu da filha no sofá branco e foi se deitar tranquila.